Pandemia

Em meio à pandemia, abrigos de Pernambuco lutam para cuidar do físico e emocional de seus idosos

Com as medidas de isolamento social e a crise econômica provocada pela pandemia, visitas foram suspensas e a arrecadação de recursos está em queda nos lares de longa permanência

Vanessa Moura
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Vanessa Moura
Publicado em 18/06/2020 às 14:39 | Atualizado em 18/06/2020 às 19:02
BIANCA SOUZA/ACERVO JC IMAGEM
Cuidador de idosos - FOTO: BIANCA SOUZA/ACERVO JC IMAGEM

É notório o quanto a pandemia do novo coronavírus têm agravado situações de vulnerabilidade social, emocional e econômica. Quando levamos em conta os mais de 3.600 idosos que residem em casas de acolhimento espalhadas por todo o Estado de Pernambuco, percebemos o quanto a pandemia pode certamente ser mais cruel para determinado grupo de pessoas. São estes idosos, que, além de enfrentarem o medo por pertencerem ao grupo de risco da covid-19, ainda precisam lidar com a solidão imposta pelo afastamento social. Não bastasse isso, a crise econômica provocada pela pandemia também acentuou a queda no número de doações para estas instituições.  

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Em uma das mais antigas instituições de longa permanência para idosos de Pernambuco, chegou a faltar ovos. O Abrigo Cristo Redentor, localizado no bairro de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, foi construído há 77 anos e abriga 115 idosos, a maioria abandonados pelos familiares. De acordo com Madalena Albuquerque, voluntária do setor de captação da instituição, as doações que mantém o local diminuíram significativamente. "As doações caíram muito, até porque as pessoas muitas vezes não têm doações em dinheiro, mas têm em alimentos, e acabam ficando preocupadas de vir até aqui. Nessa semana chegou a faltar ovos para os idosos e eles não podem ficar sem ovos, é uma proteína de grande necessidade para eles tanto no café da manhã quanto no jantar", disse a voluntária. 

Divulgação/Abrigo Cristo Redentor
Abrigo Cristo Redentor - Divulgação/Abrigo Cristo Redentor

Marcel Libório, de 78 anos, é um dos moradores mais ativos do abrigo. Em tempos normais, o homem costumava sair sozinho para ir até o banco, agora, por conta da pandemia e das medidas de isolamento, Marcel não pode mais sair. Questionado sobre a dureza deste período, ele alegou que, apesar de todas as dificuldades, é grato pelas doações que o abrigo em que mora recebe. "Agradeço muito aos doadores, tanto os antigos, quanto os mais novos. As doações, independente do valor, são muito importantes para todos os abrigados, então quem não doa e puder começar a doar, nós agradecemos muito", disse. Ele, que tem quatro filhos, não mantém contato com a família há bastante tempo e admite sentir falta de receber visitas.

Quando os primeiros casos da covid-19 vinham se confirmando em Pernambuco, o Governo Estadual enviou uma nota técnica com recomendações específicas de cuidados a serem tomados nas instituições de idosos, desde procedimentos de higienização, até a tomada rápida de decisões ao perceber possíveis sintomas. Neste documento, consta a medida que proíbe visitas aos abrigos de longa permanência.

Segundo Esmeralda Moura, gerente de educação e assistência social, da Santa Casa de Misericórdia do Recife, estes primeiros dias da pandemia foram os mais complicados para as 50 idosas que vivem no Centro Geriátrico Padre Venâncio, localizado no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. "A proibição das visitas externas e familiares logo de cara gerou um impacto muito ruim. Foi necessário explicar muito bem o que estava acontecendo para que elas se sentissem mais calmas e seguras", contou.

Divulgação/Duda Carvalho
Centro Geriátrico Padre Venâncio, localizado no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife - Divulgação/Duda Carvalho

De acordo com Esmeralda, todo o protocolo de higienização foi realizado de forma detalhada desde o início. Até mesmo uma parte do quadro de funcionários do Centro foi afastado para que não houvessem riscos de contaminação das moradoras. Paralelo à este cuidado sanitário, a equipe do abrigo buscou trazer também conforto psicológico.

"Tivemos um cuidado muito grande com relação a este isolamento, para que elas não se ressentissem desse distanciamento, e para que isso não afetasse a imunidade delas. O espírito que precisa permear a vida do idoso é de atenção, lazer, alegria e nós tínhamos muito essa prática de interação. Oferecíamos com frequência passeios, festinhas, eventos, e aí de repente tudo muda. É óbvio que elas se ressentem". Para ela, as ligações e vídeo-chamadas com familiares, amigos e voluntários têm sido de grande importância para estabilidade emocional das moradoras.

Em questões financeiras, o Centro Geriátrico mantém periodicamente diversas campanhas de arrecadações de recursos tanto financeiros quanto materiais. "Fazemos campanhas para arrecadação de gêneros alimentícios, fraldas geriátricas, leite em pó, material de limpeza geral, material de higiene pessoal e estamos junto à sociedade para despertar as pessoas para questão da solidariedade. Manter uma instituição como essa não é fácil e nós precisamos da ajuda de todas as pessoas, e de todas as formas.", revelou a gerente.

Esmeralda garantiu que, além das doações de recursos, a doação do tempo e da presença de cada um também é extremamente importante. Para ela, um momento como esse pode despertar nas pessoas um espírito solidário que será capaz de trazer transformações quando este difícil período passar. "No geral, a gente não pede só recursos financeiros e materiais, a gente pede visitação e presença. Gostamos daquela adoção da visita e de estar trazendo alegria pras nossas internas, e isso funciona muito. Nesse momento a gente não pode pedir essa presença, mas a gente lembra que tudo isso vai passar e que o contato pessoal e físico vão retornar em algum momento, então essa é uma semente", finalizou.

O Centro Geriátrico Padre Venâncio completou 92 anos de existência na última quarta-feira (17). O “Asyllo da Velhice Desamparada”, como era conhecido no passado, ganhou o nome do seu fundador, o Padre José Venâncio de Melo, e abriga hoje cerca de 50 idosas. 

No Lar Esperança de Vida Luiz de Oliveira Neves, localizado em Pesqueira, no Agreste do estado, algumas ações emergenciais foram tomadas para que os idosos pudessem passar pelo período de isolamento social de uma forma mais leve. A responsável administrativa do local, Jeane Lima de Oliveira, contou que diversas iniciativas tiveram de ser elaboradas de forma rápida para que os idosos conseguissem se manter saudáveis emocionalmente neste período difícil. 

"Sabendo que isolamento não é bom pra ser humano nenhum, principalmente nessa fase de vida e para um idoso institucionalizado, por isso tivemos que nos organizar e providenciar ações e atividades que pudessem suprir as necessidades dos nossos moradores. Desde o início da pandemia nós estamos realizando vídeo-chamadas entre os idosos e seus familiares e amigos. Além disso, atividades de dança, musicoterapia, conto de histórias e palestras estão acontecendo de forma online, para que todos possam ter a menor quantidade de danos psicológicos e emocionais possível", explicou Jeane. 

Além das atividades de lazer e entretenimento, o lar agrestino encontrou uma saída prática e bastante solidária. Como forma de ocupar o tempo e a mente dos idosos, um desafio foi lançado: confeccionar 500 máscaras de proteção para serem, posteriormente, distribuídas para pessoas das comunidades no entorno do abrigo. Além disso, 24 cápsulas de proteção para profissionais de saúde foram doadas aos hospitais da região. 

"Eles sabem muito bem o que está acontecendo em todo o mundo, explicamos tudo direitinho para que eles estejam sempre cientes, então foi muito importante, até mesmo para eles, encontrarem uma forma de ajudar ao próximo. Fiz uma reunião e perguntei se eles queriam se envolver nesta ação e todos participaram. Alguns mais e outros menos, mas descobri muitos artistas. Foi muito bom, 500 máscaras foram confeccionadas, claro que com a ajuda e o acompanhamento dos funcionários, e eles se sentiram muito bem", completou Jeane. 

Divulgação
Produção de cápsulas hospitalares no Lar Esperança de Vida Luiz de Oliveira Neves, em Pesqueira. - Divulgação
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Produção de cápsulas hospitalares no Lar Esperança de Vida Luiz de Oliveira Neves, em Pesqueira. - Divulgação
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Produção de cápsulas hospitalares no Lar Esperança de Vida Luiz de Oliveira Neves, em Pesqueira. - Divulgação

Veja como ajudar 

Abrigo Cristo Redentor, em Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes

Para doações em dinheiro:

Banco do Brasil
Agência: 4118-1
Conta corrente: 17.111-5
Razão social: Obra de assistência aos mendigos e desamparados da cidade do Recife 
CNPJ: 10.424.810/0001-29

Para doar mantimentos, basta levá-los até o abrigo ou entrar em contato para que um motorista vá buscar. 

Contatos: (81) 3257.8000 / (81) 9 8863.5693

Lar Esperança de Vida Luiz de Oliveira Neves, Pesqueira

Razão social: Lar dos Idosos
Caixa Econômica Federal
Agência: 0775 OP. 013
Conta poupança: 13.753-3

Contato: (87) 99164.1144

Centro Geriátrico Padre Venâncio

Razão Social: Irmandade Santa Casa de Misericórdia
CNPJ: 10.869.782/0001-53

Banco Santander
Agência: 3909
Conta corrente: 1300252408

ou 

Centro Geriátrico Padre Venâncio

Banco Santander
Agência: 3909
Conta corrente: 13002511-4

Contato: (81) 3271-0352

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

 

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