Rússia bombardeia outra fábrica de armas perto de Kiev e sanciona premiê britânico
Rússia perdeu seu principal navio simbólico no Mar Negro nesta semana em um ataque reivindicado pela Ucrânia
Da AFP
A Rússia bombardeou uma nova fábrica militar na área de Kiev neste sábado (16), cumprindo assim sua ameaça de intensificar seus ataques à capital depois de perder seu principal navio simbólico no Mar Negro nesta semana em um ataque reivindicado pela Ucrânia.
O complexo industrial, localizado no distrito de Darnytsky e onde os tanques são principalmente fabricados, foi alvo de um ataque, segundo apuraram os jornalistas da AFP na manhã deste sábado. Um grande número de soldados e socorristas se reuniram no local, de onde saía uma grande fumaça.
Em Moscou, o Ministério da Defesa confirmou o ataque.
"Armas ar-terra de longo alcance e alta precisão destruíram edifícios de uma fábrica de produção de armas em Kiev", disse o ministério em comunicado na rede Telegram.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, afirmou que havia ao menos um morto no ataque e que várias pessoas ficaam feridas.
"Nossas forças fazem o possível para nos proteger, mas o inimigo é insidioso e implacável", disse ele.
Na sexta-feira, um ataque russo teve como alvo uma fábrica na região de Kiev que fabricava mísseis Neptune, usados pelo exército ucraniano para afundar o "Moskva", segundo fontes de Kiev.
A Rússia sustenta que o "Moskva" foi danificado pelo fogo após a explosão de sua própria munição e que a tripulação - cerca de 500 homens segundo fontes disponíveis - foi evacuada.
Algumas alegações de que um oficial militar ucraniano negou. "Uma tempestade impediu o resgate do navio e a evacuação da tripulação", disse Natalia Gumeniuk, porta-voz do comando militar do sul da Ucrânia.
"Estamos perfeitamente cientes de que eles não nos perdoarão", acrescentou, referindo-se à Rússia e a possíveis novos ataques.
A perda do "Moskva" é um duro golpe para a Rússia porque "garantiu cobertura aérea de outros navios durante suas operações, especialmente para o bombardeio da costa e manobras de desembarque", explicou o porta-voz da administração militar de Odessa, Sergei Brachuk.
Sanções a Boris Johnson
No campo diplomático, Moscou anunciou neste sábado que proibirá a entrada em seu território do primeiro-ministro britânico Boris Johnson e de várias outras autoridades de seu governo, como resposta às sanções impostas contra a Rússia.
"Essa medida foi tomada como uma resposta à desenfreada campanha informativa e política destinada a isolar a Rússia intencionalmente (...) e estrangular nossa economia", disse o ministério das Relações Exteriores russo em um comunicado.
Apesar das advertências russas, os moradores de Kiev desafiaram as ameaças e saíram às ruas neste sábado para passear pela capital.
"Esta é a primeira vez que viemos ao centro, queríamos ver se os transportes estavam funcionando e ver as pessoas. Olhar as pessoas me faz muito bem", disse Nataliya Makrieva, veterinária de 43 anos.
Os ataques russos a Kiev são raros desde o final de março, quando Moscou retirou suas tropas da capital e anunciou que estava concentrando sua ofensiva no leste da Ucrânia.
Neste sábado, Klitschko voltou a pedir aos habitantes que deixaram a capital para não regressarem ainda e permanecerem num "lugar seguro".
"As pessoas querem esquecer a guerra, mas logo as sirenes e os bombardeios voltarão e teremos que nos esconder novamente", diz Anna Grishko, de 83 anos, perturbada, sentada em um banco ao sol.
No total e de acordo com a ONU, mais de cinco milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início da invasão russa e mais de 7 milhões se tornaram deslocados internos, de uma população total de 37 milhões de habitantes.
Nesse contexto, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky considerou que "o mundo inteiro" deve estar "preocupado" com o risco de que seu homólogo russo, Vladimir Putin, encurralado por seus reveses militares na Ucrânia, use uma arma nuclear tática.
Em uma nova mensagem em vídeo, Zelensky reiterou aos países ocidentais que eles podem "tornar a guerra muito mais curta" se fornecerem a Kiev as armas solicitadas.
Mas em nota diplomática, a Rússia alertou os Estados Unidos e a Otan contra o envio de armas "mais sensíveis" para a Ucrânia, julgando que tais equipamentos militares colocam "combustível no fogo" e podem causar "consequências imprevisíveis", segundo o jornal Washington Post.
As autoridades ucranianas informaram ao menos 10 mortos, entre eles um bebê de sete meses, e dezenas de feridos em um ataque russo contra um ônibus que evacuava a cidade de Kharkiv (leste).
Por outro lado, o chefe do Centro de Defesa Nacional da Rússia, Mikhail Mizintsev, acusou Kiev de preparar um ataque contra civis ucranianos que fogem desta região e depois acusar os russos do massacre.
Em ocasiões anteriores, Moscou culpou Kiev por ataques aparentemente realizados por tropas russas contra civis ucranianos em cidades como Mariupol e Kramatorsk.
A Rússia, cuja anunciada grande ofensiva em Donbass ainda não começou, tem problemas para controlar totalmente Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov que permitiria ligar Donbass à península da Crimeia, anexada em 2014.
Esta cidade, sitiada por mais de 40 dias, pode ter o pior saldo de perdas humanas nesta guerra. As autoridades ucranianas temem que haja cerca de 20.000 mortos.
Após semanas de cerco à cidade sitiada, as tropas russas encontram resistência especialmente na extensa área industrial da costa.
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, disse que quase 2.900 civis foram transferidos de Mariupol e da vizinha Berdyansk para Zaporizhzhia, controlada por Kiev.
Mais de cinco milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início da invasão russa, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).