POSSIBILIDADES

A Rússia está invadindo a Ucrânia?

O reconhecimento de regiões separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia e a possível mobilização de tropas russas na região apresenta um novo desafio: prever se o presidente Vladimir Putin planeja uma incursão ainda maior e iminente na ex-república soviética

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AFP

Publicado em 22/02/2022 às 19:33 | Atualizado em 22/02/2022 às 21:22
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O reconhecimento por parte de Moscou das regiões separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia e a possível mobilização de tropas russas na região apresenta um novo desafio: prever se o presidente Vladimir Putin planeja uma incursão ainda maior e iminente na ex-república soviética.

A avaliação da estratégia de Putin divide os especialistas. Há os que veem uma invasão maciça como um cenário possível e os que estimam que o Kremlin busca manter certo 'status quo', ao menos por ora.

Na noite desta segunda-feira, Putin deu uma aula de revisionismo histórico, apresentando a Ucrânia como um país artificial e indissociável da Rússia. Instou a Ucrânia a interromper imediatamente "suas operações militares" contra os separatistas e ameaçou responsabilizá-la "pelo incessante derramamento de sangue".

O Senado russo, por sua vez, autorizou Putin nesta terça-feira (22) a enviar tropas ao leste pró-Rússia da Ucrânia, mas o chefe do Kremlin afirmou que apenas tomará essa decisão em função da situação "no terreno"

Confira os diferentes cenários do que a Rússia poderia fazer na Ucrânia:

Invasão maciça 

Washington e Londres vêm advertindo há várias semanas para a existência de indícios claros de que Putin estaria prestes a ordenar a invasão da Ucrânia, incluindo a ocupação da capital, Kiev.

"Tudo indica que a Rússia continua planejando um ataque em larga escala contra a Ucrânia", afirmou nesta terça o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

Os Estados Unidos retiraram seus diplomatas da Ucrânia e consideraram como o "início de uma invasão" a decisão de Putin de reconhecer a independência das regiões pró-Rússia.

Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que as manobras anunciadas pelo Kremlin serviriam de "pretexto para lançar uma ofensiva de grande envergadura".

Nas últimas semanas, a Rússia posicionou cerca de 150.000 efetivos em torno da fronteira com a Ucrânia.

Para muitos especialistas, esta manobra não teria como único objetivo apoiar o reconhecimento das regiões de Donetsk e Lugansk, que já estão sob controle dos separatistas.

"Trata-se de um primeiro passo do que, sem sombra de dúvida, será uma operação militar em larga escala para impor uma mudança de regime", opina Michael Kofman, diretor-especialista sobre a Rússia do Centro de Análise Naval dos Estados Unidos.

Incursão rumo ao sul

Apesar de a Rússia considerar muito arriscado, política e militarmente, uma tentativa de tomar a capital, Kiev, Moscou pode optar por uma incursão mais limitada em território ucraniano.

As Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk (DNR e LNR) não controlam em seu conjunto as regiões administrativas assim denominadas, mas reivindicam jurisdição sobre elas.

SABRINA BLANCHARD, MARIA-CECILIA REZENDE, PATRICIO ARANA, ENRIC BONET-TORRA / AFP
. - SABRINA BLANCHARD, MARIA-CECILIA REZENDE, PATRICIO ARANA, ENRIC BONET-TORRA / AFP

Moscou poderia mobilizar suas tropas com o objetivo de expulsar o governo ucraniano da totalidade dessas regiões, dado que o Kremlin não detalhou quais fronteiras geográficas reconhece para as províncias separatistas.

A Rússia também poderia cair na tentação de mover seus peões rumo ao sul, até a cidade de Mariupol, com a finalidade de estabelecer uma conexão territorial com a península da Crimeia, no Mar Negro, anexada por Moscou em 2014, mas ligada à Rússia apenas por uma ponte.

Novo 'status quo'

Os meios oficiais russos apresentam o reconhecimento de ambas as regiões ucranianas como uma vitória de Moscou.

Nesse sentido, alguns especialistas avaliam que Putin dificilmente irá mais longe, pois a Rússia seria severamente afetada por novas sanções, como a que a Alemanha acaba de adotar, ao deixar em suspenso o projeto do gasoduto "Nord-Stream 2", crucial tanto para Berlim como para Moscou.

"Rússia-Ucrânia: não é uma guerra maior. De fato, neste momento, trata-se de uma estabilização da linha de frente", disse Dmitri Trenin, diretor do Centro Carnegie na capital russa.

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