Um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicado na semana passada na revista Science, apontou que o número de mortes por covid-19 no Brasil poderia ser 14 vezes maior se a vacina contra o bacilo Calmette-Guérin (BCG), da tuberculose, não fosse obrigatória.
Os estudiosos estimam que, em 15 de abril, por exemplo, quando Brasil registrava 1.736 óbitos, o número de mortes poderia ter chegado a 24.399 caso o País não adotasse essa política de vacinação obrigatória na infância.
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A pesquisa cita que os países onde a vacina da BCG é obrigatória possui taxas mais baixas de infecção e de morte. Isso porque que a vacina teria efeitos benéficos na imunidade contra infecções pulmonares, o que a tornaria uma candidata importante contra o coronavírus.
Em entrevista para a Rádio Jornal, o pneumologista Blancard Torres, médico no Real Hospital Português, no Recife, defendeu ser necessário mais estudos para constatar a eficiência da vacina BCG contra covid-19.
“Seria uma situação off-label (fora de bula). Acho que não está descartado algum benefício. Eu particularmente acho difícil. É possível que haja alguma proteção. mas a vacina em si não é uma vacina definitiva para tuberculose. Ela pode, de repente, ter um outro tipo de utilidade de algum medicamento que não se usa para uma determinada doença e termina usando para outra. É possível. acho q em ciência é pesquisar, pesquisar, pesquisar, e talvez encontrar”, opinou.
Na visão do médico, a BCG é uma vacina fraca, sobretudo para adultos. “Ela é prioritária no nosso meio porque temos uma incidência muito alta de tuberculose de 0 a 1 ano, e evita as foram graves da doença. Mas é uma vacina fraquíssima”, falou.
“Ela não tem tanta importância do ponto de vista da tuberculose mesmo, se não estaríamos vacinando os adultos - realmente quem adoece mais são os adultos, na faixa produtiva -, e resolvendo o problema da tuberculose”, completou. “A vacina tem que fazer parte do calendário. Não estou falando que ela tem que ser descartada. Mas esperamos uma vacina melhor. Até agora não conseguimos”, falou. “É uma doença de pobre. E a indústria farmacêutica infelizmente não está muito interessada em resolver.”
Torres pontua que o lado positivo da BCG é que ela traz uma memória imunológica celular. “Então se o organismo for de novo atacar alguém vacinado, ela detém o microrganismo”, explicou. Em contrapartida, ela pode ser perigosa para uma parte da população: “um inconveniente seríssimo: em pacientes com CD4 (tipo de célula do sistema imunológico) baixo ou com HIV positivo, ela pode desenvolver a doença.”
Segundo ele, o desenvolvimento de uma nova vacina, baseada no DNA do bacilo, está em produção. “Mas provavelmente as vacinas estão encaminhando para a covid, e essas doenças vão ficar para trás um pouco”, concluiu.
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