Homenagem

Chico Science ganha título de patrono do Manguebeat em Pernambuco

A homenagem é a forma que foi encontrada para celebrar o cantor, que mesmo morto há 23 anos segue vivo na lembrança dos pernambucanos

Jorge Nunes
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Publicado em 30/10/2020 às 17:45 | Atualizado em 15/02/2022 às 9:26
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Francisco de Assis França, o Chico Science, morreu em 1997 em acidente de carro - FOTO: Reprodução

Mesmo 23 anos após sua morte, o cantor Francisco de Assis França, conhecido popularmente como Chico Science não é esquecido pelos pernambucanos. Por conta de sua importância para a música e cultura local e nacional, ele ganhou uma homenagem bastante especial. A ele foi concedido o título de patrono do Movimento Manguebeat, estilo musical de Pernambucano que Chico levou parar o Brasil, conquistando fãs de Norte a Sul do País. Chico morreu no dia 2 de fevereiro de 1997 após trágico acidente de carro. Ele tinha 30 anos de idade e trilhava o sucesso de sua carreira.

A homenagem foi feita pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), que idealizou o projeto ainda no começo de setembro. Entretanto apenas nesta quinta-feira (29), que a Lei Nº 17.092 saiu no Diário Oficial da Casa. Uma das justificativas para levantarem a pauta da entrega do título para Chico foi a representatividade dele no Movimento Manguebeat no início da década de 90.

O texto do projeto fala ainda na relação multicultural do cantor, que se inspirava em James Brown, Grandmaster Flash e Kurtis Blow importantes representantes do soul music e do hip-hop norte-americano. Em entrevista concedida em setembro deste ano ao JC, os deputados estaduais João Paulo (PCdoB) e Tony Gel (MDB) lembram que antes de fazer sucesso, Chico formou o grupo “Orla Orbe”, em 1987, um conjunto de black music, que acabou antes de completar um ano. Logo em seguida ele criou a banda, “Loustal” (em homenagem ao quadrinista francês Jacques de Loustal), que fazia uma mescla do rock dos anos 60 com o soul, o funk e o hip-hop", afirmaram os deputados.

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Chico Science liderou uma renovação na música popular brasileira, como não acontecia desde o tropicalismo, 30 anos antes. O manguebeat foi o primeiro movimento de alcance nacional surgido e difundido no País sem que seus agentes estivessem no Rio de Janeiro ou em São Paulo. A mescla dos ritmos que sempre influenciaram Chico com a cultura nordestina aconteceu em 1991, quando entrou em contato com o bloco afro Lamento Negro, de Peixinhos, no subúrbio de Olinda. O grupo fazia trabalhos nas periferias do Grande Recife, levando ritmos como maracatu rural e o coco de roda com o samba-reggae, para dentro das comunidades.

O grupo Loustral se fundiu ao Lamento Negro, dando início ao grupo “Chico Science e Lamento Negro”, que logo em seguida foi batizado com o nome de “Chico Science & Nação Zumbi”. A estreia da banda foi em junho daquele ano, no espaço Oásis, em Olinda, e rapidamente chamou a atenção do público por conter ritmos diferentes, mas que estavam harmonizados.

Nos dois discos que gravou com a Nação Zumbi, "Da lama ao caos" e "Afrociberdelia", o mangueboy deixou alguns clássicos que não podem faltar no repertório da sua antiga banda. Ambos os álbuns foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone, elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos de música brasileira: Da Lama ao Caos ficou na 13ª posição e Afrociberdelia na 18ª.

Da lama ao caos

Texto especial do repórter Robson Gomes

14 faixas. 50 minutos. Uma voz inconfundível. Uma sonoridade inigualável. 26 anos de história. Qualquer número ainda é pouco para contabilizar o que o lançamento do disco “Da Lama Ao Caos”, de Chico Science & Nação Zumbi, representou para o Manguebeat, para o Recife, Pernambuco, Brasil e o mundo. Através da fusão dos tambores e vários ritmos pop-eletrônicos, esta obra da cena mangue quebrou paradigmas, revolucionou a música, e principalmente, levou seus ouvintes a olhar criticamente às injustiças sociais a partir da visão de um caranguejo com cérebro.

Este poderia ser um domingo qualquer, mas há exatos 23 anos, Francisco de Assis França, um dos criadores deste gênero e vocalista da Nação Zumbi, morria num Domingo de Carnaval. Até hoje, é considerado um gênio, um artista que revolucionou a MPB, que juntou maracatu às guitarras e criou um novo gueto, uma nova música, o novo estilo: o manguebeat.

Maracatu Atômico

Chico passou parte de sua vida brincando nas ruas de Rio Doce, em Olinda, onde começou a ter contato maior com a música. O rapaz, nascido em março de 1966, curtia o som dançante de James Brown, mas gostava inúmeros ritmos: o funk dos anos 70, o hip hop, que despertaria sua paixão pelo graffite, pelo break, pelo som coletivo. Não demorou muito para que uma nova identidade começasse a ser criada pelo próprio, onde ele deixasse de ser Francisco para ser apenas Chico, ou ainda Chico Vulgo.

Em 1986, Chico Vulgo conhece Fred Zero Quatro e o Doktor Mabuse num programa de rádio. Mal sabiam os três que, naquele exato momento, além de iniciar uma longa amizade, estavam estreitando laços para uma revolução musical que estava por vir. Orla Orbe, Bom Tom Radio e Loustal foram as três primeiras bandas que Chico Vulgo emprestava a sua voz e a sua bagagem musical. Nesse caminho, ele conheceu Jorge Du Peixe, Gilmar Bola Oito, Lúcio Maia e Alexandre Dengue. Quando Bola Oito apresentou à banda Lamento Negro, Chico quis juntar forças com a Loustal. Numa rodinha de cerveja, decidiu chamar aquela mistura de ska, psicodelismo e tambores de “Mangue”. E essa fusão de sons diferentes acabaram lhe rendendo o apelido de “cientista da música”. Era o fim do Chico Vulgo e o início do Chico Science e a Nação Zumbi.

A Cidade

No ano de 1992, Chico Science, Fred Zero Quatro e Mabuse passam a morar juntos em um apartamento na Rua da Aurora. Ano seguinte, depois de uns trocados arrecadados num show chamado “Da Lama Ao Caos”, Chico Science e a Nação Zumbi saíram com sua “manguetour” junto com Mundo Livre S/A para São Paulo e Belo Horizonte. Não demorou muito para que aquela sonoridade singular chamasse a atenção de produtores musicais, principalmente após a apresentação desses grupos no Abril Pro Rock A Sony acabou contratando os dois grupos para gravarem seus álbuns de estreia.

No final de 1993, os pernambucanos malungos do Chico Science & Nação Zumbi – formados por Alexandre Dengue no baixo, Canhoto na caixa, Chico Science na voz e samplers, Gilmar Bolla 8 e Gira na alfaia, Jorge du Peixe com alfaia e tonel, Lúcio Maia na guitarra e Toca Ogam na percussão e efeitos – entrariam num estúdio profissional pela primeira vez, em pleno Rio de Janeiro, para dar vida àquele que seria, definitivamente, um trabalho que marcaria a música para sempre: era o início da gravação do disco “Da Lama Ao Caos”, o marco zero do manguebeat, que seria lançado em 1994.

Macô

A Praieira

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