EDUCAÇÃO

Professores da rede estadual de Pernambuco decretam estado de greve

Os docentes decidiram, nesta quinta-feira (24), em assembleia do Sindicato de Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), entrar em estado de greve e não retornar às atividades presenciais

Amanda Azevedo
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Amanda Azevedo
Publicado em 24/09/2020 às 19:43 | Atualizado em 28/09/2020 às 11:17
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
O Fundeb financia a educação básica no país - FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Atualizada às 08h35 do dia 25 de setembro

Professores da rede estadual de Pernambuco decidiram, nessa quinta-feira (24), em assembleia virtual do Sindicato de Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), decretar estado de greve e não retornar às atividades presenciais. Para a categoria, não há a segurança necessária à reabertura das escolas. A retomada está programada para acontecer de forma gradual, a partir do dia 6 de outubro. Neste primeiro momento, está autorizado o retorno dos alunos do 3º ano. Nesta sexta-feira (25), o Sindicato dos Professores do Recife (SIMPERE) fincou cruzes no Pátio da Basílica de Nossa Senhora do Carmo, na Avenida Dantas Barreto, em ato que também protesta contra a flexibilização.

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A assembleia, que contou com a participação de mais de mil professores, aconteceu após reunião da categoria com o secretário de Educação de Pernambuco, Fred Amancio, no início da tarde. "A primeira medida é o posicionamento de não retornar às atividades presenciais. Além disso, junto à assessoria jurídica, vamos ver os melhores caminhos para ações na justiça. Também decretamos estado de greve e mantivemos a decisão de continuar o diálogo com o governo", explicou o presidente do Sintepe, Fernando Melo.

Um novo encontro com o secretário de Educação está marcado para a segunda-feira (28). Dois dias depois, na próxima quarta-feira (30), às 14h30, a categoria volta a se reunir em assembleia.

Leia a nota do Sintepe

Em Assembleia Geral virtual realizada na tarde desta quinta-feira, 24 de setembro de 2020, Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação, representados pelo Sintepe, aprovaram os seguintes encaminhamentos:

1. Não retornar às atividades presenciais na rede estadual de ensino;

2. Divulgar amplamente o parecer da Rede Solidária em Defesa da Vida contra o retorno às aulas presenciais no Estado de Pernambuco;

3. Entrar com ação jurídica contra o retorno às atividades presenciais na rede estadual de ensino;

4. Estado de Greve;

5. Participar de reunião com a Secretaria de Educação na próxima segunda-feira, 28 de setembro;

6. Realizar mais uma Assembleia Geral virtual na quarta-feira, 30 de setembro às 14h30;

O Sintepe solicita que Trabalhadores/as em Educação de demais interessados/as acompanhem às redes sociais do Sindicato para permanecerem informados.

A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informou, por meio de nota, que tem se reunido com o sindicato e permanece à disposição para o diálogo.

Leia a nota da Secretaria de Educação de Pernambuco

A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco esclarece que desde a suspensão das aulas presenciais nas escolas da Rede Estadual, em 18 de março de 2020, devido à pandemia do novo Coronavírus, têm se reunido com Sintepe, inclusive para a elaboração do protocolo setorial da Educação. A pasta informa ainda que se reuniu com a categoria nesta quinta-feira (24) para dialogar sobre o processo de retomada das aulas presenciais nas unidades de ensino da rede, programada para começar a partir do dia 06 de outubro, e que permanece à disposição para o diálogo com o Sindicato.

Professora de uma escola estadual no Recife, Ricarda Maria Silva, 58 anos, argumenta que, além das escolas não terem as condições adequadas, é difícil supervisionar o comportamento de todos os alunos. "Eu acredito que nenhuma escola está preparada para receber os estudantes para aulas presenciais. Eles já estão um pouco conscientizados do processo, mas sabemos que crianças e adolescentes não assimilaram bem o que preciso para a convivência presencial. Não são somente as máscaras e o álcool em gel que vão evitar o vírus. Por exemplo, nas escolas, não só na minha, só há pias nos banheiros e nas cozinhas. Nenhuma nas áreas comuns. O aluno pode ficar assintomático e mesmo assim passar o vírus para professores e parentes", disse.

A professora Suemys Tavares, 37, que leciona na cidade de Jatobá, no Sertão, avalia que o retorno às aulas presenciais é mais inviável ainda nas escolas do interior do Estado. "Antes mesmo da pandemia de coronavírus, as escolas já não tinham estrutura alguma. Não acredito que vá melhorar, mesmo que digam que sim. Não há segurança para nós e nem para os alunos e as famílias deles. Onde trabalho, por exemplo, a ventilação é péssima. Questões primárias não estão sendo discutidas. Como vai ficar o transporte dos alunos? Em nível de fiscalização, como vai chegar aqui? Estamos bem distantes. Esse cuidado vai acontecer? É expor muita gente", afirmou.

Volta às aulas presenciais em Pernambuco 

Os alunos do ensino médio, de escolas públicas e privadas, serão os primeiros a voltar às aulas presenciais em Pernambuco, em outubro. Estudantes da educação infantil e do ensino fundamental permanecerão com atividades online e não há previsão, ainda, de datas para que essas crianças retornem aos colégios. A informação foi repassada pelo governo estadual durante coletiva de imprensa online realizada na tarde desta segunda-feira (21). O Estado completa 188 dias com escolas fechadas, desde 18 de março.

Os concluintes do ensino médio, ou seja, alunos do 3º ano, poderão ir pra escola a partir do dia 6 de outubro. Na semana seguinte, em 13 de outubro, retornarão os estudantes do 2º ano. Em seguida, em 20 de outubro, retomam os adolescentes do 1º ano do ensino médio.

O governo reforça que o retorno será opcional, ou seja, vai depender da avaliação das escolas e das famílias. E que as datas de retomada podem ser definidas por cada unidade, a partir da data autorizada para cada série. Também destaca que as turmas devem reduzir o número de alunos no modelo presencial.

"De todas as decisões difíceis que precisamos tomar, desde o início da pandemia, o retorno às escolas foi a maior delas. Mesmo com indicadores da covid-19 em queda consolidada desde o final de maio, só agora, com a média móvel de casos e óbitos, além das solicitações de leitos de UTI, no patamar equivalente ao do início de abril, autorizamos a retomada de aulas presenciais no ensino médio”, destacou o governador Paulo Câmara

Retorno opcional

"A decisão do retorno, neste momento, é de competência de cada pai ou responsável. A volta será opcional", ressalta o secretário estadual de Educação, Fred Amancio. "Continuaremos nas nossas escolas estaduais ofertando o ensino remoto. O que sugerimos que aconteça também nas outras redes", diz Fred. "Ao longo de outubro vamos tomar as decisões que envolvem a educação infantil e o ensino fundamental", destaca o secretário de Educação.

São 335.117 alunos matriculados no ensino médio em Pernambuco, de acordo com o Censo da Educação Básica 2019, do Ministério da Educação. Do 3º ano são cerca de 91 mil. Em toda a educação básica há, no Estado, 2,1 milhões de estudantes.

Uma das justificativas para o retorno começar com os vestibulandos é porque eles farão as provas do Enem em janeiro e fevereiro (dias 17 e 24 de janeiro na versão impressa e 31 de janeiro e 7 de fevereiro na versão digital).

Dos 5,8 milhões de inscritos no País, 315.693 responderão o exame em Pernambuco. Também porque os concluintes do ensino médio terão as provas do vestibular seriado da UPE e outros processos seletivos para ingresso no ensino superior.

Cursinhos pré-vestibulares, que absorvem uma grande parcela de candidatos do Enem, também estão autorizados a retomar aulas presenciais a partir de 6 de outubro, segundo o secretário de Educação. "Deverão observar o protocolo, inclusive quanto ao distanciamento, e terão limitação quanto ao número total de estudantes por turma. Vamos regulamentar nos próximos dias", informou Fred.

O governo de Pernambuco informou ainda que alunos, professores e trabalhadores de educação que integram grupos de risco, em escolas públicas e privadas, não devem retornar, caso não tenham se infectado antes. 

O secretário de Planejamento e Gestão, Alexandre Rebêlo, destacou a queda em três indicadores importantes para a decisão da retomada das aulas presenciais: número de casos, número de óbitos e demanda por UTI. “Os índices têm reduzido desde junho, e em setembro, a tendência continua. Ou seja, é o quarto mês de redução consecutivo”, comentou Rebêlo.

Para retornar as aulas, as instituições de ensino precisam observar todas as normas estabelecidas no protocolo. Algumas medidas são o uso obrigatório de máscaras, distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes e entre os equipamentos escolares – como as bancas e cadeiras – lavagem das mãos e uso do álcool em gel, orientações para todos nas escolas, monitoramento e testagem dos casos suspeitos e de seus contactantes.

 

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