Um lugar repleto de boas intenções e cuidados aos animais passou a ter uma nova face revelada neste fim de semana. Através de um perfil no Instagram, mulheres e adolescentes se reuniram para denunciar casos de assédio sexual, pedofilia e até mesmo uso indevido do dinheiro de doações por parte da Organização Não Governamental (ONG) PetPE, no município de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. O suspeito é o empresário proprietário do espaço, que atende animais em vulnerabilidade desde 2008. O caso está sendo investigado por meio da 2ª Delegacia de Policia de Crimes Contra a Criança e o Adolescente (DPCA), de Jaboatão dos Guararapes.
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Criado justamente para reunir os relatos das vítimas, o perfil expondopetpe começou na última sexta-feira a publicar os depoimentos, em sua maioria sob anonimato. De acordo com o próprio perfil, a iniciativa surgiu a partir do envolvimento de 10 mulheres que não se conheciam, mas chegaram ao lugar comum de compartilharem o papel de vítima nos casos denunciados.
Dentre as postagens feitas no perfil, até este domingo (17) pelo menos 80 publicações, as denúncias se dividem entre casos de assédio contra mulheres e adolescentes voluntárias do projeto e uso indevido do dinheiro que deveria ser destinado à ONG, levando à falta de cuidados necessários aos animais.
"As denúncias estão sendo postadas no próprio perfil no Instagram. Algumas moças mandaram mensagens privadas para mim porque tinham medo de ameaças. Recebi áudios, mensagens contando os casos, mas com muito medo. Expliquei justamente o trabalho em rede para proteção, que envolve não só a polícia, para esses casos, e muitas se encorajaram. Dos 30 casos até agora, acredito que estão denunciando formalmente o acusado", explica a deputada estadual Gleide Ângelo (PSB), que foi demanda pelas vítimas por conta do histórico legislativo e policial no combate à violência contra a mulher.
Ao JC, uma jovem que preferiu não se identificar, relatou ter passado cerca de um ano atuando como voluntária na ONG, mas desistiu após esse período por conta de condutas "suspeitas" na gestão financeira do PetPE e mensagens incômodas enviadas pelo empresário.
"Eu frequentei a ONG entre 2010 e 2011. Não posso dizer que sofri assédio ou vi cenas de maus tratos aos animais, mas realmente parei de ir porque percebi condutas muito estranhas. Não conhecia ninguém lá, era uma ONG perto da minha casa e resolvi ajudar. Ia pontualmente dar banho nos animais no fim de semana, o que eu percebia era que nenhum voluntário parava, havia uma rotatividade muito grande, e sem justificativa. Muitas meninas saíam, e ele (o empresário) sempre falava mal de todo mundo que deixava a ONG", diz a jovem, à época com 21 anos.
Embora só fosse ao espaço nos fins de semana, não era incomum, segundo ela, receber mensagens do proprietário do PetPE, falando em "saudades" e pedindo para que a jovem aparecesse no local durante os dias de semana, "quando não era aberto aos voluntários". "Eu presenciei situações de uma semana não ter dinheiro para prestar atendimento veterinário aos cachorros, mas, na seguinte, o dono aparecer com uma caminhonete nova, alegando ser necessário para transporte dos animais às feiras de adoção. De fato, ele tem outros negócios, mas essas situações sempre eram muito incoerentes", complementa a jovem.
Investigação
De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), desde o último sábado (16), "assim que houve ciência do conteúdo postado em uma rede social", foi feito contato com a pessoa que criou o perfil na rede social e foi combinada a tomada de depoimentos das vítimas, dando início às diligências.
O caso está sendo investigado por meio da 2ª Delegacia de Policia de Crimes Contra a Criança e o Adolescente (DPCA), de Jaboatão dos Guararapes, sob responsabilidade da delegada Vilaneida Aguiar. A PCPE diz que mais detalhes sobre o caso não podem ser passados para "preservar as identidades das vítimas e não atrapalhar as investigações".
O grande volume de denúncias de uma única só vez, para Gleide Ângelo, denota o medo que muitas mulheres ainda têm em denunciar casos de violência e abusos como esse. "Alguém começa e as outras vão se e encorajando e denunciando. Tem casos de cinco, dez anos, então a polícia vai colher os depoimentos e a delegada Vilaneide Aguiar vai elencar o que poderá ser oferecido como denúncia ou até mesmo o que já pode ter prescrevido. É importante que mesmo em se tratando de casos antigos, as vítimas denunciem porque o depoimento vai ser usado para fortalecer outra investigação. A partir daí a polícia vai ver o que poderá ser passível de abertura de inquérito e denunciar os crimes". explica.
Em Pernambuco, além do 190 Mulher, a deputada alerta para outros meios, não só de denúncia, mas também proteção, como a as casas abrigo, o centro de referência da Secretaria da Mulher e a patrulha Maria da Penha.
O perfil expoepetpe diz apenas estar encaminhando as denúncias formalmente à justiça e reunindo os dados e depoimentos que foram encaminhados ao perfil.
Na mesma rede social, o perfil da PetPE saiu do ar. Um novo foi criado restringindo o acesso de visitantes. Procurado, o empresário denunciado não atendeu aos telefonemas do JC, assim como o número celular indicado como de propriedade da ONG. No seu site, a ONG PetPE se diz responsável pelos cuidados a animais abandonados e vítimas de maus tratos, pedindo doações mensais através de cartões de crédito.
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