Se os 51,2 mil brasileiros que morreram de covid-19 fossem a população de uma cidade, teria uma população maior do que 88,22% dos municípios do País. Se essa cidade ficasse em Pernambuco, seria o 36º maior município; quase do tamanho de Limoeiro. É como se nos três meses desde a primeira morte causada pela doença no Brasil, toda a população de Toritama tivesse deixado de existir.
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“É devastador isso. Aterrorizante. Quer dizer que a gente está matando cidades desse tamanho sem ligar, sem dar a devida importância. A gente não faz sequer uma hashtag para essas pessoas. Se tivesse caído um avião, as pessoas estariam se mobilizando mais”, afirma Jones Albuquerque, pesquisador do Lika-UFPE, laboratório que tem analisado os dados da pandemia em Pernambuco.
Da última vez que o Lika estimou quantos óbitos a doença causaria no Brasil, chegou ao número de 200 mil óbitos até o fim da pandemia. O equivalente a população do Cabo de Santo Agostinho, sétima maior cidade de Pernambuco. “No Brasil, há pouquíssimos municípios que não têm casos confirmados. Isso se nós olharmos para os casos que foram medidos. E há muita subnotificação, assumindo que nós só testamos um milhão de pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde. Ainda assim, é uma parte muito pequena da população que já foi contaminada pela doença”, explica.
Economia
O resultado do número de mortes pode ser sentido na economia, com as restrições da atividade econômica e a perda de milhares de pessoas que poderiam integrar a nossa força de trabalho. Manari, único município sem casos de covid-19 em Pernambuco, segundo a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), conseguiu esse feito a um custo. O prefeito Van de Otaviano (PSDB) conta que, além das barreiras sanitárias na entrada do município, há restrições de circulação. Pessoas que não moradoras do município, ao entrarem, devem cumprir uma quarentena de duas semanas. Além disso, cada estabelecimento comercial - e apenas os que oferecem serviços essenciais - só tem permissão receber um cliente por vez. “Quando uma desocupa a outra pode entrar e a vigilância em cima monitorando 24 horas”, resume o prefeito.
Um estudo da Rede de Pesquisa Solidária, coalizão que reúne pesquisadores de 21 instituições, estima que oito em cada dez trabalhadores brasileiros estão sujeitos a algum nível de vulnerabilidade econômica por causa da pandemia. Eles podem ter que enfrentar desde redução de salário até a perda de emprego. O levantamento mostrou que a pandemia pode afetar mais as mulheres, menos presentes em setores essenciais, e negros, que são maioria entre os trabalhadores informais.
A paralisação das atividades também terá impactos diferentes em cada região. “O Nordeste e Norte, comparado com o resto do país, têm uma maior presença de trabalhadores em setores essenciais, como alimentos, saúde e setor público. Isso faz sentido se você considerar que o Sudeste têm uma economia mais diversificada. Por outro lado, o mercado de trabalho do Nordeste é mais fragilizado e menos estruturado, com uma maior proporção de trabalhadores informais”, diz Ian Prates, sociólogo do Cebrap e coordenador do estudo.
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