Depois de ampliar para até as 21h o horário de sepultamento de vítimas da covid-19, a Prefeitura do Recife agora avalia a possibilidade de iniciar até a próxima semana o recebimento de corpos em tempo integral nos cemitérios de Santo Amaro e Parque das Flores. O pleito é das funerárias da capital pernambucana, que não têm para onde transportar os cadáveres quando os óbitos ocorrem à noite, após o fechamento das necrópoles. Por conta da alta transmissibilidade do novo coronavírus, as unidades de saúde pedem que os mortos contaminados sejam levados o mais rápido possível.
“Os hospitais estavam tendo esse problema que estava refletindo na família e na casa funerária. Se o paciente morria 22h, queriam que tirassem o corpo. Mas tirar para levar para onde?”, disse o presidente do Sindicato de Empresas Funerárias de Pernambuco (Sindef-PE), Luís Alves.
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O sepultamentos, no entanto, continuarão a ocorrer só até às 21h. O que mudará é que os dois cemitérios passarão a ter um espaço para acomodar os corpos - devidamente isolados - após esse horário. "(Eles vão) fazer a guarda do corpo para sepultá-lo pela manhã, logo cedo, para não emendar com os outros enterros", explicou Alves. A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), administradora dos cinco cemitérios públicos do Recife, ainda averigua os locais que serão utilizado para este fim. Por isso, afirma que medida ainda está em estudo.
Santo Amaro e Parque das Flores são os equipamentos municipais que tiveram uma área reservada exclusivamente para enterros de mortos por coronavírus, seguindo as diretrizes da nota técnica 4 do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde de Pernambuco (Cievs/PE). O documento, publicado no dia 2 de abril, é o que regulamenta o manejo dos cadáveres infectados com a doença no Estado. O texto é o que proíbe a realização de velórios para esses pacientes; mais um fator que exige celeridade.
Desde então, a fim de evitar o acúmulo de corpos infectados, a Emlurb estendeu o funcionamento das duas necrópoles para enterrar vítimas da doença até as 21h. Para óbitos por causas que não a covid-19, as operações ocorrem só até as 16h. As famílias também podem nos outros três equipamentos da cidade (Tejipió, Casa Amarela e Várzea), mas apenas em jazigos familiares.
Recife sozinho contabiliza 124 dos 282 óbitos e 1.904 dos 3.298 casos confirmados de coronavírus em Pernambuco, de acordo com números da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Procura por serviços funerários para casos de coronavírus cresce 30% no Recife
As funerárias do Recife sentem o crescimento da procura por serviços voltados para casos de Síndrome respiratória aguda grave (Srag), confirmados e suspeitos de coronavírus. De acordo com Luís Alves, as contratações deste tipo subiram 30% de março para abril deste ano. “Até março, foi mais tranquilo. Começou a aumentar o fluxo maior a partir de abril. Todo dia tem tido em média de 15 a 30 sepultamentos (desta população)”, falou.
Apesar de as casas funerárias já serem abertas 24 horas por dia, há particularidades nesse serviço que exigem adaptação, uma vez que o protocolo da Cievs destaca medidas de segurança a serem tomadas por quem entra em contato com o falecido.
“Nossos colaboradores vão munidos de EPI”, afirmou. “Eles são orientados a usar 3 pares de luvas - o primeiro para pegar o saco, depois descarta a luva; com a outra pega o caixão e bota no carro, descarta; e com a última leva o caixão ao cemitério”, descreveu.
Outros detalhes também são percebidos. “Não há demanda de flores. Os caixões não têm ornamentação. As famílias não fazem coroas de flores porque não pode acompanhar”, revelou.
“Ontem eu fiz um serviço no Hospital Agamenon Magalhães em que a família queria comprar uma urna melhor. Mas eu orientei: não vale a pena. Só quem vai acompanhar o serviço é o médico”, comentou. “O corpo tem que sair em dois sacos lacrados, coberto por lençol, em caixão selado.” Do dia 23 de março até o último domingo (19), os cemitérios públicos do Recife registraram 45 enterros de falecidos com a covid-19.
Já em Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR), quatro vítimas confirmadas do vírus foram sepultadas no Campo Santo São José entre o dia 1 de abril e essa quarta-feira (22). Outras 46 vítimas de Síndrome Respiratória Aguda Grave também foram enterradas nesse período. Em relação à março, foi um aumento de 25% nas mortes relacionadas à covid-19, informou a prefeitura.
Em Jaboatão dos Guararapes, também na RMR, foram 29 enterros com suspeita do vírus em abril.
Queda em outros tipos de mortes não deixa balanço crescer
Mesmo com a demanda acrescida para o coronavírus, o balanço geral de enterros e serviços funerários nas empresas e nos cemitérios não sofreu aumento. O motivo é a diminuição do número de mortes por outras causas, em função do isolamento social, na avaliação de Alves. “Morria-se muito por acidente de trânsito; caiu o número de acidentes. As pessoas não estão mais saindo à noite, para beber. Caiu o número de homicídios”, citou.
Em Jaboatão dos Guararapes, por exemplo, houve redução na quantidade de enterros, apontou secretaria executiva de Serviços Urbanos. Os cemitérios Parque da Paz, na Muribeca, e da Saudade, em Jaboatão Centro, tiveram 202 enterros em março deste ano, ante 214 no mesmo mês do ano passado.
Abril também dá sinais de queda na comparação com março. Até esta terça-feira (22), foram notificados 134 sepultamentos este mês no município. Em abril de 2019, foram 159.
Pernambuco tem 3 mil infectados e 282 óbitos
Nessa quarta-feira (22), Pernambuco confirmou 390 novos casos da covid-19, totalizando 3.298 infectados. Também foram confirmadas laboratorialmente 22 novas mortes. O Estado soma 282 óbitos pelo coronavírus.
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