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Ministros britânicos renunciam em protesto contra Boris Johnson, abalado por escândalos

Dois importantes ministros britânicos, incluindo o das Finanças, renunciaram nesta terça-feira (5) aos seus cargos, em protesto contra o primeiro-ministro conservador, Boris Johnson, abalado por uma série de escândalos

Amanda Azevedo
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Amanda Azevedo
Publicado em 05/07/2022 às 21:09 | Atualizado em 05/07/2022 às 21:10
JUSTIN TALLIS / AFP
Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson - FOTO: JUSTIN TALLIS / AFP
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Da AFP

Dois importantes ministros britânicos, incluindo o das Finanças, renunciaram nesta terça-feira (5) aos seus cargos, em protesto contra o primeiro-ministro conservador, Boris Johnson, abalado por uma série de escândalos.

O ministro da Saúde, Sajid Javid, e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, anunciaram sua decisão com poucos minutos de diferença, dizendo que perderam a esperança de romper com uma cultura de tolerância aos escândalos que mantêm Johnson na defensiva há meses.

"Está claro para mim que esta situação não mudará sob sua liderança e, consequentemente, ele perdeu minha confiança", afirmou o ministro da Saúde demissionário, filho de um motorista de ônibus.

"A população tem uma expectativa legítima de um governo devidamente conduzido, competente e sério", escreveu Sunak, o primeiro hindu responsável pelas finanças do Reino Unido.

Após as renúncias, o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, pediu a convocação de eleições gerais antecipadas.

"O Partido Conservador está corrompido e mudar somente um homem não vai consertar isso", escreveu.

Segundo uma pesquisa realizada pela YouGov na noite de terça-feira, 69% dos eleitores britânicos acreditam que Johnson deveria renunciar.

As desculpas apresentadas horas antes por Johnson por ter nomeado para um cargo importante um líder conservador que precisou renunciar por conduta imprópria não foram suficientes para os dois ministros demissionários.

O líder em questão, Chris Pincher, renunciou na semana passada depois de admitir ter apalpado dois homens enquanto estava embriagado, um deles um deputado.

O governo afirmou inicialmente que Johnson não estava ciente de comportamentos semelhantes de Pincher em ocasiões anteriores.

Mas esse argumento desmoronou nesta terça-feira, quando um ex-colaborador de Boris Johnson revelou que o chefe de governo foi informado em 2019, quando era ministro das Relações Exteriores, de que Pincher já havia se envolvido em incidente do tipo.

Sunak será substituído por Nadhim Zahawi, que atuava como ministro de Educação, e Steve Barclay, até agora responsável pela coordenação governamental, assume a pasta de Saúde no lugar de Javid. Ambos foram nomeados por Johnson.

Tempo fechado para o primeiro-ministro Boris Johnson 

A saída de Pincher, que era encarregado do tema na bancada conservadora do Parlamento, soma-se a outros casos semelhantes no Partido Conservador nos últimos meses.

Em meados de maio, um deputado suspeito de estupro foi preso e posteriormente libertado sob fiança.

Em abril, outro legislador renunciou por assistir pornografia na câmera de seu celular. E um ex-deputado foi condenado em maio a 18 meses de prisão por agredir sexualmente uma menina de 15 anos.

O governo de Johnson também foi sacudido pelo escândalo das festas em Downing Street (o 'Partygate'), realizadas apesar das restrições contra a covid durante a pandemia.

Johnson sobreviveu no mês passado a uma moção de censura apresentada por conservadores rebeldes e essa experiência deveria ter lhe dado a oportunidade de demonstrar "humildade, firmeza e de [seguir] um novo caminho", escreveu Javid.

O primeiro-ministro, de 58 anos, ainda enfrenta uma investigação parlamentar que determinará se mentiu em sua defesa sobre o Partygate.

A erosão de sua imagem resultou em derrotas dos conservadores em duas eleições parciais no fim de junho, uma delas no reduto histórico dos Tories, que foi parar nas mãos dos Trabalhistas.

Esta crise política se soma às dificuldades que o país enfrenta para se adaptar à sua saída da União Europeia (UE) em 2020, com tensões com o bloco dos 27 sobre a fronteira terrestre entre a República da Irlanda e a província britânica da Irlanda do Norte.

- Dois nomes de peso dos Conservadores -

Antes de ser ministro das Finanças, Rishi Sunak trabalhou como analista para o banco Goldman Sachs e fundou sua própria empresa de investimentos.

No momento do referendo sobre o Brexit, ele apoiou a saída da UE.

Por um tempo seu nome soou como o de um possível sucessor de Johnson, mas sua reputação foi manchada quando foi revelado que sua esposa, filha de um magnata bilionário indiano, tinha um status fiscal vantajoso, que permitia evitar o pagamento de milhões de libras em impostos no Reino Unido.

Finalmente, uma investigação interna do governo o inocentou em abril de qualquer irregularidade.

Agora, Sunak sabe que seu tempo na política pode ter acabado.

"Admito que este pode ser meu último cargo ministerial, mas acho que esses são valores pelos quais vale a pena lutar e é por isso que estou entregando o cargo", disse ele em sua carta de demissão.

Javid, que também foi apontado como um possível sucessor de Johnson, ascendeu socialmente ao se tornar um banqueiro e chegou ao cargo de ministro das Finanças.

Ele renunciou em 2020, mas voltou ao governo há um ano, à frente da pasta da Saúde.

Em 2016, Javid votou a favor da permanência do Reino Unido na UE por causa dos benefícios econômicos que trazia, mas depois se juntou à causa do Brexit.

 

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