COLUNA ENEM E EDUCAÇÃO

Sem aulas presenciais e cansados do ensino remoto, vestibulandos que se preparam para o Enem estão no limite

À tensão da preparação para as provas do Enem se soma o estresse dos feras por estarem longe dos amigos e dos professores. Provas do exame serão no final de janeiro

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 19/09/2020 às 19:38 | Atualizado em 21/09/2020 às 9:11
YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
Fera de medicina, João Gabriel está ansioso por causa da aproximação das provas do Enem - FOTO: YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM

A quatro meses das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcadas para 17 e 24 de janeiro, vestibulandos que estão se preparando para a avaliação lidam com mais desafios trazidos pela pandemia de covid-19 que os demais estudantes da educação básica. A distância dos amigos e das escolas, fechadas em Pernambuco desde março, aumenta a carga de estresse, já tão alta por ser um ano decisivo para ingresso na faculdade. Com aulas remotas há seis meses, muitos jovens estão cansados do estudo virtual, não conseguem se concentrar e sentem dificuldade em manter o ritmo de estudos. A boa notícia é que caso o governo estadual autorize a reabertura das unidades de ensino, as primeiras turmas a voltar serão a de concluintes do ensino médio.

“No início das aulas online, no começo da pandemia, os alunos interagiam. Agora, estão de saco cheio. Quando dou aula, metade das câmeras está desligada. Não participam mais como antes. Muitas vezes, no meio de uma explicação, pergunto qual é a música de maior sucesso de Wesley Safadão ou qual é a capital do Acre. Só para testar e ver quem está prestando atenção”, conta o professor de matemática Marcelo Menezes. Ele também percebeu diminuição do acesso dos alunos às aulas gravadas. “As férias foram antecipadas para abril. São muitos meses seguidos sem pausa. É natural o cansaço para qualquer aluno, ainda mais para os vestibulandos”, comenta Marcelo.

Fera de medicina, João Gabriel Tenório, 18 anos, confirma a percepção do professor de matemática. “Minha turma tem 30 alunos. Só quatro ou cinco, em média, participam mesmo das aulas. A maioria desliga a câmera e não acompanha as aulas. Eu procuro interagir, mas confesso que está cansativo. Sinto muita saudade das aulas presenciais”, afirma João. “Estou muito nervoso por causa do Enem. Faz falta estar com os amigos pois um apoia o outro. Falar pelo celular não é a mesma coisa que se encontrar todos os dias na escola”, diz o jovem, aluno do Colégio Agnes. Para desestressar, ele voltou a tocar violão, instrumento que começou a aprender ano passado.

Deivson Gustavo da Silva, 17, candidato de ciências contábeis, tem tido insônia por causa dos vestibulares. “Todo dia penso no Enem, fico imaginando qual será o tema da redação, se eu vou saber responder as questões. Assisto às aulas pelo celular, mas o ideal seria um computador porque às vezes canso da tela pequena. Também está sendo difícil me concentrar pois moro com minha mãe, duas irmãs e duas sobrinhas. O barulho atrapalha, não tenho um espaço separado para estudar. E moro numa comunidade da periferia. Nos fins de semana, os vizinhos ligam o som alto”, relata Deivson, aluno da Escola de Referência em Ensino Médio Othon Paraíso.

ACOLHIMENTO

Psicóloga do ensino médio do Colégio Fazer Crescer, Leandra Gueiros sugere que as famílias fiquem mais atentas para acolher as dificuldades dos vestibulandos neste momento. “Percebo muitos pais preocupados sem saber como ajudar o filho pois sabem que eles estão no limite. Devo cobrar e mandar estudar? Ou é melhor não exigir tanto? São dúvidas que chegam até nós. Digo a eles que o momento é de acolher, conversar mais, interagir mais com o adolescente. Assistir a um filme ou cozinharem juntos, por exemplo. Achar uma forma para tornar esse processo de preparação para o Enem menos pesado”, recomenda Leandra.

PROTESTO

Pais que defendem o retorno das aulas presenciais nas escolas de educação básica de Pernambuco realizam um ato, neste domingo (20), às 10h, no Segundo Jardim de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. O decreto estadual que suspendeu as aulas presenciais devido à pandemia, datado de 18 de março, vale até terça-feira (22). O manifesto em Boa Viagem está sendo organizado por um grupo de pais que se define como Movimento de Volta às Aulas dos Pais de Alunos das Escolas de Pernambuco.

“Defendemos o direito das famílias escolherem se vão mandar ou não seus filhos para as escolas. Decidimos pelo ato porque percebemos que a discussão estava apenas em grupos de whatsapp”, explica a advogada Fabiana Nunes, mãe de duas crianças. “Muitos colégios estão com tudo pronto para voltar, seguindo todos os protocolos exigidos”, observa. Segundo ela, a ideia da manifestação começou com mães e pais da Escola Americana, mas depois cresceu e agora reúne pais de diversos outros colégios de Recife.

Os organizadores ressaltam a importância de as pessoas irem de máscaras. Fabiana diz que o movimento não tem vinculação com o sindicato dos donos de escolas privadas de Pernambuco. O governo do Estado prometeu analisar os dados da covid-19 na segunda-feira (21) para depois informar sobre o cronograma de retorno das redes pública e privada.

Em Pernambuco, de acordo com o Censo da Educação Básica do Ministério da Educação (dados de 2019), há 2.232.556 alunos da educação básica. O maior número está nas redes municipais, com 1.113.913 estudantes. Em seguida vem a rede estadual, com 575.604 discentes. As escolas particulares absorvem 524.547 alunos, enquanto a rede federal tem 18.492 crianças e adolescentes.

 

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