COVID-19

Pandemia do novo coronavírus afeta quadrilheiros e trabalhadores no São João

ara quem faz a festa acontecer, o pesar pela situação ainda divide espaço com as dificuldades enfrentadas por aqueles que vivem de atividades relacionadas ao período festivo

Amanda Rainheri
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Amanda Rainheri
Publicado em 24/05/2020 às 13:13 | Atualizado em 24/05/2020 às 13:13
Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR
Além dos cinco prêmios principais, foram entregues troféus nas seis categorias avaliadas pelos jurados - FOTO: Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Era para ser uma época de preparativos para a festa mais nordestina do ano. Mas em 2020, não haverá fogueiras nas ruas, nem o arrasta-pé que embala multidões. Não haverá o brilho das quadrilhas, o som dos traques de massa, nem a decoração com bandeiras coloridas que anuncia a chegada do São João. Com a pandemia do novo coronavírus, as festividades foram suspensas no Estado. Para quem faz a festa acontecer, o pesar pela situação ainda divide espaço com as dificuldades enfrentadas por aqueles que vivem de atividades relacionadas ao período festivo.

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Pelo calendário, o ciclo pré-junino para as quadrilhas deveria ter iniciado no dia 1º de maio, mas as atividades foram canceladas pela Federação de Quadrilheiras Juninas e Similares de Pernambuco (Fequajupe) devido às restrições impostas pela pandemia. “A situação está bastante complicada. Hoje todas as quadrilhas e fazedores de cultura estão parados. Muitos tiveram gastos com os trabalhos, como confecção de figurino, mas infelizmente entendemos que é por uma boa causa. Para o governo, a prioridade é a pandemia neste momento, o que é correto”, afirma Michelly Miguel, presidente da Fequajupe.

Conhecida como a Broadway do São João pernambucano, a quadrilha Lumiar, do Pina, estava bastante adiantada para o ciclo junino de 2020 antes da pandemia. “Em janeiro, fizemos o lançamento do tema e vínhamos estudando o repertório. Já tínhamos o piloto do figurino e havíamos feito, inclusive uma exibição no Teatro Barreto Júnior", conta o presidente e marcador Fábio Andrade. O figurino do espetáculo Luz de Tieta seria confeccionado em Fortaleza, no Ceará, e era lá que o presidente estava dois dias antes do isolamento social ser decretado. "Voltei muito assustado. Pedimos que todos os materiais fossem guardados e paramos tudo o que estava sendo produzido", conta. Segundo Fábio, os preparativos para a temporada 2020 estão cancelados e, para não perder o trabalho realizado até agora, o tema deverá ser utilizado em 2021. A Lumiar tem cerca de 200 integrantes, entre os quadrilheiros e equipe de execução.

A Dona Matuta, de San Martin, atual campeã do concurso de quadrilhas promovido pela Fequajupe, também paralisou as atividades. "Desde que a pandemia começou no País, suspendemos os ensaios, entendendo que chegaria aqui. Chegamos a criar o piloto do figurino, mas ele não foi feito. É um ano em que estamos parados", afirma o presidente George Araújo. Os mais de 100 integrantes se reúnem virtualmente. Foi assim que comemoraram os 14 anos da quadrilha, no último dia 16. Para ele, não há sentido em transferir as festividades para depois do período de isolamento. "Não iremos mobilizar nosso grupo apenas para dançar. O ciclo junino tem várias características próprias dele, como o clima, a colheita do milho. Se for em outubro, não é São João, é um momento para apresentações", opinou.

O ano de 2020 seria especial para a Rainha Sertaneja, do município de Arcoverde, no Sertão pernambucano. Criada em 2015, ela paralisou as atividades nos últimos dois anos e faria a reestreia neste São João. "Já estávamos com ensaios e figurinos encaminhados e tudo parou. Todo nosso trabalho é feito a partir de doações e ficamos sem saber o que fazer em um primeiro momento, até para dar alguma resposta para quem nos ajudou", conta Wilton Freire, presidente da quadrilha. A solução encontrada por eles foi a de finalizar toda a produção quando a pandemia acabar e gravar um DVD com a apresentação.

A pandemia do novo coronavírus não afetou apenas os quadrilheiros, mas toda a cadeia envolvida no São João. Marcelo Lopes, de 45 anos, é costureiro e trabalha com quadrilhas desde 1996. Especialista em figurinos masculinos, ele chegou a preparar as roupas de uma quadrilha do interior e o piloto de outra da capital. "Agora estou parado, é uma situação muito difícil. Consegui terminar 20 figurinos e foi o que me ajudou. Comecei o ano com todo um planejamento, porque também trabalho Carnaval e Natal, e agora a situação é esta. Estamos na expectativa de que isso passe logo."

O motorista Edcley Pereira, 36, trabalha com turismo e também faz o transporte das quadrilhas nesta época do ano. "Estou sem prestar o serviço. A gente não esperava essa pandemia e o sentimento está sendo terrível, principalmente no aspecto financeiro", conta ele. "O turismo foi o primeiro setor a ser afetado e possivelmente será o último a retomar as atividades. Não estou em situação pior porque tenho um trabalho de carteira assinada, então consigo me virar."

Procurado, o Governo de Pernambuco disse não ter um posicionamento sobre o possível adiamento do São João. A Prefeitura do Recife informou, em nota, que as definições sobre o São João "serão anunciadas em momento oportuno". Já a Prefeitura de Caruaru, no Agreste do Estado, afirmou que "as equipes estão estudando um modo para viabilizar as apresentações dos grupos de cultura popular" e que "não haverá evento público em virtude da pandemia da Covid-19."

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