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Quem não conhece o passado não deveria se atrever a escrever a história do futuro

"Como membro da Academia Pernambucana de Medicina, me senti extremamente ofendido e ultrajado com uma Notificação Extrajudicial do Pró-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pernambuco". Leia a opinião de Gilliatt Falbo

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Gilliatt Falbo

Publicado em 01/03/2021 às 20:17 | Atualizado em 01/03/2021 às 20:19
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Conheci o Professor Fernando Figueira no dia 2 de fevereiro de 1982, quando terminei a residência médica e comecei a trabalhar no IMIP. Bem, este ingênuo fato apenas me introduz no assunto que sigo a relatar. Declaro desde já que tudo que o leitor a partir de agora estiver lendo, é de minha inteira responsabilidade e não da Academia Pernambucana de Medicina.

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Como membro desta Academia, me senti extremamente ofendido e ultrajado com uma Notificação Extrajudicial do Pró-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pernambuco. “Como é mesmo o nome dele?”

Nesta correspondência a “autoridade” Universitária cita uma lei, estabelece uma área de utilização, estipula um valor e cobra um aluguel de uso à Academia Pernambucana de Medicina por estar zelando pelo Panteão do Derby. Um prédio histórico onde se iniciou a história da formação dos médicos e Farmacêuticos de Pernambuco muito antes da existência da UFPE.

Ora, o Imóvel da Antiga Faculdade de Medicina nunca foi erigido pela UFPE.

Foi construído com os recursos dos seus fundadores e posteriormente incorporado ao seu Patrimônio quando da incorporação da faculdade pela universidade. Foi sede posteriormente do Colégio Militar do Recife e outras instituições menos importantes da universidade até que, no final dos anos 80 estando sem utilização, o Professor Fernando Figueira fundador da Academia Pernambucana de Medicina que não tinha sede e funcionava no IMIP, fez gestões junto a Secretaria de Saúde do Estado e frente a reitoria da UFPE para que o imóvel que guardava a memoria da Medicina Pernambucana ficasse sob a guarda da Academia e nela fosse a sua sede.

Hoje depois de restaurado e vivo, o imóvel é sede, além da Academia, da Sociedade dos Médicos escritores e da sociedade da História da Medicina de Pernambuco. Não reconheceria nenhuma instituição mais digna de zelar por este patrimônio de Pernambuco e do Brasil que não fosse a atual.

As leis vêm e vão, os cargos públicos vêm e vão, o bom senso, a memória e a história ficam.

Segundo Walzer “todo cidadão oprimido pelos governantes de seu Estado tem o direito de desobedecer as ordens, infringir as leis, e até mesmo, rebelar-se”...

Convivi e aprendi por muitos anos com Fernando Figueira, fundador desta Academia de Medicina. Portanto, penso sentir neste momento a mesma indignação e emoção que ele sentiria se vivo fosse.

Não aceito este legalismo míope, não aceito essa usurpação de um monumento da Medicina Pernambucana, termino com uma estrofe do Cântico Negro de Jose Régio. “Não sei para onde vou, não sei se vou, mas sei que não vou por aí”.

Gilliatt Falbo é médico do IMIP e Acadêmico da Academia Pernambucana de Medicinam, ocupante da cadeira 16 Patrono Arnóbio Marques

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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