POLÍTICA

REINO UNIDO: Boris Johnson anuncia renúncia como líder do Partido Conservador britânico

Três anos depois de chegar triunfante ao poder, Johnson, de 58 anos, se viu obrigado a renunciar depois de perder o apoio do partido devido a uma série de escândalos

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Katarina Moraes

Publicado em 07/07/2022 às 8:47 | Atualizado em 07/07/2022 às 15:55
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Com informações da AFP

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou nesta quinta-feira (7) sua renúncia como líder do Partido Conservador, mas permanecerá no posto de chefe de Governo até a escolha de seu sucessor. 

"É claramente a vontade do Partido Conservador que deve haver um novo líder do partido e, portanto, um novo primeiro-ministro", disse o chefe de estado em pronunciamento.

Três anos depois de chegar triunfante ao poder, Johnson, de 58 anos, se viu obrigado a renunciar depois de perder o apoio do partido devido a uma série de escândalos.

Os acontecimentos aceleraram nesta quinta, depois dos pedidos de demissão de mais de 50 membros do governo, em uma sangria incessante que começou na terça-feira à tarde com a saída de dois pesos pesados: os ministros das Finanças, Rishi Sunak, e da de Saúde, Sajid Javid.

O novo ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, nomeado ainda na terça-feira (5), se uniu aos pedidos de renúncia do primeiro-ministro. "Sabe em seu coração o que é o correto, saia agora", escreveu em uma carta publicada no Twitter. 

Michelle Donelan, nomeada na terça-feira para o ministério da Educação como sucessora Zahawi, apresentou o pedido de demissão apenas 48 horas depois de assumir a pasta.

"Um governo decente e responsável se baseia na honestidade, integridade respeito mútuo", afirmou o ministro para a Irlanda do Norte, o até agora leal Brandon Lewis, mais um a anunciar que pediu demissão. "Lamento profundamente ter que deixar o governo porque acredito que estes valores não são mais respeitados", acrescentou.

Johnson conseguiu provocar o esquecimento por alguns meses dos múltiplos escândalos que o cercam graças a sua ação determinada na ajuda à Ucrânia contra a invasão russa. O Kremlin afirmou nesta quinta-feira que espera a chegada de "pessoas mais profissionais" ao poder no Reino Unido.

No início de junho, o primeiro-ministro sobreviveu a um voto de desconfiança do próprio partido, com o apoio de 211 dos 359 deputados conservadores, mas os 148 votos contra ele deixaram evidente o descontentamento interno. De acordo com a imprensa britânica, agora ele teria o apoio de apenas 65 deputados.

As regras do partido estabelecem que o procedimento não pode ser repetido durante 12 meses, mas muitos conservadores querem uma mudança para voltar a tentar outra manobra contra Johnson.

Johnson está envolvido em polêmicas que vão do "partygate", o escândalo das festas em Downing Street durante as restrições sanitárias, ao financiamento irregular da reforma da residência oficial, passando por acusações de clientelismo.

As renúncias de Javid e Sunak aconteceram poucas horas depois de Johnson apresentar desculpas pela enésima vez, ao admitir que cometeu um "erro" por ter nomeado para um cargo parlamentar importante Chris Pincher, um conservador que renunciou na semana passada e reconheceu ter apalpado, quando estava embriagado, dois homens, incluindo um deputado, em um clube privado do centro de Londres.

Depois de afirmar o contrário em um primeiro momento, Downing Street reconheceu na terça-feira que o primeiro-ministro havia sido informado em 2019 sobre acusações anteriores contra Pincher, mas havia "esquecido".

Grande vencedor das legislativas de dezembro de 2019, quando conseguiu a maioria conservadora mais importante em décadas com a promessa de concretizar o Brexit, o primeiro-ministro perdeu grande parte da popularidade.

As pesquisas mostram que a maioria dos britânicos o considera um "mentiroso".

Johnson deve ser investigado por uma comissão parlamentar para determinar se enganou de maneira consciente os deputados quando, em dezembro, negou as festas que violaram as regras anticovid.

E o fato de ter afirmado que não sabia das acusações contra Pincher quando muitos alegaram o contrário e de ter reconhecido o "esquecimento" reforça as acusações de que o primeiro-ministro brinca com a verdade.

Derrotas eleitorais recentes, como a de 23 de junho em duas legislativas parciais, convenceram um número crescente de rebeldes dentro do Partido Conservador de que Johnson não pode mais liderar o partido nas eleições gerais previstas para 2024.

Para demonstrar que não pretendia sair sem lutar, Johnson demitiu na quarta-feira à noite o ministro da Habitação e Governo Local, Michael Gove, seu braço direito na campanha de 2016 a favor do Brexit, que pediu sua renúncia pelo bem do partido e do país.

No fim da tarde de quarta-feira, um grupo de colaboradores próximos de Johnson, incluindo a ministra do Interior Priti Patel, compareceu a Downing Street para pedir que ele aceitasse que, sem o apoio do partido, não tinha condições de prosseguir no cargo.

De acordo com o jornal The Sun, Johnson disse a seus colegas que eles precisariam ter "sangue nas mãos" para removê-lo do cargo. Mas na manhã desta quinta-feira, as manchetes da imprensa britânica destacam a situação insustentável do chefe de Governo.

O Daily Express, jornal favorável aos conservadores, cita a "última batalha" de Johnson e o Daily Telegraph afirmou que o primeiro-ministro estava "mortalmente ferido".

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