Saúde

Pernambuco é o que mais fez cirurgias bariátricas pelo SUS no Nordeste; estado é o sétimo no Brasil

No Brasil, em 2019, foram realizadas 68.530 cirurgias do tipo, 7% a mais do que em 2018 (63.969 cirurgias)

JC
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Publicado em 30/10/2020 às 15:00 | Atualizado em 30/10/2020 às 15:08
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A obesidade grave atinge cerca de 13,6 milhões de brasileiros - FOTO: Foto: AFP

Foi no dia 13 de agosto de 2013 que a vida da consultora de vendas Verônica Melo, de 46 anos, começou a mudar. Sem conseguir manter a rotina de boa alimentação, ela ganhou peso. Foram diversas tentativas de emagrecer, mas chegou um momento que não conseguia mais. Com 120 quilos, cansaço constante, dores e inchaço nos pés, ela se submeteu a uma cirurgia bariátrica no Hospital das Clínicas, Zona Oeste do Recife. De lá para cá, foram 64 quilos a menos e uma nova vida.

A história de Verônica ilustra a realidade de 204 pernambucanos, que em 2019 fizeram o procedimento em uma unidade de saúde pública do Estado, segundo dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Com o número, Pernambuco lidera a lista de estados do Nordeste que mais realizam a intervenção no Sistema Único de Saúde (SUS), ficando em sétimo lugar no ranking nacional.

O levantamento foi divulgado na última terça-feira (27) e mostrou que, no ano passado, no Brasil, foram realizadas 68.530 cirurgias do tipo, 7% a mais do que em 2018 (63.969 cirurgias). Este número representa apenas 0,5% das pessoas que possuem obesidade grave, que atinge cerca de 13,6 milhões de brasileiros. Do total de procedimentos feitos em 2019, 12.568 foram no SUS, crescimento de 10,2%, se comparado com o mesmo período de 2018.

Em 2020, entre janeiro e junho, foram 2.859 cirurgias, uma queda de 60% em comparação com o mesmo período do ano passado, possivelmente causado pela suspensão das cirurgias eletivas devido à pandemia do novo coronavírus. Uma das pessoas que conseguiu fazer o procedimento este ano foi a psicóloga Eid Melo, de 35 anos. Com sobrepeso desde a infância e adolescência, ela viu a obesidade se firmando na vida adulta. "Depois da gravidez, fui tentando reverter o ganho de peso de várias formas. Com medicação, com exercício, com dietas restritivas, mas nada foi suficiente", afirma.

Eid explica que chegou aos 102 quilos, mas só se deu conta da gravidade dos impactos na sua saúde quando um médico sugeriu que ela se submetesse ao procedimento. Em agosto deste ano, ela realizou a cirurgia, do tipo gastrectomia vertical (sleeve), que consiste na retirada de parte do estômago. "Apesar da fantasia de que eu perderia muito mais, eu estou satisfeita sim. Hoje eu estou no corpo de antes da gravidez. Para mim, se parasse agora (a perda de peso), já teria valido à pena", explica. Diferentemente de Verônica, Eid optou por realizar a bariátrica através do plano de saúde.

Para Verônica, realizar a cirurgia no SUS demorou menos do que ela esperava. Foi no Hospital das Clínicas que ela fez todo o procedimento necessário no pré-operatório, desde exames como endoscopia, ultrassom e ecocardiograma, até as consultas com nutricionista e psicólogo. Hoje, ela se diz feliz e satisfeita. "No começo, perdi até mais do que precisava, fiquei com 59 quilos. Só no primeiro mês, perdi 22 quilos. Diante de tudo, agradeço muito à equipe do HC, porque o pessoal falava mal e eu vi que não era bem assim. Até antes da pandemia eu participava dos grupos, para dar meu depoimento a quem iria se operar", comenta.

Segundo dados divulgados pela SBCBM, os estados que mais realizaram o procedimento em 2019 foram Paraná (7.456), São Paulo (1.636), Minas Gerais (944), Espírito Santo (656), Rio Grande do Sul (434), Santa Catarina (376) e Pernambuco (204).

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA
Quadro com cirurgias bariátricas pelo SUS nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA

Quem pode fazer a cirurgia bariátrica?

De acordo com a SBCBM, a indicação cirúrgica é baseada na análise do Índice de Massa Corporal (IMC), idade (mais de 16 anos), doenças associadas (diabetes e hipertensão, por exemplo) e tempo de doença (IMC estável há, pelo menos, dois anos e comorbidades). Entre as contraindicações, estão limitação intelectual significativa, paciente sem suporte familiar, quadro de transtorno psiquiátrico não controlado ou graves e doenças genéticas.

Ainda segundo a SBCBM, a diferença entre a cirurgia bariátrica e a metabólica está no objetivo. Enquanto a bariátrica tem como foco a perda de peso, a metabólica visa controlar doenças, como a obesidade, diabetes e a hipertensão.

Ampliar acesso ao tratamento cirúrgico

A SBCBM, nos últimos anos, desenvolveu pesquisas que comprovam a remissão da diabetes em pacientes que fazem a cirurgia metabólica. O procedimento, que é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 2017, está em discussão para que possa passar a ter cobertura dos planos de saúde. Mesmo com os estudos, a SBCBM recebeu parecer negativo da câmara técnica da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para a cobertura pelos planos. Agora, está aberta uma consulta pública no órgão sobre a cirurgia metabólica. Para participar, é preciso acessar o site e pesquisar pela recomendação preliminar "153 - Gastroplastia".

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