AFP
O Congresso peruano começou uma nova sessão, nesta segunda-feira (30), para definir se aprova a antecipação das eleições, em meio a protestos e bloqueios no país.
No domingo à noite (29), a presidente Dina Boluarte aumentou a pressão, ao fazer um apelo para que o Congresso antecipe as eleições. Caso contrário, pretende estimular reformas constitucionais para que as eleições sejam impostas.
"Votem pelo Peru, a favor do país, antecipando as eleições para 2023. E digamos a todo o Peru, com a maior responsabilidade, que todos vamos embora", afirmou, em uma mensagem ao país.
Nos arredores de Lima, no bairro popular de Huaycán, centenas de pessoas marchavam com uma faixa gigante que dizia "Nem mais um morto, Dina renuncie já", com o objetivo de seguir até o centro da capital, onde ficam o Palácio presidencial, o Parlamento e os tribunais de Justiça, uma área que se tornou palco de confrontos violentos entre pessoas encapuzadas e a polícia.
Dezenas de militares foram deslocados para Ica, 250 quilômetros ao sul de Lima, para apoiar a polícia na desobstrução da rodovia Pan-Americana Sul e garantir o trânsito. Os bloqueios de estradas causaram escassez de produtos básicos e de combustível em várias províncias.
"As mobilizações vão continuar, porque não há sinais de que o Executivo vai renunciar", disse à AFP o líder sindical da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP), Gerónimo López.
A crise política e social, que já deixou 48 mortos nas manifestações em cidades do sul do país e em Lima em sete semanas, não mostra apresenta sinais de arrefecimento.
O poder político se mostra incapaz de encontrar uma resposta para as demandas da população, em particular dos moradores de áreas rurais do sul andino, de maioria indígena, historicamente marginalizados, que apostaram em conseguir melhores condições de vida com a eleição do esquerdista Pedro Castillo à Presidência (2021-2022), destituído e detido em 7 de dezembro depois de tentar dissolver o Congresso.
Boluarte, que era vice-presidente, assumiu o comando do governo.
"O povo está praticamente dizendo que não vai parar sua luta se Boluarte não renunciar", insistiu o sindicalista.
Decisão crucial para o Peru
A sessão do Congresso nesta segunda-feira vai reconsiderar a votação de sábado, que rejeitou a antecipação das eleições para este ano (65 votos contra 45).
A presidente reconheceu que a crise nas ruas se agravou, com um cenário de protestos violentos e bloqueios de estradas. Com a falta de gás, por exemplo, em zonas como Puerto Maldonado, na Amazônia peruana, alguns moradores começaram a recorrer ao carvão, ou à lenha, para cozinhar, denunciaram os afetados à imprensa local.
O Congresso já havia votado uma antecipação das eleições para 2024.
No domingo, o presidente do Parlamento, José Williams, um militar de direita aposentado e primeiro na linha de sucessão em caso de renúncia da presidente peruana, também pediu aos parlamentares que "reflitam com responsabilidade sobre a decisão que vão tomar" nesta segunda-feira.
O debate político coincide com o velório de Víctor Santisteban, de 55 anos, manifestante que faleceu no sábado no protesto mais violento registrado em Lima desde o início da revolta social em dezembro. Ele foi atingido por um "objeto contundente na cabeça", segundo o boletim médico.
Indecisão com a esquerda peruana
Apresentada pelo deputado fujimorista Hernando Guerra García, do partido de direita Fuerza Popular (FP), a iniciativa pretendia antecipar as eleições para outubro, com a presidente, os congressistas e autoridades eleitas tomando posso dos cargos em dezembro de 2023.
Mas a esquerda insistiu na inclusão de um referendo para a criação de uma Assembleia Constituinte, o que é rejeitado por muitos políticos peruanos. Outras forças denunciaram uma suposta manobra do FP, partido controlado pela ex-candidata à presidência Keiko Fujimori, para tirar proveito das eleições antecipadas.
Uma pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos (IEP) mostra que 73% da população deseja eleições este ano 89% dos peruanos criticam o desempenho do Congresso.
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