CONFLITO

Rússia x Ucrânia hoje: novas explosões são ouvidas em Kiev, que está sob cerco das tropas russas

O presidente russo parece determinado a continuar sua ofensiva e a conseguir uma mudança de regime na Ucrânia

Imagem do autor
Cadastrado por

AFP

Publicado em 25/02/2022 às 16:11 | Atualizado em 25/02/2022 às 18:07
Notícia
X

Atualizada às 18h04

As forças ucranianas enfrentavam, nesta sexta-feira (25), os soldados russos na capital Kiev, no segundo dia de uma invasão lançada por Vladimir Putin que, ignorando as sanções ocidentais, pediu ao Exército ucraniano que tome o poder. Agora é noite na cidade, e o prefeito informou que ao menos cinco explosões foram ouvidas. Elas parecem ter vindo de uma área perto do centro de distribuição de energia de Kiev.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou que está em Kiev "defendendo" seu país ante o avanço das tropas russas, em um vídeo em que aparece junto de colaboradores em frente ao palácio presidencial.

"Estamos todos aqui, nossos militares estão aqui, os cidadãos, a sociedade, estamos todos aqui, defendendo nossa independência, nosso Estado", proclamou Zelensky, acompanhado, entre outros, de seu primeiro-ministro, seu chefe de gabinete e um assessor próximo.

Um dia após o início ordenado por Putin deste conflito que pode ser o pior na Europa desde 1945 - já com mais de 100.000 pessoas deslocadas -, os europeus anunciaram novas sanções contra a cúpula do poder russo.

O presidente russo parece, no entanto, determinado a continuar sua ofensiva e a conseguir uma mudança de regime na Ucrânia, chamando o governo do presidente Volodimir Zelensky de "drogados e neonazistas".

"Tomem o poder com suas mãos", declarou ele ao Exército ucraniano. "Parece-me que será mais fácil negociar entre vocês e eu", acrescentou.

Pouco antes, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, havia pedido uma rendição. "Estamos prontos para negociações assim que as Forças Armadas ucranianas ouvirem nosso chamado e depuserem as armas", afirmou em Moscou.

O porta-voz do Kremlin também ressaltou que Putin está pronto para enviar uma delegação a Minsk, em Belarus, "para negociações com uma delegação ucraniana".

Mas as autoridades ucranianas parecem determinadas a lutar contra o invasor, enquanto as primeiras unidades russas que entraram nos bairros da zona norte de Kiev faziam suas primeiras vítimas.

Kiev, uma cidade-fantasma

No bairro residencial de Oblon, a AFP viu um civil morto em uma calçada, enquanto paramédicos resgatavam outro, preso em um carro esmagado por um veículo blindado.

Daniel Leal/AFP
Caminhões normalmente utilizados para limpar ruas da cidade quando neva são estacionados em estrada que leva para Kiev - Daniel Leal/AFP
Sergei Supinsky/AFP
Símbolo "Eu amo a Ucrânia" em Kiev - Sergei Supinsky/AFP
Sergei Supinsky/AFP
Mulher corre ao ouvir soar de sirenes no centro de Kiev - Sergei Supinsky/AFP
Daniel Leal/AFP
Carro é destruído no norte de Kiev após colisão com veículo armado russo - Daniel Leal/AFP
Daniel LEAL/AFP
Homem anda em rua deserta no centro de Kiev, na Ucrânia - Daniel LEAL/AFP

Moradores disseram ter visto dois corpos que pareciam ser de soldados russos mortos, mas a AFP não pôde confirmar essa informação.

As forças ucranianas também relataram combates contra unidades blindadas russas em dois locais entre 40 e 80 km ao norte de Kiev.

As tropas russas também se aproximam da capital pelo nordeste e leste, de acordo com os militares ucranianos.

Depois que muitos moradores fugiram na quinta-feira, o centro de Kiev, uma metrópole de cerca de três milhões de habitantes e agora sob toque de recolher, parece uma cidade-fantasma.

Homens armados e blindados montavam guarda nas principais artérias próximas aos prédios do governo.

Poucos transeuntes paravam para conversar, enquanto sirenes e explosões soavam em um céu nublado.

"Ontem à noite eles começaram a bombardear bairros civis. Isso nos lembra (a ofensiva nazista) de 1941", disse Zelensky esta manhã, falando a frase em russo.

Ele elogiou o "heroísmo" da população diante de uma invasão que, segundo ele, deixou pelo menos 137 mortos e 316 feridos do lado ucraniano, garantindo que seus soldados estavam fazendo "o possível" para defender o país.

O Ministério ucraniano da Defesa pediu aos civis em Kiev "que nos informem sobre os movimentos inimigos: façam coquetéis molotov, neutralizem o ocupante!".

As autoridades russas não deram qualquer indicação das perdas sofridas.

"Guerra total"

Zelensky criticou os europeus por serem muito lentos em apoiar a Ucrânia. Ele convocou aqueles com "experiência de combate" para irem lutar no lado ucraniano.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, cujo país é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), também criticou a UE e a Aliança Atlântica por sua inação.

"A guerra é total", disse o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, considerando "preocupante o futuro", em particular da Moldávia e da Geórgia, duas outras ex-repúblicas soviéticas com territórios separatistas.

A Aliança Atlântica, cujos líderes se reuniram por videoconferência nesta sexta-feira, reiterou nos últimos dias que não enviará tropas para a Ucrânia.

Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertou que nenhuma "polegada de território da OTAN" será cedida. O Pentágono enviará mais 7.000 soldados para a Alemanha.

Novas sanções à Rússia

Por enquanto, o campo ocidental está concentrado em endurecer as sanções contra a Rússia, restringindo o acesso aos mercados financeiros internacionais para suas principais instituições e seu acesso à tecnologia.

Biden prometeu fazer de Putin "um pária no cenário internacional".

"Os líderes russos enfrentarão um isolamento sem precedentes", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Os 27 não foram tão longe, porém, a ponto de excluir a Rússia do sistema bancário internacional Swift, como Kiev exige.

Zelensky exortou os europeus a fazerem mais.

"Cancelar vistos para russos? Desconexão do Swift? Isolamento total da Rússia? Expulsão de embaixadores? Embargo ao petróleo? Hoje, tudo deveria estar sobre a mesa", disse ele.

Pouco depois, Paris e Berlim anunciaram um novo conjunto de sanções europeias, visando aos "líderes russos mais importantes", incluindo Putin e Lavrov.

A França também ressaltou que é a favor da exclusão russa do sistema Swift, possivelmente anunciando uma revisão da decisão de quinta-feira.

No âmbito econômico, depois da alta acentuada de ontem, os preços das commodities permaneciam elevados, com o barril de petróleo Brent acima de US$ 100, embora o WTI tenha retornado para cerca de US$ 95.

Rússia e Ucrânia são os principais exportadores de petróleo, gás, trigo e outras matérias-primas.

Nesse contexto, as principais bolsas mundiais se recuperavam, após a queda de quinta-feira, em um mercado ainda volátil.

Afluxo de refugiados

A invasão russa lançou nas estradas milhares de ucranianos, que chegavam às centenas às fronteiras da UE - em particular à Polônia, Hungria e Romênia.

Cerca de 100.000 pessoas já fugiram de suas casas na Ucrânia, e milhares deixaram o país, segundo o Alto Comissariado da Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

A UE disse estar "totalmente preparada" para recebê-los. Uma reunião dos ministros do Interior do bloco está marcada para este fim de semana para discutir o "impacto humanitário e de segurança" da crise e "medidas de retaliação", segundo uma autoridade francesa.

Centenas de refugiados já chegaram à Polônia. Quase 200 pessoas passaram a noite na estação polonesa de Przemysl (sudeste), transformada em abrigo.

Entre eles, está Konstantin, que não sabe quando, ou mesmo se voltará para a Ucrânia: "O problema na Ucrânia é enorme e provavelmente levará meses, talvez anos para resolvê-lo".

A ofensiva russa começou na madrugada de quinta-feira, depois que Vladimir Putin reconheceu, na segunda-feira, a independência dos territórios separatistas ucranianos no Donbas.

Para justificar a invasão, reiterou suas acusações de "genocídio" orquestrado por Kiev nas "repúblicas" separatistas pró-russas desta região, citou um pedido de ajuda dos separatistas e denunciou a política "agressiva" da OTAN.

Mais de 150.000 soldados russos já estavam, no entanto, concentrados há meses nas fronteiras ucranianas.

Estados Unidos e Albânia pediram uma votação no Conselho de Segurança da ONU nesta sexta, às 20h GMT (17h de Brasília) sobre um projeto de resolução condenando a invasão e pedindo à Rússia que retire suas tropas imediatamente.

A resolução está condenada ao fracasso, tendo Moscou direito de veto no Conselho de Segurança.

O presidente chinês, Xi Jinping, com relações estreitas com Putin, conversou com ele por telefone.

A China, que tem poder de veto, "apoia a Rússia na resolução (do conflito) por meio de negociações com a Ucrânia", informou a emissora estatal chinesa CCTV.

Tags

Autor