TENSÃO

Putin manda tropas para Donetsk e Luhansk, na Ucrânia, após reconhecê-las como regiões independentes

De acordo com dois decretos assinados pelo líder russo, os militares irão "garantir a paz" nos territórios até a assinatura de acordos de Amizade, Cooperação e Ajuda Mútua entre Donetsk e Lugansk e Moscou

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AFP

Publicado em 21/02/2022 às 19:43 | Atualizado em 21/02/2022 às 21:29
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Atualizada às 21h29

O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou nesta segunda-feira (21) que seu exército entre nos territórios separatistas no leste da Ucrânia após ter reconhecido sua independência, desafiando as ameaças de sanções do Ocidente em um movimento que pode desencadear uma guerra.

Dois decretos do presidente pedem ao Ministério da Defesa que "as forças armadas da Rússia (assumam) funções de manutenção da paz no território" das "repúblicas populares" de Donetsk e Lugansk.

Nenhum cronograma de destacamento ou sua magnitude foram anunciados nos documentos, cada um com uma página, que foram publicados no site do banco de dados russo de textos jurídicos.

A Rússia está mobilizando há duas semanas dezenas de milhares de soldados nas fronteiras com a Ucrânia que, segundo os países ocidentais, estão prontos para invadir o país vizinho.


"Considero necessário tomar esta decisão, que vinha amadurecendo há muito tempo: reconhecer imediatamente a independência da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk", declarou Putin em discurso televisionado.

Putin também exigiu da Ucrânia o fim imediato das "operações militares, caso contrário, toda a responsabilidade de um maior derramamento de sangue recairá sobre a consciência do regime no território ucraniano".

O presidente russo assinou acordos de "amizade e ajuda mútua" com os territórios.

Esta decisão põe fim ao instável processo de paz mediado pela França e a Alemanha, que previa a devolução dos territórios ao controle de Kiev em troca de ampla autonomia para resolver o conflito iniciado em 2014, resultado da anexação russa da Crimeia, e que já causou a morte de mais de 14.000 pessoas.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, respondeu a essas declarações nesta segunda-feira via Twitter anunciando a convocação iminente do Conselho de Segurança e Defesa Nacional e disse que discutiu o assunto com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Kiev também exigiu uma reunião "imediata" do Conselho de Segurança da ONU diante da ameaça de uma invasão russa.

"Violação clara"

O chanceler alemão, Olaf Scholz, Biden e o presidente francês, Emmanuel Macron, disseram que a decisão do presidente russo "não ficará sem resposta", segundo o porta-voz do governo alemão.

Os três líderes "concordam que este movimento unilateral da Rússia constitui uma clara violação" dos acordos de paz de Minsk para resolver o conflito ucraniano, afirmou a chancelaria alemã em comunicado divulgado após uma reunião entre os mandatários.

Macron pediu "sanções europeias seletivas" contra Moscou, de acordo com um comunicado do Eliseu, que garantiu que a UE tomará medidas contra entidades e indivíduos russos.

Na mesma linha, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, afirmou no final de uma reunião de chanceleres em Bruxelas que vai colocar "o pacote de sanções na mesa dos ministros europeus".

O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, também condenou uma decisão que "socava ainda mais a soberania e a integridade territorial da Ucrânia", enquanto o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, denunciou "uma violação flagrante da soberania" da Ucrânia.

Mais cedo, a ONU pediu a "todas as partes interessadas que se abstenham de qualquer decisão ou ação unilateral que possa minar a integridade territorial da Ucrânia", segundo seu porta-voz, Stephane Dujarric.

Cúpula Lavrov-Blinken na quinta-feira

A decisão de Putin foi o clímax de um dia de escalada permanente das tensões, quando a Rússia anunciou à tarde que suas forças de segurança eliminaram dois grupos de sabotadores ucranianos que se infiltraram em seu território e acusou a Ucrânia de ter bombardeado um posto de fronteira, declarações negadas por Kiev.

Moscou nega ter planos de invadir a Ucrânia, mas exige garantias de que essa ex-república soviética jamais se juntará à Otan e o fim da expansão dessa aliança para suas fronteiras. Suas demandas até agora foram rejeitadas pelo Ocidente.

A Casa Branca considera que a invasão da Ucrânia é iminente e acusa a Rússia de tentar "esmagar" o povo ucraniano.

Apesar da fragilidade do diálogo entre Moscou e Washington, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse que se reunirá com seu colega americano, Antony Blinken, na quinta-feira.

"É a guerra, a verdadeira"

Os observadores da OSCE registraram em 48 horas mais de 3.200 novas violações do cessar-fogo em vigor no leste da Ucrânia, segundo um comunicado publicado nesta segunda-feira à noite.

Os separatistas informaram a morte de três civis nas últimas 24 horas, assim como a explosão de um depósito de munições na região de Novoazovsk, sobre o qual acusaram "sabotadores ucranianos".

Não foi possível verificar essas informações de forma independente.

"É a guerra, a verdadeira", disse Tatiana Nikulina, de 64 anos, que está entre os evacuados da região de Donetsk para a cidade russa de Taganrog.

As autoridades das duas "repúblicas" pró-Rússia" ordenaram a mobilização dos homens em condições de combater e a transferência de civis para a Rússia. Moscou informou nesta segunda-feira que 61.000 pessoas deixaram a região.

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