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Rússia anuncia retirada de algumas tropas da fronteira com a Ucrânia

Kremlin confirmou o início da retirada das tropas estacionadas na fronteira com a Ucrânia, ressaltando que é algo "normal" e denunciando, mais uma vez, a "histeria" ocidental diante de uma suposta invasão do país vizinho

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AFP

Publicado em 15/02/2022 às 9:53 | Atualizado em 15/02/2022 às 15:36
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A Rússia anunciou nesta terça-feira (15) que algumas unidades militares posicionadas na fronteira com a Ucrânia, cuja presença provocava o temor de uma operação militar iminente no país vizinho, começaram a retornar aos quartéis.

"As unidades dos distritos militares Sul e Oeste, que já concluíram suas tarefas, começaram a carregar equipamentos para o transporte ferroviário e rodoviário e começarão hoje o retorno para seus quartéis", afirmou o porta-voz do ministério da Defesa, Igor Konashenkov, citado por agências de notícias russas.

O Kremlin confirmou o início da retirada das tropas estacionadas na fronteira com a Ucrânia, ressaltando que é algo "normal" e denunciando, mais uma vez, a "histeria" ocidental diante de uma suposta invasão do país vizinho.

"Sempre dissemos que depois das manobras (...) as tropas voltarão para seus quartéis de origem. E é isso que está acontecendo agora. É o procedimento habitual", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

O anúncio, o primeiro sinal de distensão por parte de Moscou, foi vago e não é possível saber o número de soldados que afeta. A Rússia mobilizou mais de 100.000 militares na fronteira com a Ucrânia desde dezembro.

Ao mesmo tempo, a Rússia mantém as manobras militares em Belarus, país vizinho da Ucrânia, que devem prosseguir até 20 de fevereiro.

A retirada de algumas tropas foi recebida com entusiasmo na Ucrânia, onde o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, afirmou que seu país, ao lado dos aliados ocidentais, "conseguiu impedir uma nova escalada russa".

Já estamos em meados de fevereiro e vemos que a diplomacia continua funcionando", disse Kuleba.

Mas o ministro destacou que a tensão permanece ao longo da fronteira e que a Rússia deve retirar as tropas restantes.

"Temos uma regra: não acredite no que você ouve, acredite no que você vê. Quando observarmos uma retirada, vamos acreditar na desescalada", disse.

O anúncio russo coincide com a visita a Moscou do chanceler alemão Olaf Scholz, que tenta avançar com as negociações diplomáticas e afastar o fantasma de uma invasão e uma guerra no leste da Europa.

A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, pediu à Rússia que retire suas tropas da fronteira. "A situação é particularmente perigosa e pode ficar mais grave a qualquer momento", alertou em um comunicado

Na segunda-feira, a Rússia já havia apresentado um pequeno sinal positivo quando o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, destacou uma "possibilidade de solucionar os problemas" pela via diplomática.

O caminho do diálogo "não se esgotou, mas tampouco pode durar de modo indefinido", acrescentou Lavrov, com um tom mais pausado e diferente das declarações ofensivas dos dias anteriores. O ministro também considerou "construtivas" algumas propostas dos Estados Unidos.

Em Washington, as autoridades alertaram que a invasão russa poderia acontecer "a qualquer momento".

A embaixada americana em Kiev foi transferida para Lviv, oeste do país, na segunda-feira, ignorando os apelos do presidente ucraniano Volodymyr Zelenski, que pediu aos governos que não se deixem levar pelo pânico.

Alguns meios de comunicação indicaram que a suposta invasão russa da Ucrânia poderia começar na quarta-feira. Mais uma vez, Zelensky abordou as especulações com uma dose de sarcasmo.

"Nos disseram que 16 de fevereiro seria o dia do ataque. Vamos transformá-lo em um dia de unidade", disse, antes de pedir aos ucranianos que exibam a bandeira nacional na data.

A ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, disse nesta terça-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, ainda tem tempo para evitar uma guerra, mas enfatizou que o prazo é "limitado".

"Podemos estar à beira de uma guerra na Europa que teria graves consequências, não apenas para as populações da Rússia e da Ucrânia, mas de uma forma mais geral para a segurança da Europa", declarou a chefe diplomacia britânica ao canal Sky News.

A Rússia, que anexou a península da Crimeia em 2014 e apoia desde então os separatistas pró-Moscou que lutam no leste da Ucrânia, nega qualquer intenção bélica.

O país afirma que sente estar ameaçado pela expansão da Otan para o leste da Europa e exige "garantias de segurança" como um compromisso para que a Ucrânia nunca entre para a aliança militar.

Nesta terça-feira, o Parlamento russo pediu ao presidente Putin que reconheça a independência das regiões separatistas da Ucrânia.

O presidente da Câmara Baixa do Parlamento (Duma), Vyacheslav Volodin, escreveu nas redes sociais que os legisladores decidiram pedir a Putin que reconheça a "República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk", duas regiões separatistas do leste da Ucrânia como "Estados soberanos e independentes".

Sob risco de irritar o Kremlin, o presidente ucraniano reiterou na segunda-feira que Kiev deseja entrar para a Otan para "garantir sua segurança".

A possível adesão ainda não está na agenda da aliança nem há um calendário previsto para examinar a questão, mas os ocidentais consideraram as exigências russas inaceitáveis. Porém, apresentaram a proposta de diálogo sobre outras questões, como a limitação de armas.

Na expectativa de eventuais progressos na frente diplomática, no sudeste da Ucrânia, perto da linha de frente com os separatistas, a população se prepara com a perspectiva de um ataque.

"Cavamos trincheiras nas quais os soldados ucranianos poderão pular e se defender com mais facilidade", declarou à AFP Mikhailo Anopa, adolescente de 15 anos, com um uniforme de camuflagem emprestado.

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