Maior usina nuclear da Europa, localizada na Ucrânia, pega fogo após bombardeio russo
"Se explodir, será 10 vezes maior do que Chernobyl! Os russos têm que conter o fogo imediatamente, permitir que os bombeiros estabeleçam um perímetro de segurança", alertou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba
Atualizada à 0h23
Um bombardeio russo atingiu nesta quinta-feira (3) a central nuclear de Zaporizhia, a maior da Europa, localizada no centro da Ucrânia, provocando um incêndio e afetando uma de suas unidades, informou o porta-voz da usina.
"Após um bombardeio das forças russas à central nuclear de Zaporizhia, foi declarado um incêndio", disse Andrei Tuz em um vídeo publicado no perfil da usina no Telegram. "Os bombeiros não podem chegar ao local do incêndio. Os projéteis caem muito perto. A primeira unidade elétrica da central já foi afetada. Pare com isso!", exigiu.
No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu ao Exército russo que controle o fogo imediatamente. "O Exército russo dispara de todos os lados sobre a central nuclear de Zaporizhia, a maior da Europa. Já pegou fogo", tuitou.
"Se explodir, será 10 vezes maior do que Chernobyl! Os russos têm que conter o fogo imediatamente, permitir que os bombeiros estabeleçam um perímetro de segurança", alertou Kuleba.
"Terror nuclear"
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acusou a Rússia de recorrer ao "terror nuclear" e de querer "repetir" a catástrofe de Chernobyl.
"Alertamos o mundo inteiro para o fato de que nenhum outro país, exceto a Rússia, disparou contra usinas nucleares. Esta é a primeira vez em nossa história, a primeira vez na história da humanidade. Este Estado terrorista está agora recorrendo ao terror nuclear", criticou Zelensky em um vídeo divulgado pela presidência ucraniana.
"A Ucrânia tem 15 reatores nucleares. Se houver uma explosão, é o fim de tudo. O fim da Europa. É a evacuação da Europa", acrescentou.
"Só uma ação europeia imediata pode deter as tropas russas. Devemos evitar que a Europa morra de um desastre nuclear", insistiu o presidente ucraniano.
O incêndio afetou um prédio e um laboratório, mas a segurança nuclear da usina está "garantida" por enquanto, disseram as autoridades ucranianas. Inaugurada em 1985, no período da União Soviética, a usina de Zaporizhia possui seis reatores e fornece grande parte da energia do país.
Segundo afirmações do regulador ucraniano à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), os níveis de radiação do local não foram alterados e o fogo não atingiu os equipamentos "essenciais".
Em 24 de fevereiro, os combates já haviam eclodido perto da antiga usina de Chernobyl, cenário da pior catástrofe nuclear da história em 1986, atualmente sob controle russo.
"Centenas de milhares de pessoas sofreram as consequências (de Chernobyl), dezenas de milhares foram evacuadas. A Rússia quer repetir isso e está em processo de repeti-lo", acusou Zelensky.
Corredor humanitário, sem cessar-fogo
Ucrânia e Rússia concordaram em criar corredores humanitários para evacuar civis, sem conseguir definir um cessar-fogo, numa segunda ronda de conversações em Belarus.
"A segunda rodada de negociações acabou. Infelizmente, a Ucrânia ainda não tem os resultados de que precisa. Há apenas decisões sobre a organização de corredores humanitários", disse o assessor presidencial ucraniano, Mikhailo Podolyak, no Twitter.
"Discutimos em detalhe os aspectos humanitários, pois muitas cidades estão atualmente cercadas" pelas forças russas e há uma "situação dramática de alimentos, remédios e possibilidades de evacuação", acrescentou.
O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, assinalou que as conversas se concentraram em temas humanitários, militares e na "futura solução política do conflito".
Um milhão de refugiados fugiram da Ucrânia para países vizinhos desde o início da invasão e milhões de outros ficaram deslocados internamente, informou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi.
Putin diz que invasão avança 'como planejado'
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira (3) que a invasão da Ucrânia avança "como planejado", no oitavo dia de operações - marcado por um bombardeio que deixou 33 mortos e um acordo para a abertura de um "corredor humanitário" para evacuar civis.
Após a queda de Kherson (sul), a primeira grande cidade tomada pelos russos, Putin não demonstrou vontade de atender ao clamor global pelo fim da guerra, nem se mostrou afetado pelo arsenal de sanções ocidentais.
"A operação militar especial está ocorrendo dentro do cronograma, conforme planejado", disse o presidente na abertura de uma reunião do Conselho russo de Segurança, acrescentando que suas tropas estão lutando contra "neonazistas" e que "russos e ucranianos são um só povo".
Em uma conversa anterior com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, Putin prometeu continuar sua ofensiva "sem concessões".
Após esse diálogo, Macron concluiu que "o pior ainda está por vir" no conflito na Ucrânia, informou a Presidência francesa.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu maior apoio das potências ocidentais, alertando que, se seu país for derrotado, a Rússia não hesitará em atacar os países bálticos e o resto da Europa.
Em particular, pediu aos países ocidentais que "fechem o céu" ucraniano para os aviões russos ou entreguem aviões para a Ucrânia.
Até agora, os países ocidentais entregaram armas à Ucrânia, mas concentraram sua resposta em uma bateria de sanções para isolar a Rússia diplomática, econômica, cultural e esportivamente.
O chefe dos serviços de inteligência russos (SVR) acusou os países ocidentais de buscar "destruir" a Rússia e de tentar "estabelecer um bloqueio econômico, informativo e humanitário" ao país.
A Rússia exige que a Ucrânia renuncie sua entrada na Otan e que a Aliança Transatlântica de Defesa se retire de suas fronteiras.
A intervenção na Ucrânia disparou alarmes em outras ex-repúblicas soviéticas, como a Moldávia, que na quinta-feira oficializou sua candidatura à União Europeia (UE).
Bombardeio com 33 mortos
As tropas russas intensificaram nesta quinta-feira, após a captura de Kherson, seus bombardeios contra outros centros urbanos.
Ao menos 33 pessoas morreram em um bombardeio contra áreas residenciais, inclusive escolas, de Chernigov (norte), informaram os serviços de emergência
Os serviços de emergência divulgaram também imagens da área, nas quais fumaça podia ser vista subindo dos apartamentos destruídos, com escombros espalhados por uma vasta zona e socorristas transportando corpos em macas.
Zelensky disse que a Rússia vai pagar por essas tragédias.
"Vamos reconstruir cada edifício, cada rua, cada cidade, e dizemos à Rússia: aprendam a palavra 'reparação'", declarou.
Autoridades militares ucranianas alegaram que áreas residenciais na cidade oriental de Kharkov foram "bombardeadas a noite toda".
A acusação da Corte Penal Internacional (CPI) informou na quarta-feira a abertura de uma investigação sobre supostos crimes de guerra cometidos por tropas russas na Ucrânia.
Linha de frente
O assalto a Kiev parece paralisado neste momento. Segundo fontes do alto escalão do governo dos Estados Unidos, a imensa coluna de veículos militares que se dirigia rumo à capital está "parada" por falta de combustível e suprimentos.
As tropas que avançam da península da Crimeia - anexada por Moscou em 2014 - têm agora como alvo o porto de Mariupol.
Os russos "querem impor um bloqueio como em Leningrado [atual São Petersburgo]", a cidade soviética cercada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, disse o prefeito Vadym Boichenko.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) exigiu que a Rússia "cesse imediatamente todas as ações" nas usinas nucleares da Ucrânia, incluindo Chernobyl, que foi cenário de uma catástrofe em 1986.