protesto

Comerciantes informais que tiveram fiteiros retirados no Centro do Recife voltam a protestar

O ato é uma homenagem a morte do fiteirista David Brito, mas trabalhadores também cobram respostas da Prefeitura do Recife

Manuela Figuerêdo
Cadastrado por
Manuela Figuerêdo
Publicado em 05/08/2020 às 12:17 | Atualizado em 06/08/2020 às 7:55
Priscila Urpia/APIR
Comerciantes homenageiam o fiteirista David Brito e questionam a Prefeitura do Recife - FOTO: Priscila Urpia/APIR

Trabalhadores informais do bairro de São José que tiveram seus fiteiros removidos pela Prefeitura do Recife voltaram a protestar nesta quarta-feira (5) na Praça Dom Vital, localizada no Centro do Recife. O ato é em homenagem ao fiteirista David Brito, de 70 anos, falecido na última terça-feira (4) devido a um infarto. Segundo a Presidente do Associação de Trabalhadores Informais do Recife (APIR), Alessandra Fonseca, ele estava com depressão em decorrência da ausência de atividades. O ato também cobra respostas da Prefeitura. Os trabalhadores alegam que não foi feita nenhuma negociação para a remoção dos fiteiros. No local, há cerca de 10 pessoas.

>>Prefeitura do Recife remove pontos de fiteiros no bairro de São José

“Todo mundo conhecida David Brito”, afirma a trabalhadora informal da região há 21 anos, Ivanise Eunice, de 55 anos. “Ele era muito querido por todos nós e vai fazer muita falta. Ele era um ícone do mercado de São José”, relembra sua colega de trabalho. Há mais de 50 anos trabalhando na Praça Dom Vital, David era também poeta, compositor e escritor de novelas. Vender e consertar óculos era o que gostava de fazer no seu tradicional ponto da esquina da antiga panificadora Sian, onde só faltou uma vez para o trabalho: quando sua mãe faleceu.

Com idade avançada, Brito representava boa parte dos 23 trabalhadores que foram retirados: idosos. Depois que perdeu seu ponto, ele ficou isolado em casa e depressivo. “Tiraram dele o que ele fazia de melhor, que era trabalhar”, comenta o também comerciante informal Ednaldo Santos, de 43 anos, dos quais 12 foram trabalhando em seu fiteiro da Praça Dom Vital. A presidente da associação reforça que assim como Brito, mais quatro trabalhadores encontram-se em quadro depressivo. “Quantas pessoas vão ter que morrer para algo ser feito?”, indaga Alessandra.

Jailton Júnior/JC Imagem
Comerciantes homenageiam o fiteirista David Brito e questionam a Prefeitura do Recife - Jailton Júnior/JC Imagem
Jailton Júnior/JC Imagem
Comerciantes homenageiam o fiteirista David Brito e questionam a Prefeitura do Recife - Jailton Júnior/JC Imagem
Priscila Urpia/APIR
Comerciantes homenageiam o fiteirista David Brito e questionam a Prefeitura do Recife - Priscila Urpia/APIR
Priscila Urpia/APIR
Comerciantes homenageiam o fiteirista David Brito e questionam a Prefeitura do Recife - Priscila Urpia/APIR
Priscila Urpia/APIR
Comerciantes homenageiam o fiteirista David Brito e questionam a Prefeitura do Recife - Priscila Urpia/APIR

Remoção dos fiteiros

Como parte do projeto de revitalização do Largo do Mercado de São José, em andamento desde o ano passado, o comércio informal vêm sendo movido da rua para anexos espalhados no bairro - no Centro Comercial do Cais de Santa Rita e no Anexo do Mercado de São José. No entanto, esses trabalhadores afirma que não tem outro local para ir. Foi durante o lockdown na cidade do Recife, no dia 21 de maio, que os fiteiros que sustentam informais como Ivanise e Ednaldo foram retirados pela Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (DIRCON).

“Eles não avisaram que iam remover. Eu descobri por outras pessoas e quando cheguei lá fui retirar minhas coisas e avisei para outras pessoas também”, comenta Ednaldo. Segundo Alessandra, faz mais de 60 dias que eles estão tentando contato com a Prefeitura para retornarem ao local mas ainda não conseguiram nenhuma negociação.“Por isso, semana passada nós fizemos o protesto. Eles disseram que o assunto era de extrema urgência e ainda nada foi feito nem conversado”, comenta. Enquanto isso, sem essa renda, os trabalhadores afirmam depender da ajuda familiar ou do auxílio emergencial.

Alessandra ainda alega que, além dos fiteiristas, trabalhadores que realizam atividades de amolação e engraxate estão sendo ameaçados todos os dias por funcionários da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife no bairro de São José. “A Dircon trata todo mundo mal, perseguindo algumas pessoas que precisam trabalhar. Simplesmente eles mandam: ou você guarda o amolador ou a gente confisca”, conta.

“Nós queremos organização que nem a prefeitura quer. Queremos arrumação e limpeza, mas também queremos que tenham consideração pelas pessoas que estão lá há 30, 40, 50 anos. Eles dizem que retiraram pra dar espaço na calçada mas sempre teve espaço. Por que eles não apresentam um projeto? Fazem pouco caso desses trabalhadores”, afirma Alessandra Fonseca. 

Através de nota ao JC, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife (Semoc), explicou que os comerciantes informais em questão foram notificados oficialmente sobre a retirada das barracas desde 2019. "Quando a pasta deu início à requalificação do entorno do Mercado de São José. A Semoc está em discussão com a categoria para indicar novos locais de trabalho, sem que haja ônus à mobilidade da população e que seja boa para os comerciantes. A ação faz parte de um grande projeto de melhoria do bairro de São José, que teve início no ano passado e liberou ruas e calçadas para os pedestres. Os comerciantes receberam bancas e quiosques no Centro Comercial do Cais de Santa Rita e no Anexo do Mercado de São José, com mais conforto e qualidade para as vendas e para os clientes", disse.

Comentários

Últimas notícias