Irã afirma que tem o 'dever de se defender' após os bombardeios israelenses
Em comunicado, Ministério das Relações Exteriores do Irã afirmou que não há limites na determinação em se defender de "atos de agressão estrangeiros"
O Irã afirmou neste sábado (26) que tem o "dever de se defender" após os bombardeios israelenses efetuados durante a madrugada contra instalações militares, um novo episódio de violência entre estes dois países inimigos que gera o temor de uma escalada militar no Oriente Médio.
Israel anunciou publicamente pela primeira vez que atacou o Irã, realizando durante a madrugada "ataques de precisão" contra instalações de produção e lançamento de mísseis, em resposta ao lançamento de mísseis iranianos contra o seu território em 1º de outubro.
O ataque deixou quatro militares mortos, segundo o último balanço do Exército iraniano, que garantiu que apenas foram danificados "sistemas de radar". Antes disso, as forças armadas haviam reportado dois óbitos causados pelo ataque.
Os bombardeios aconteceram em um contexto de extrema tensão na região. Israel trava uma guerra contra o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza e contra o grupo islamista Hezbollah no Líbano.
Os dois grupos são apoiados pelo Irã, arqui-inimigo de Israel, e integram o chamado "eixo da resistência".
"O Irã considera que tem o direito e o dever de se defender contra atos de agressão estrangeiros", afirmou o Ministério das Relações Exteriores iraniano em comunicado.
"Nossa determinação para nos defendermos não tem limites", declarou o ministro da pasta, Abbas Araghchi.
Por sua vez, o Hezbollah classificou o ataque de "escalada perigosa" na região e afirmou que os Estados Unidos têm "toda a responsabilidade".
'Assustador'
O Exército iraniano reconheceu ataques contra bases militares nas províncias de Teerã, Khuzistão (sudoeste) e Ilam (oeste).
O Exército israelense afirmou que os bombardeios foram uma "resposta a meses de ataques contínuos da República Islâmica.
"O regime iraniano e seus aliados não cessaram os ataques contra Israel desde 7 de outubro de 2023", destacou o Exército israelense, em referência ao ataque sem precedentes do Hamas em território de Israel, que desencadeou a guerra em Gaza.
Com esses bombardeios, as forças israelenses afirmaram ter "concluído a resposta aos ataques do Irã contra Israel".
Essa resposta de Israel ao Irã, que lançou quase 200 projéteis contra o território israelense no início do mês, era esperada há várias semanas.
Teerã apresentou os disparos de 1º de outubro como uma resposta aos bombardeios israelenses contra o Líbano que, no final de setembro, causaram as mortes de um general iraniano e do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e ao assassinato no território iraniano, no fim de julho, do então líder do Hamas, Ismail Haniyeh, uma ação atribuída a Israel.
O porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, alertou neste sábado que se Teerã iniciar uma "nova rodada de escalada", o país será "obrigado a responder" e fará o Irã pagar um "preço elevado".
"Temos a obrigação histórica de eliminar a ameaça iraniana de destruir Israel", afirmou o ministro de Segurança Nacional, o extremista de direita Itamar Ben Gvir.
Em Teerã, Hooman, um operário do setor de construção de 42 anos que preferiu não revelar o sobrenome, disse à AFP que estava trabalhando quando ouviu as explosões.
"Foi um barulho terrível e assustador", disse. "Agora que há uma guerra no Oriente Médio, temos medo de sermos arrastados para ela, acrescentou.
Golpe midiático
O governo dos Estados Unidos, principal aliado diplomático e militar de Israel, afirmou que foi informado com antecedência sobre o ataque. A Casa Branca considerou que esta foi uma ação de "autodefesa" de Israel.
A situação "ameaça a segurança e a estabilidade dos países e povos" do Oriente Médio, advertiu a Arábia Saudita.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar "profundamente alarmado" com a escalada de violência, segundo seu porta-voz Stéphane Dujarric.
A Espanha, por sua vez, pediu que "se detenha o aumento da violência", enquanto a França pediu às partes que "se abstenham de qualquer escalada" e o Reino Unido considerou que o "Irã não deve responder" aos bombardeios.
Contudo, segundo muitos especialistas, o objetivo do ataque era demonstrar a capacidade ofensiva de Israel, evitando ao mesmo tempo uma escalada.
Para Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisa sobre o Mundo Árabe e Mediterrâneo (Cermam), Israel deu, pressionado pelos Estados Unidos, "um golpe midiático e político, e não militar".
70 alvos do Hezbollah
Na frente libanesa, o Exército israelense reportou "80 projéteis" disparados pelo Hezbollah do Líbano.
Também anunciou que bombardeou 70 alvos do Hezbollah no Líbano, onde iniciou uma operação terrestre em 30 de setembro, após a intensificação de seus bombardeios.
Depois de provocar o enfraquecimento do Hamas em Gaza, o Exército israelense deslocou a maior parte de suas operações para o sul do Líbano, onde o Hezbollah e as tropas de Israel estavam em uma batalha desde 8 de outubro de 2023. Na data, o movimento xiita começou a lançar foguetes contra o território israelense em apoio ao Hamas.
Mas, desde 6 de outubro deste ano, as forças israelenses retomaram a ofensiva no norte de Gaza, onde afirmam que o Hamas tenta retomar suas operações.
A guerra no território palestino começou com o ataque do Hamas contra o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, quando 1.206 pessoas morreram pelas mãos de milicianos islamistas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses, que inclui os reféns mortos em cativeiro em Gaza.
Das 251 pessoas sequestradas, 97 permanecem em cativeiro em Gaza, mas 34 foram declaradas mortas pelo Exército.
Em resposta ao ataque, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas, que governa Gaza desde 2007, e matou pelo menos 42.924 palestinos - a maioria civis -, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.