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Ucrânia e Rússia retomam negociações em Belarus, focadas em corredores humanitários

A ofensiva russa, iniciada em 24 de fevereiro, provocou a fuga de mais de 1,5 milhão de pessoas da Ucrânia

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AFP

Publicado em 07/03/2022 às 13:53
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A Ucrânia rejeitou a criação de corredores humanitários para Rússia e Belarus propostos por Moscou, uma questão que ocupará boa parte da terceira rodada de negociações entre os dois países, que começou nesta segunda-feira (7) à tarde em território bielorrusso.

A ofensiva russa, iniciada em 24 de fevereiro, provocou a fuga de mais de 1,5 milhão de pessoas da Ucrânia e um número ainda maior de habitantes estão deslocados dentro do país ou bloqueados em cidades bombardeadas pela Rússia.

O agravamento do conflito também provoca turbulências financeiras e o aumento vertiginoso dos preços do petróleo e do ouro.

Nesta segunda-feira à tarde começou uma rodada de negociações russo-ucranianas na fronteira entre Belarus e Polônia, que estarão concentradas - segundo o chefe da delegação russa, Vladimir Medinski - nos corredores humanitários.

No entanto, as expectativas não são boas. O presidente russo, Vladimir Putin, estabeleceu como condição prévia a aceitação de Kiev de todas as demandas de Moscou, especialmente a desmilitarização da Ucrânia e um status neutro para o país.

O Exército russo anunciou nesta manhã a suspensão temporária dos ataques em algumas regiões "com fins humanitários" e a abertura de corredores humanitários para retirar os civis de Kiev, Kharkiv, do porto cercado de Mariupol e da localidade de Sumy, perto da fronteira com a Rússia.

Metade dos corredores, porém, segue em direção à Rússia e Belarus e o governo ucraniano rejeitou a proposta.

"Não é uma opção aceitável", disse a vice-primeira-ministra ucraniana Iryna Vereschuk. Ela afirmou que os civis retirados das cidades de Kharkiv, Kiev, Mariupol e Sumy "não irão para Belarus, para em seguida embarcar em um avião e seguir para Rússia".

O presidente francês Emmanuel Macron, que conversou com seu homólogo russo no domingo, acusou Putin de hipocrisia e cinismo pela sua proposta.

"Não conheço muitos ucranianos que queiram se refugiar na Rússia (...). Nada disso é sério. É de um cinismo moral e político que me parece insuportável", disse Macron em entrevista transmitida na televisão.

Por sua vez, o representante russo nas negociações entre Moscou e Kiev acusou a Ucrânia de impedir a evacuação de civis de áreas de combate e de "usar (os civis) direta e indiretamente, até como escudos humanos, o que é claramente um crime de guerra".

Após os violentos bombardeios na madrugada de segunda-feira, a intensidade dos combates foi reduzida pela manhã devido às "enormes perdas" registradas pelo exército russo, disse o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, embora tenha pedido para não baixar a guarda.

"Os ocupantes russos tentam concentrar suas forças para uma nova série de ataques", afirmou o ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov, no Facebook.

Na capital, os soldados ucranianos se preparavam para um possível ataque russo. Os militares colocaram explosivos no que afirmam ser a última ponte intacta no caminho das forças russas.

"A capital se prepara para se defender", disse o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, no aplicativo Telegram. "Kiev resistirá! Vai se defender!", acrescentou.

No domingo, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, advertiu que a Rússia se preparava para bombardear Odessa, um porto estratégico no Mar Negro.

Centenas de civis morreram e milhares ficaram feridos nesta guerra. Aos mortos junta-se um doloroso êxodo para os países vizinhos que deixa imagens que comovem o mundo inteiro.

Em Irpin, uma pequena cidade nos arredores de Kiev parcialmente controlada pelas forças russas, um corredor humanitário não oficial foi aberto para que milhares de moradores pudessem fugir por uma ponte improvisada e por uma estrada guardada por soldados e voluntários ucranianos.

Crianças, idosos e famílias, deixando carrinhos de bebê e as malas mais pesadas para trás, se apressavam para entrar em ônibus e vans lotadas, na esperança de sobreviver.

"Estou feliz por ter conseguido, agora tudo ficará bem", disse Olga, 48, que foi retirada com seus dois cães.

O prefeito de Irpin disse que viu dois adultos e duas crianças mortos "diante de seus olhos" quando uma bomba caiu sobre eles.

"São monstros. Irpin está em guerra, Irpin não se rendeu", escreveu Oleksandr Markushyn na rede Telegram.

Segundo o ministro da Educação, Sergii Shkarlet, 211 escolas foram atingidas pelo bombardeio.

Para ajudar crianças presas em orfanatos na Ucrânia, a escritora britânica J.K. Rowling, autora da famosa saga Harry Potter, pediu doações e prometeu igualar o valor arrecadado em até um milhão de libras (1,3 milhão de dólares; 1,2 milhão de euros).

Em resposta à ofensiva, os países ocidentais impuseram sanções sem precedentes contra empresas, bancos e oligarcas para asfixiar a economia russa e pressionar Moscou a interromper seu ataque.

No plano diplomático, à margem das negociações diretas, a Turquia anunciou que os ministros das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov; ucraniano, Dmytro Kuleba e turco, Mevlut Cavusoglu, se reunirão na quinta-feira em Antalya (sul). A Ucrânia, no entanto, ainda não confirmou sua participação no encontro.

O presidente americano Joe Biden conversará por videoconferência nesta segunda-feira às 15h30 GMT (12h30 no horário de Brasília) com o presidente francês Emmanuel Macron, o chefe do governo alemão Olaf Scolz e com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, enquanto os Estados Unidos admitiram que estão considerando a possibilidade de proibir a importação de petróleo russo.

A China, por outro lado, reiterou sua amizade "sólida como uma rocha" com a Rússia, mas disse que está disposta a participar da mediação de paz "se necessário".

O agravamento do conflito e a perspectiva de novas sanções fizeram os preços do petróleo dispararem. Um barril de Brent do Mar do Norte atingiu 140 dólares, quase um recorde.

As bolsas de Tóquio e Hong Kong caíram 2,94% e 3,87%, respetivamente, enquanto as bolsas europeias, depois de terem caído 4% na abertura, se recuperaram durante o dia.

Em resposta às sanções internacionais, o governo russo estabeleceu uma lista de países "hostis" ao país, aos quais indivíduos e empresas poderão pagar suas dívidas em rublos, moeda que perdeu 45% de seu valor desde janeiro.

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