INVASÃO RUSSA

Novas explosões são ouvidas em Kiev, capital da Ucrânia

As forças ucranianas afirmaram ter repelido um "ataque" de tropas russas a uma de suas posições na Avenida da Vitória, uma das principais artérias da cidade

Imagem do autor
Cadastrado por

AFP

Publicado em 26/02/2022 às 0:05 | Atualizado em 26/02/2022 às 0:45
Notícia
X

No centro de Kiev, capital da Ucrânia, jornalistas da AFP ouviram fortes explosões durante a madrugada deste sábado (26). As forças ucranianas afirmaram ter repelido um ataque de tropas da Rússia a uma de suas posições na Avenida da Vitória, uma das principais artérias da cidade.

"O ataque foi repelido", afirmou o exército ucraniano em uma mensagem em sua conta no Facebook, sem dar mais detalhes sobre o local exato dos combates.

Junto com a mensagem, o exército publicou uma fotografia de uma grande coluna de fumaça subindo no meio de uma área urbana em plena noite.

 

Em outro comunicado, o exército também relatou "combates pesados" em andamento em Vasilkov, cerca de trinta quilômetros a sudoeste de Kiev, onde os russos "tentam lançar paraquedistas".

O exército ucraniano havia relatado anteriormente a destruição de um avião de transporte militar IL-76 naquela área.

Zelensky pede defesa da capital

Mais cedo, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, tinha convocado seus compatriotas a defender a capital.

"Não podemos perder a capital. Falo com nossos defensores, homens e mulheres em todas as frentes: o inimigo vai usar todas as suas forças para romper nossas defesas da maneira mais vil, dura e desumana. Vão tentar um ataque", afirmou Zelensky em um vídeo postado no site presidencial.

Segundo o jornal norte-americano The Washington Post, os Estados Unidos estão preparados para retirar Zelensky de Kiev, mas, até o momento, o presidente recusa a ajuda.

A ofensiva russa já provocou a fuga de mais de 50.000 ucranianos do país, assim como 100.000 deslocados internos - segundo a ONU - e mais de 100 mortos, de acordo com Kiev.

DANIEL LEAL/AFP
Pessoas, algumas carregando malas, caminham em uma estação de metrô em Kiev, no dia 24 de fevereiro - DANIEL LEAL/AFP
Attila Kisbenedek/AFP
Famílias ucranianas que fogem do conflito em seu país são vistas andando com suas bagagens depois de cruzar a fronteira húngara-ucraniana perto de Beregsurany, Hungria - Attila Kisbenedek/AFP
PETER LAZAR/AFP
Mulheres e crianças ucranianas são vistas depois de cruzar a fronteira eslovaca-ucraniana para deixar a Ucrânia em Ubla, leste da Eslováquia - PETER LAZAR/AFP
DANIEL LEAL/AFP
Pessoas se reúnem em frente a um prédio residencial bombardeado em Kiev - DANIEL LEAL/AFP
DANIEL LEAL / AFP
Um homem limpa destroços em um prédio residencial danificado na rua Koshytsa, um subúrbio da capital ucraniana Kiev, onde um bombardeio militar supostamente atingiu, em 25 de fevereiro de 2022. As forças russas chegaram aos arredores de Kiev na sexta-feira, quando o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que o tropas invasoras tinham como alvo civis e explosões podiam ser ouvidas na capital sitiada. Explosões antes do amanhecer em Kiev desencadearam um segundo dia de violência depois que o presidente russo, Vladimir Putin, desafiou as advertências ocidentais para desencadear uma invasão terrestre e um ataque aéreo em grande escala na quinta-feira, que rapidamente custou dezenas de vidas e deslocou pelo menos 100.000 pessoas. - DANIEL LEAL / AFP
SERGEI SUPINSKY / AFP
Tanque passou por cima de carro de civil em Kiev - SERGEI SUPINSKY / AFP
DANIEL LEAL / AFP
Prédio bombardeado em Kiev - DANIEL LEAL / AFP
Daniel Leal/AFP
Exército ucraniano recolhe corpo de homem que foi baleado quando veículo russo passou por ele - Daniel Leal/AFP
Daniel Leal/AFP
Exército ucraniano recolhe corpo de homem que foi baleado quando veículo russo passou por ele - Daniel Leal/AFP

Vladimir Putin exortou o exército ucraniano a "tomar o poder" e chamou o governo Zelensky de "gangue de viciados em drogas e neonazistas".

Zelensky respondeu com a divulgação de um vídeo gravado em frente ao palácio presidencial. "Estamos todos aqui, nossos militares estão aqui, os cidadãos, a sociedade, estamos todos aqui, defendendo a nossa independência, o nosso Estado", proclamou, ao lado de seus principais colaboradores.

População convocada

O Ministério da Defesa ucraniano chamou a população a resistir.

"Pedimos aos cidadãos que nos informem dos movimentos de tropas, que fabriquem coquetéis Molotov e neutralizem o inimigo", pediu.

DANIEL LEAL / AFP
Voluntários armados em uma das ruas de Kiev - DANIEL LEAL / AFP

Civis alistados nas brigadas de "defesa do território", identificados com braçadeiras amarelas, são onipresentes em toda a capital. "Eu nunca tinha pegado em armas até hoje. Vamos tentar fazer o melhor que pudermos", disse Roman Bondertsev, no norte de Kiev.

"E se eles me matarem, haverá outras duas pessoas prontas para tomar o meu lugar", acrescentou.

Diplomacia travada

Enquanto isso, os países ocidentais adotaram uma série de sanções contra entidades, empresas e autoridades russas, entre elas Putin, em resposta à invasão.

Zelensky contou que conversou com o presidente americano, Joe Biden, sobre o "reforço das sanções, de uma assistência de defesa concreta e de uma coalizão antiaérea", além de manifestar seu "agradecimento" pelo "forte" apoio americano.

Contudo, a diplomacia segue travada.

No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia vetou uma resolução promovida pelos Estados Unidos e pela Albânia para deplorar a "agressão" contra a Ucrânia.

A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse que as relações entre Moscou e as potências ocidentais estão se aproximando de um "ponto de não retorno".

"Não foi nossa opção. Queríamos o diálogo, mas os anglo-saxões fecharam essas opções uma atrás da outra e começaram a agir de forma diferente", acusou.

Segundo Zakharova, as sanções contra Putin e seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, mostram a "impotência" dos países ocidentais.

Putin disse estar disposto a enviar uma delegação a Minsk, capital de Belarus, para negociar com a Ucrânia.

O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, descreveu esta proposta como uma "diplomacia realizada sob a mira de armas, quando bombas, morteiros e artilharia de Moscou atingem civis ucranianos".

A Otan anunciou que ativará seus planos de defesa para reforçar seu flanco oriental.

A Rússia exige que a Ucrânia abandone sua ambição de aderir à Otan e pede que a aliança militar liderada pelos EUA reduza a sua presença no Leste Europeu.

Sanções em todos os âmbitos

Após a ofensiva, a União Europeia (UE) desbloqueou um pacote de sanções "maciças" nos setores de energia e financeiro.

O próprio Putin e seu chanceler, Sergei Lavrov, foram incluídos hoje na lista de personalidades sancionadas, com ativos congelados, por União Europeia, Reino Unido e Canadá, enquanto os Estados Unidos anunciaram que tomariam medidas semelhantes.

Zelensky pediu ao Ocidente que expulsasse a Rússia do sistema de transferências bancárias Swift, mas alguns países da União Europeia, como Alemanha e Hungria, manifestaram suas dúvidas, pelo temor de que essa medida pudesse provocar problemas na entrega de gás russo.

Outra retaliação veio da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que rejeitou o processo de adesão da Rússia e fechou seu escritório em Moscou.

A resposta à invasão também chegou ao esporte e ao mundo da cultura. A Uefa retirou São Petersburgo como sede da final da Liga dos Campeões, que será disputada agora em Paris. Além disso, a organização da Fórmula 1 cancelou a realização do Grande Prêmio da Rússia, que fazia parte do calendário de 2022 da categoria.

O Eurovision, popular concurso musical disputado por representantes de diferentes países do continente, anunciou que fecharia suas portas a concorrentes do país invasor.

O Papa Francisco, por sua vez, reuniu-se com o embaixador russo no Vaticano para manifestar "sua preocupação". Em um tuíte, publicado em vários idiomas, entre eles o russo, afirmou que "toda guerra é uma rendição vergonhosa".

Corpos nas ruas

Ao amanhecer desta sexta-feira (24), era possível ouvir disparos e explosões no bairro residencial de Oblon, norte de Kiev, provocados pelo que parecia um regimento avançado das forças russas.

Jornalistas da AFP viram um corpo na calçada e ambulâncias socorrendo uma pessoa que teve o carro "atropelado" por um veículo blindado.

Durante o dia, as sirenes e explosões não deixaram de soar em Kiev, cidade que, após a fuga de muitos moradores, apresenta um aspecto fantasmagórico. Veículos blindados e soldados patrulhavam os cruzamentos em torno do distrito onde ficam os edifícios do governo.


Tags

Autor