NEGOCIAÇÃO

Ucrânia concorda em se reunir com Rússia e Putin coloca forças de dissuasão nucleares em alerta

Encontro entre representantes da Rússia e da Ucrânia deve ser realizado na fronteira entre Belarus e Ucrânia (sul de Belarus)

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AFP

Publicado em 27/02/2022 às 12:02 | Atualizado em 27/02/2022 às 19:06
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Atualizada às 14h43
A Ucrânia informou neste domingo (27) que concordou em conversar com a Rússia, no quarto dia da invasão das tropas russas ao país vizinho, enquanto o presidente Vladimir Putin ordenou que os militares colocassem "forças de dissuasão" nucleares em alerta.
O conflito já matou dezenas de civis e obrigou centenas de milhares a fugir, e as sanções contra a Rússia por lançar a ofensiva colocaram Moscou como um pária entre os países ocidentais e seus aliados. Segundo o gabinete de Zelensky, Lukashenko assumiu a responsabilidade de garantir que todos os aviões, helicópteros e mísseis em território belarusso "permaneçam no solo" durante a viagem, as conversas e o retorno da delegação ucraniana.
O gabinete do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, informou que uma delegação de seu país se reunirá com representantes russos na fronteira com Belarus, país de onde Moscou lançou sua ofensiva.
A reunião ocorrerá na região do rio Pripyat, perto da zona de exclusão da usina nuclear de Chernobyl.


"A delegação ucraniana se reunirá com a (delegação) russa sem estabelecer condições prévias", declarou a presidência, após mediação do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko.

Mas o chanceler da Ucrânia, Dmytro Kuleba, alertou que seu país não irá “capitular”. E o presidente mais tarde declarou que tentará negociar, mas com “ceticismo”.

Mais cedo, as forças ucranianas afirmaram que conseguiram repelir o ataque das tropas russas contra Kharkiv, a segunda cidade mais importante da Ucrânia.

Enquanto vários países ocidentais anunciavam envios de ajuda e armas para a Ucrânia e ameaçavam endurecer as sanções contra a Rússia após a invasão, Putin ordenou que o ministro da Defesa e o chefe do Estado-Maior colocassem as forças de dissuasão nucleares do Exército "em alerta", o que Kiev denunciou como uma pressão.

Desde o início da invasão, a Ucrânia relatou 198 mortes de civis, incluindo três crianças. Por sua vez, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos relatou 240 civis feridos e 64 mortos.

Em Kiev, os habitantes resistiram aos bombardeios entre medo, confinamento em abrigos antiaéreos e exaustão. As ruas da cidade estavam vazias, exceto pelos poucos civis que ousavam sair para tentar comprar comida, às vezes sem sucesso.

Bloqueio do espaço aéreo
Apesar da enxurrada de ajuda militar e humanitária para a Ucrânia, e das sanções às quais neste domingo se juntou a proibição de sobrevoar o espaço aéreo dos principais países europeus para aviões e companhias aéreas russas, não está na mesa uma intervenção militar dos países aliados de Kiev.

Neste domingo, o papa Francisco pediu que "as armas sejam silenciadas" e que corredores humanitários sejam abertos na Ucrânia.

Um dia depois de Berlim prometer enviar armamento aos ucranianos, o chefe do governo, Olaf Scholz, anunciou que seu país aumentaria seus gastos militares para "mais de 2%" do seu PIB por ano.

Também alertou a Rússia de que aliados ocidentais podem impor mais sanções, mas disse que continua aberto a negociações com Moscou.

Convite a estrangeiros para lutar
Em Kharkiv, onde vivem cerca de 1,4 milhão de pessoas, um jornalista da AFP relatou pela manhã que houve disparos de metralhadoras, explosões de foguetes e combates nas ruas.

Mas durante a tarde, o governador da cidade, Oleg Sinegubov, informou que as forças ucranianas conseguiram repelir os russos e se mantém no "controle" da cidade.

Por sua vez, Moscou alegou ter cercado "completamente" duas grandes cidades no sul da Ucrânia, Kherson e Berdyansk, perto da península da Crimeia, que foi anexada pela Rússia em 2014.

Porém, apesar das advertências, a Rússia emitiu a ordem para que suas forças avançassem em "todas as direções", mas seus soldados encontraram uma tenaz resistência dos ucranianos.

Neste domingo, o Estado-Maior da Ucrânia disse que as autoridades estão pedindo que qualquer estrangeiro que queira vá ao país e "lutar lado a lado com os ucranianos contra os criminosos de guerra russos".

Onda de refugiados e sanções

Enquanto isso, a Agência da ONU para Refugiados (Acnur) informou que mais de 368 mil pessoas já fugiram da Ucrânia e o fluxo continua a aumentar.

Centenas de pessoas cruzaram o rio Danúbio para chegar em segurança à Romênia. Outros conseguiram chegar à Polônia de trem, de carro e até a pé.

Em resposta à invasão, os países ocidentais e seus aliados anunciaram a exclusão parcial da Rússia do sistema de pagamentos interbancários Swift, fundamental em transações internacionais.

"A Rússia se tornou um pária econômico", declarou um alto funcionário dos Estados Unidos.

Neste domingo, os ministros das Relações Exteriores da UE se reúnem novamente por videoconferência para estudar o apoio à Ucrânia e o Conselho de Segurança da ONU discutirá a situação do país.

A Rússia invadiu a Ucrânia depois de exigir durante semanas que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) vetasse a admissão da Ucrânia e que a aliança não avançasse mais em direção às suas fronteiras.

Putin reconheceu na última segunda-feira a independência de duas regiões separatistas do leste da Ucrânia, onde forças pró-Rússia e o Exército de Kiev se enfrentam desde 2014, em um conflito que deixou mais de 14 mil mortos.

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