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Sem acordo para antecipar eleições, Congresso do Peru suspende debates

Sessão plenária no Congresso peruano prossegue na terça-feira (31) para definir se aprova a antecipação das eleições para este ano

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Filipe Farias

Publicado em 30/01/2023 às 23:12
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Da AFP

O Congresso peruano suspendeu até terça-feira os debates para definir se aprova a antecipação das eleições para este ano, em meio a protestos e bloqueios no país que exigem a renúncia da presidente Dina Boluarte.

"Por despacho do presidente do Congresso da República, a sessão plenária prossegue na terça-feira, 31 de janeiro, às 11h locais" (13h de Brasília), indicou um comunicado do Parlamento após sete horas e meia de reuniões entre bancadas para tentar chegar-se a um consenso.

No domingo à noite (29), a presidente Dina Boluarte aumentou a pressão, ao fazer um apelo para que o Congresso antecipe as eleições.

Em Washington, a Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou estar "consternada" com a violência no Peru, e pediu ao governo que realize "em breve" eleições sob observação internacional, numa declaração em que apenas El Salvador absteve-se.

Os Estados Unidos, através do embaixador Francisco Mora, enfatizaram que "o momento das eleições no Peru é uma questão a ser decidida pelos líderes e instituições do país". Também pediram à comunidade internacional que apoie o governo de Boluarte.

Nos arredores de Lima, no bairro popular de Huaycán, centenas de pessoas marchavam com uma enorme faixa que dizia "Nem mais um morto, Dina renuncie já". O centro da capital, onde ficam o Palácio presidencial, o Parlamento e os tribunais de Justiça, se tornou palco de confrontos violentos entre pessoas encapuzadas e a polícia.

Escassez de produtos básicos e de combustível 

Dezenas de militares foram deslocados para Ica, 250 quilômetros ao sul de Lima, para apoiar a polícia na desobstrução da rodovia Pan-Americana Sul e garantir o trânsito. Os bloqueios de estradas causaram escassez de produtos básicos e de combustível em várias províncias.

Boluarte reconheceu que a crise se agravou com um cenário de protestos violentos e bloqueios, que inclusive levaram alguns habitantes a recorrerem ao carvão ou à lenha para cozinhar na falta de gás em regiões como Puerto Maldonado, na selva peruana, denunciaram moradores à imprensa local.

No distrito de Poroy, a 15 km da cidade de Cusco, cerca de 300 pessoas faziam fila para comprar um botijão de gás.

"Tem gente que está na fila desde as três da manhã (...) Faz duas semanas que não tenho gás. Temos que voltar no tempo e cozinhar com lenha e carvão, que é difícil, machuca os pulmões", declarou à AFP a dona de casa Gabriela Álvarez, 33.

A mina peruana de cobre Las Bambas, operada pela chinesa MMG e que fornece cerca de 2% do volume mundial do metal, anunciou que suspenderá as operações a partir de quarta-feira se os bloqueios continuarem.

"As mobilizações vão continuar, porque não há sinais de que o Executivo vai renunciar", disse à AFP o líder sindical da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP), Gerónimo López.

A crise política e social, que já deixou 48 mortos nas manifestações em cidades do sul do país e em Lima em sete semanas, não apresenta sinais de arrefecimento.

O poder político se mostra incapaz de encontrar uma resposta para as exigências da população, em particular dos moradores de áreas rurais do sul andino, de maioria indígena, historicamente marginalizados, que apostaram em conseguir melhores condições de vida com a eleição do esquerdista Pedro Castillo à Presidência (2021-2022), destituído e detido em 7 de dezembro depois de tentar dissolver o Congresso.

Boluarte, que era vice-presidente, assumiu o comando do governo.

Decisão crucial

A sessão do Congresso nesta segunda-feira aprovou reconsiderar uma votação de sábado, quando a antecipação das eleições para este ano foi rejeitada por 65 votos a 45.

O Congresso já havia votado uma antecipação das eleições para 2024.

No domingo, o presidente do Parlamento, José Williams, um militar de direita aposentado e primeiro na linha de sucessão em caso de renúncia da presidente peruana, também pediu aos parlamentares que "reflitam com responsabilidade sobre a decisão que vão tomar" nesta segunda-feira.

O debate político coincide com o velório de Víctor Santisteban, de 55 anos, manifestante que faleceu no sábado no protesto mais violento registrado em Lima desde o início da revolta social em dezembro. Ele foi atingido por um "objeto contundente na cabeça", segundo o boletim médico.

Apresentada pelo deputado fujimorista Hernando Guerra García, do partido de direita Fuerza Popular (FP), a iniciativa pretendia antecipar as eleições para outubro, com a presidente, os congressistas e autoridades eleitas tomando posse dos cargos em dezembro de 2023.

Mas a esquerda insistiu na inclusão de um referendo para a criação de uma Assembleia Constituinte, o que é rejeitado por muitos políticos peruanos. Outras forças denunciaram uma suposta manobra do FP, partido controlado pela ex-candidata à presidência Keiko Fujimori, para tirar proveito das eleições antecipadas.

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