Saúde

UFPE integra pesquisa sobre os impactos do isolamento social na saúde de idosos brasileiros

Preocupados com a saúde de idosos, pesquisadores de diversas universidades brasileiras, incluindo a Universidade Federal da Pernambuco (UFPE), deram início, no mês de maio, a um estudo para avaliar os impactos da quarentena na mobilidade dos idosos no período de um ano

Mayra Cavalcanti
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Mayra Cavalcanti
Publicado em 08/09/2020 às 11:48 | Atualizado em 08/09/2020 às 12:19
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Falta de planejamento financeiro é um dos motivos para a inadimplência entre os idosos - FOTO: Reprodução/ Pixabay

Há cerca de seis meses mantendo o isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus, a aposentada Maria Alice Santos, de 78 anos, viu sua rotina de atividades físicas mudar neste período. Com a suspensão das aulas de hidroginástica, que ela fazia três vezes por semana, surgiram as dores no corpo e inchaço nos pés. O tempo sem fazer os exercícios também afetou o seu emocional, gerando dificuldades de dormir e de comer. Preocupados com a saúde de idosos como Alice, pesquisadores de diversas universidades brasileiras, incluindo a Universidade Federal da Pernambuco (UFPE), deram início, no mês de maio, a um estudo para avaliar os impactos da quarentena na mobilidade dos idosos no período de um ano.

O estudo é dividido em partes, quando serão aplicados questionários em 1.483 idosos brasileiros. A primeira fase da pesquisa foi encerrada e os questionários do segundo trimestre começaram a ser respondidos em agosto. De acordo com a coordenadora da pesquisa em Pernambuco, a professora Etiene Fittipaldi, do Departamento de Fisioterapia da UFPE, do total de pessoas participantes, 633 são nordestinas e 134 pernambucanas. Dos idosos que responderam ao questionário, cerca de 69% afirmaram que realizavam atendimento médico ou fisioterapêutico antes da pandemia, assim como faziam atividades como hidroginástica e acupuntura.

"Ao respeitarem o isolamento, pararam de realizar as atividades. Isso nos preocupa pela própria condição da idade, já que eles têm redução da massa muscular, perda de força", avalia a pesquisadora. Ainda segundo ela, os resultados preliminares da pesquisa mostraram que, a idade média dos participantes pernambucanos foi de 68,7 anos; 74,6% são do gênero feminino, 44% são casados e 81,3% têm nove ou mais anos de escolaridade. Pernambuco é o quarto estado brasileiro com maior número de idosos que responderam às perguntas, ficando atrás apenas do Ceará, de Minas Gerais e de São Paulo.

Além dos quatro, o estudo também é desenvolvido nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Amazonas, Pará, Alagoas, Bahia, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, sob a coordenação geral da professora Mônica Perracini (Unicamp/Unicid). Além da avaliação do impacto na mobilidade, o grupo de pesquisadores, que fazem parte da Rede de Estudo em Mobilidade no Envelhecimento (Remobilize), também querem saber da repercussão do isolamento na saúde mental dos participantes.

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A aposentada Maria Alice Santos, de 78 anos, fazia hidroginástica três vezes por semana antes da pandemia - ACERVO PESSOAL

"Muitos estão com sintomas de depressão, que é natural neste contexto de pandemia, já que não veem os familiares e os amigos. Por isto fizemos algumas perguntas neste sentido, e muitos deles referiram estar tristes, sem vontade de fazer as coisas", relata Etiene. Para a aposentada Maria Alice Santos, este é um dos principais desafios do período de isolamento social. Com receio de contrair o novo coronavírus, a idosa está em casa desde o mês de março. "O melhor do dia era o encontro com as amigas. A gente conversa pela internet, mas todas estão com medo de voltar para a hidroginástica. Está sendo muito ruim esse tempo, bate aquela parte emocional, uma tristeza", comenta Alice.

Etiene explica que a ideia, após concluído o estudo, é de se juntar com pesquisadores da área de políticas públicas para avaliar o que se pode fazer para amenizar os prejuízos sofridos pelos idosos durante a pandemia. A professora alerta que os idosos podem voltar lentamente com suas atividades, como caminhadas ou ir à feira, mas que este retorno deve ser feito com muita cautela e obedecendo as recomendações das autoridades sanitárias. "Estamos vendo que os locais estão com grande número de pessoas, sem uso da máscara, e isso é preocupante. Então é possível esse retorno com as regras de segurança de manter a distância, ter sempre álcool em gel, evitar se aproximar e tocar as pessoas além de buscar ir em horários mais cedo, que tenha menos gente para que não fiquem aglomerados", acrescenta.

Os questionários são respondidos pelos idosos por meio de computador, tablet ou celular, e o procedimento pode ser feito com o auxílio de filhos e netos, caso o entrevistado tenha dificuldade para mexer em equipamentos eletrônicos. A ideia é acompanhar o mesmo grupo até maio do ano que vem, aplicando o questionário com três, seis e doze meses.

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