Um levantamento realizado pelo Hospital do Coração, em São Paulo, apontou que, em comparação com o ano passado, quatro em cada dez homens deixaram de realizar consultas com o urologista desde o início da pandemia de covid-19. A diminuição na procura pela especialidade médica também foi sentida em Pernambuco.
Especialista no tratamento do câncer de próstata, o urologista Guilherme Maia afirmou sentir uma "diminuição brutal" na quantidade de atendimentos realizados nos últimos meses. O médico comenta que chegou a implantar a telemedicina em seu consultório, modalidade em que as consultas são realizadas de maneira virtual, mas poucos pacientes aderiram à novidade. A pouca movimentação nos consultórios tem uma explicação: o medo da covid-19. "A maioria dos pacientes que atendo já são idosos e fazem parte do grupo de risco, por isso muitos deles tem receio", analisa o médico.
A situação se torna ainda mais complicada quando o paciente necessita de alguma intervenção cirúrgica. "Alguns deles já foram diagnosticados e precisam fazer a cirurgia, mas já estão adiando há cerca de 6 meses, por conta desse medo", explica o urologista. A preocupação tem motivo, já que a demora pode prejudicar a recuperação do paciente. "Quem adia o tratamento por mais de 3 meses corre o risco de que o câncer evolua para um estágio avançado, podendo não recuperar bem a função erétil e urinária", destaca Guilherme.
O urologista Filipe Tenório também sentiu o impacto da covid-19 no comportamento dos pacientes. Ele destaca que os pacientes que vem recebendo costumam já chegar com alguma queixa. "Como é um câncer que surge na zona periférica da próstata, ele cresce lentamente sem causar sintomas. Quando o paciente sente um incômodo, ele já está em estado avançado, sem chance de cura, apenas de realizarmos tratamentos paliativos", comenta.
Filipe destaca que o homem deve realizar consultas periódicas ao longo da vida. A primeira visita ao urologista deve ser realizada ainda durante a infância, o ideal é que ele retorne ainda durante a puberdade e quando decidir gerar filhos. A partir dos 40 anos, a coleta do PSA (antígeno prostático específico), poderá auxiliar na definição da frequência das visitas. O exame é utilizado para realizar o rastreamento do câncer de próstata em homens assintomáticos.
O ideal é que, a partir dos 45 anos, um check-up anual seja feito. Atualmente, por conta da covid-19, alguns consultórios estão realizando a primeira consulta de maneira virtual, para avaliar os fatores de risco a que o paciente está exposto. O urologista Guilherme Maia destaca que "os hospitais estão prontos" para receber os pacientes neste momento. "As clínicas estão preparadas e nós também contamos com alas separadas", afirma.
Mesmo com 65 anos de idade e fazendo parte do grupo de risco, o comerciante Carlos Monteiro não deixou de comparecer as consultas agendadas com o urologista. Ele afirma que realiza o acompanhamento desde os 40 anos. No ano passado, após uma ressonância, o comerciante precisou lidar com a suspeita de um câncer de próstata. O caso estava sendo acompanhado pelo médico até que, neste ano, Carlos precisou realizar uma biópsia. Ele destaca que a boa relação com o urologista foi essencial em todo o processo "me deu mais tranquilidade porque eu confio no trabalho dele, sei que ele não me pediria nada que não fosse necessário", avaliou. O resultado negativo foi motivo de alívio. Agora, o comerciante deverá continuar realizando um acompanhamento sistemático, duas vezes por ano. "A segurança que ele me dá é muito importante, porque a gente precisa confiar em quem está responsável pela nossa saúde", finaliza.
Novembro Azul
Mundialmente conhecido como o mês de conscientização e combate aos tumores de próstata, o mês de novembro foi o escolhido para a campanha do Novembro Azul, que promove a prevenção da doença. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de 65,8 mil novos casos para cada ano do triênio 2020-2022 no Brasil. No entanto, se diagnosticados precocemente, esses casos têm até 90% de chances de cura.
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