Os paramilitares do grupo russo Wagner se retiraram neste domingo (25), após uma rebelião de 24 horas conduzida por seu líder, Yevgueni Prigozhin, que deixará a Rússia devido a um acordo que o presidente Vladimir Putin precisou aceitar, enfraquecido após esta crise sem precedentes.
Prigozhin irá para a Belarus, de acordo com a Presidência russa, que ainda não se pronunciou neste domingo. Também não foi divulgado onde o chefe dos paramilitares está atualmente localizado.
Em uma operação de 24 horas que levou seus homens a menos de 400 quilômetros de Moscou, Prigozhin desafiou frontalmente a autoridade do presidente russo, antes de recuar e ordenar que seus combatentes voltassem às suas bases, após mediação do presidente bielorruso, Alexander Lukashenko, o único aliado do Kremlin na Europa.
Os paramilitares se retiraram da região de Voronezh, que faz fronteira com a Ucrânia, disseram as autoridades locais no domingo, assegurando que tudo estava ocorrendo "sem incidentes".
Eles também deixaram a região de Lipetsk, ao sul de Moscou. No entanto, dentro e ao redor da capital russa, o "regime de operação antiterrorista", estabelecido na véspera como resultado do motim, ainda estava em vigor neste domingo.
Impressionantes patrulhas policiais permaneceram posicionadas ao longo da principal rodovia que sai de Moscou, no sul da capital, observou um jornalista da AFP.
Na região de Moscou, as restrições de tráfego na rodovia que liga Moscou a Rostov (sudoeste), centro nevrálgico das operações russas na Ucrânia, também vigoravam neste domingo, segundo a Avtodor, responsável pelas rodovias na Rússia.
Em Moscou, será feriado na segunda-feira, decretado no sábado pelo prefeito da cidade, Sergei Sobyanin, diante de uma situação "difícil".
Prigozhin anunciou na noite de sábado que estava encerrando a rebelião, iniciada um dia antes em Rostov, para evitar um "banho de sangue".
Segundo o acordo alcançado com Lukashenko, o líder do Wagner poderá ir para a Belarus e evitar ser processado na Rússia, assim como os seus combatentes, considerando os "méritos no front ucraniano" do grupo paramilitar, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O grupo paramilitar desempenhou um papel fundamental ao lado do Exército russo na ofensiva na Ucrânia.
As autoridades russas nunca mostraram uma atitude tão indulgente para com os seus detratores, especialmente em um contexto de repressão implacável contra os opositores e críticos de Putin e a operação contra a Ucrânia.
Para o conselheiro presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, "Prigozhin humilhou Putin/o Estado e demonstrou que não há mais um monopólio legítimo da violência" na Rússia.
"O Kremlin está agora confrontado com um equilíbrio profundamente instável (...) A rebelião de Prigozhin revela sérias fraquezas", diz um analista do think tank americano Institute for the Study of War (ISW).
A revolta dos paramilitares marcou "um desafio direto à autoridade de Putin. Portanto, isso levanta questões profundas, mostra fissuras reais", disse o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, à CBS News.
Em Rostov, dezenas de pessoas aplaudiram os paramilitares na noite de sábado, gritando "Wagner, Wagner!", enquanto eles deixavam a cidade, com seu chefe liderando o comboio.
Embora os termos do acordo permaneçam desconhecidos, parece que o presidente Lukashenko desempenhou um papel crucial. De acordo com seu gabinete, foi ele quem conseguiu que o chefe de Wagner parasse seu avanço sobre Moscou.
Em meio à ofensiva na Ucrânia, Moscou garantiu que o motim fracassado não afetaria suas operações e que "atingiria seus objetivos".
O Ministério da Defesa da Rússia disse neste domingo que o Exército repeliu vários ataques no leste e no sul da Ucrânia, onde Kiev disse no dia anterior que havia lançado uma nova ofensiva e feito progressos.
O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, recebeu o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrei Rudenko, em Pequim neste domingo, disse o governo chinês, a primeira reunião pública entre diplomatas de ambos os países após o motim do Wagner.
A Coreia do Norte expressou forte apoio à Rússia para acabar com a rebelião com "sucesso".