OPINIÃO

Paulo Roberto Barros: É nas favelas onde fica o centro da pandemia do coronavírus no Recife

No Recife há mais de 600.000 pessoas espremidas nas mais de 80 Zonas Especiais de Interesse Social, denominação para favelas no Urbanismo

JC
Cadastrado por
JC
Publicado em 16/05/2020 às 12:34 | Atualizado em 26/06/2020 às 15:37
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Comunidade no Bairro do Pina, na Zona Sul do Recife - FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Artigo por Paulo Roberto Barros e Silva*

A favela, a periferia, atualmente no Urbanismo se denominam ZEIS – Zona Especial de Interesse Social. Foram criadas no Brasil em 1979, gestão do prefeito Gustavo Krause. Um ato de proteção e uma ação para evitar a expulsão e urbanizar as favelas. E assim foi feito nos Coelhos, no Coque, em Brasília Teimosa.

Nestes 40 anos as ZEIS se espalharam pelo Brasil desigual. Lamentavelmente, os governantes cuidaram apenas de incorporar o conceito legal nos Planos Diretores. Na prática, o que mudou foi a liberdade para crescer espraiando-se e adensando verticalmente, sob o olhar silente de todos e o faz de conta, pois assim ganha voto.

Hoje, temos no Recife mais de 600.000 pessoas espremidas nas cercas de 80 ZEIS. E é lá que o vírus corona caminha livre. Pois é lá que se tem de buscar o pão de cada dia nas ruas. É lá que coabitam duas, três famílias no mesmo cômodo. É lá que a fome cotidiana e a vontade de matar do Covid-19 se ajuntam. O desemprego crescente associado à ausência de perspectiva deságua na escolha entre “ficar em casa” para o vírus não chegar ou ir pra rua pra matar a fome que lá já está.

O pandemônio nacional perdeu o rumo. Caminhamos na escuridão para lugar nenhum. Ações equivocadas se voltam para o final do filme de terror – os hospitais de campanha, milhares de leitos novos, visando acomodar os condenados, ao tempo em que se cavam covas rasas para recebê-los.

É na ZEIS o centro da pandemia. Dizem os especialistas do saber periférico que o problema é como chegar lá. Não é. Existem muitos caminhos e ações para se fazer em cada bairro pobre e não periférico do Recife. É só olhar em volta. Temos, por exemplo, mais de 400 escolas municipais. E fechadas à espera do depois. Os usuários submoram nas ZEIS onde as escolas estão plantadas.

Pois é lá na ZEIS, na sua escola que se pode plantar o “pronto-socorro de campanha preventiva” – distribuir máscaras, testar temperatura, avaliar o estado clínico, usar a telemedicina em rede municipal. Distribuir cesta básica. É mobilizar e fazer. Estão por aí o professorado, os atendentes dos postos de saúde da família, os conselheiros tutelares, as igrejas e seus pastores, as lideranças comunitárias, os vereadores de lá votados, as ONGs. É lá na ZEIS onde se ganha ou se perde a batalha do tempo exponencial, pois o inimigo agora tem cara e nome novo – coronafome, e milhares de seres humanos à espera do milagre dos céus. É tempo de ruptura para eliminar o burro efeito manada. Ainda há tempo.

*Paulo Roberto Barros e Silva é arquiteto.

Assine a nova newsletter do JC e fique bem informado sobre o coronavírus

Todos os dias, de domingo a domingo, sempre às 20h, o Jornal do Commercio divulga uma nova newsletter diretamente para o seu email sobre os assuntos mais atualizados do coronavírus em Pernambuco, no Brasil e no mundo. E como faço para receber? É simples. Os interessados podem assinar esta e outras newsletters através do link jc.com.br/newsletter ou no box localizado no final das matérias.

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

 

Comentários

Últimas notícias