Frei Caneca, há 200 anos um troféu da humanidade

Pude homenageá-lo, com o assentamento de um busto, no Largo das Cinco Pontas, no ensejo do 157º aniversário da Confederação do Equador

Publicado em 05/01/2025 às 0:00
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Sou, de há muito, um devoto de Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca – Frei Caneca -, segundo o historiador George Cabral, o maior herói brasileiro, que, no dia 13 de janeiro de 1825, no esplendor dos seus 45 anos, foi condenado por Dom Pedro I e diante dos muros do Forte das Cinco Pontas, arcabuzado, após três carrascos se recusarem a enforcá-lo, apesar do prêmio da alforria.

Onde pude, em toda a minha trajetória de vida, exaltar Caneca, herói da Revolução Republicana e Pernambucana de 1817 (6.3.1817) e herói e mártir da Confederação do Equador (2.7.1824), exaltei. Também exortei estudantes e cidadãos à preservação de sua memória, pouco lembrada pelos brasileiros e, sobretudo, pelos pernambucanos, inclusive pelos livros escolares de história editados e/ou aprovados pelo MEC.

Pude homenageá-lo, com o assentamento de um busto, no Largo das Cinco Pontas, no dia 2.7.1981, no ensejo do 157º aniversário daquele movimento, a Confederação do Equador, que atravessou o tempo, por ser uma afirmação de bravura, de integração e de análise social de nossa realidade e de nosso destino.

O busto aqui mencionado, de autoria do escultor Wamberto Jácome, considerado, à época, um dos maiores escultores clássicos do Brasil, cuja colocação, em 1981, nasceu de uma parceria entre o Colégio Radier, quando ocupava a presidência daquele educandário, e a Prefeitura da Cidade do Recife, então comandada por Gustavo Krause, que, além de professor de História, sempre foi um gestor identificado com as causas político-libertárias de Pernambuco.

Esse busto, em bronze, roubado duas vezes e recolocado, a primeira vez, em 1988, pelo então Prefeito Jarbas Vasconcelos. Levado este pelos gatunos, um outro busto, não mais em bronze, foi confeccionado pelo Prefeito João Campos, mas a placa infelizmente não faz alusão ao Radier, protagonista da homenagem. A minha homenagem, entretanto, ao gesto do Prefeito.

Os alunos do Colégio Radier criaram, em 1981, o Centro Cívico Frei Caneca, aqui citado apenas para mencionar o quanto aqueles educandos assimilaram todo um fervor à figura magistral do nosso herói, que falava: “quem bebe da minha caneca tem sede de liberdade.”

Não se podia escolher melhor nome para as atividades cívicas daquele educandário, onde pulsavam os verdes anos de uma geração inquieta. Porque ele, frade carmelita, herói de duas revoluções, é uma afirmação de nossa consciência de Pátria. O que é o civismo, pergunto, senão a valorização dessa consciência, a convicção de que marchamos para o futuro, enaltecendo e cultuando os nossos heróis e os nossos mártires do eterno sonho de liberdade e de justiça?

Recordo que, em 1993, quando secretário de Educação e Cultura do Estado, pude assinar, com a Academia Pernambucana de Letras (APL), então presidida por Luiz de Magalhães Melo, um convênio para a confecção e assentamento de um outro busto de Caneca, que permanece logo na entrada daquela Casa.

O mais empolgante, em 1994, ocupando o mesmo cargo, no Governo de Joaquim Francisco, por determinação dele, erigimos um monumento aos Heróis de 1817, na Praça da República, uma obra de Abelardo da Hora e Jobson Figueiredo, dois talentos dos maiores/melhores do mundo artístico de Pernambuco.

E agora, em fevereiro deste ano, no reinício das aulas, o Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana (IHAGO), presidido por Harlan Gadelha Filho, árduo defensor dos valores históricos e culturais de Goiana e de Pernambuco, em convênio com a Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Cultural, daquela cidade, que me teve, até bem pouco como seu ocupante, vai erigir na Praça Frei Caneca (Praça do Carmo), um busto de Caneca, esculpido pelo mestre Edilson.

Tudo isso é muito pouco diante da grandeza de Frei Caneca, que será homenageado, mais uma vez, segundo convite que acabo de receber:

“A Maçonaria Pernambucana e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, com o apoio do Governo do Estado de Pernambuco, da Prefeitura da Cidade do Recife e outras instituições, têm a honra de convidar para o Evento em Rememoração do Bicentenário do Arcabuzamento do Herói da Pátria Frei Caneca, que ocorrerá às 09hs,.do dia 13 de janeiro de 2025 na Praça Frei Caneca (Largo do Forte de São Thiago das Cinco Pontas) bairro de São José, Recife-PE.”
Ficar de fora, quem há de?

O momento é de reconhecimento à bravura de Caneca, dos seus conhecimentos literários e matemáticos.
Caneca, poeta, em verso disse:

O patriota não morre
vive além da eternidade
sua glória, seu renome
são troféus da humanidade
Frei Caneca, quanto mais se afasta no tempo, mais se vai da Lei da Morte libertando.
Viva Caneca, vivo, mesmo que morto há 200 anos!

Roberto Pereira foi secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

 

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