Racismo

Ato no Recife contra a morte de João Alberto em loja do Carrefour teve confusão entre a PM e os manifestantes

Uma mulher do movimento negro foi detida e liberada após prestar esclarecimentos na Delegacia de Boa Viagem, polícia não fez B.O nem Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO)

JC
Cadastrado por
JC
Publicado em 21/11/2020 às 22:37 | Atualizado em 21/11/2020 às 22:37
CIRIO GOMES/ TV JORNAL
Protesto ocorreu na frente de supermercado, na Zona Sul - FOTO: CIRIO GOMES/ TV JORNAL

"Racismo agindo dentro de um ato contra o racismo", assim lideranças do movimento negro em Pernambuco definiram a atuação da Polícia Militar (PM) durante o ato deste sábado (21) em frente ao Carrefour de Boa Viagem. A manifestação foi marcada para encampar a onda de protestos que tomou Brasil depois do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, homem negro que foi espancado e morto por um segurança e um PM em frente a uma loja do Carrefour, em Porto Alegre, na noite da quinta-feira (19). No Recife, o protesto terminou com uma ativista presa, tumulto entre PMs e manifestantes e quebra de cancela e pichações. 

Representantes da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), do Pretivismo, do Fórum de Mulheres de Pernambuco, da Rede Afro LGBT e do Movimento Negro Unificado (MNU), para citar alguns dos grupos, estiveram presentes no protesto. Com bandeiras, faixas e cartazes, o grupo defendeu o boicote à rede varejista após o ocorrido. Na calçada e no asfalto em frente ao supermercado foram escritas frases como  "vidas negras importam vivas" e "fogo nos racistas".

O ato acontecia do lado de fora da cancela do estacionamento, até que alguns manifestantes decidiram quebrar a cancela e entrar no estabelecimento. Um tumulto foi iniciado e a PM tentou deter as pessoas com spray de pimenta. 

"Nosso protesto foi pacífico e ao final da manifestação, quando algumas pessoas mais exaltadas entraram no estacionamento, foi o nosso grupo que pediu calma, que pediu que as pessoas saíssem do estacionamento da loja e voltassem para a rua, para fazermos a dispersão e encerrar o ato. Nenhum de nós provocou ou incitou violência em nenhum momento", diz a Anepe por meio de nota pública. 

A versão da PM se contrapõe a dos manifestantes. "Por volta das 12h20, uma das organizadoras do movimento teria instigado, com uso de microfone e caixa de som, os manifestantes a entrarem no estacionamento do supermercado. Pessoas que participavam da manifestação chegaram a danificar portões, cancelas, câmeras, monitores e picharam as paredes do estabelecimento, só pararam com a atuação da PMPE", diz a PM por meio de nota à imprensa. 

Já de acordo com Anepe, o movimento ficou sem entender qual seria o motivo da prisão da ativista. "Quando estávamos dispersando, recolhendo nossas faixas e cartazes, a polícia tentou prender uma de nossas companheiras. Cercamos a companheira para protegê-la e a PM nos cercou. Em nenhum momento, durante todo o tempo em que esse confronto se deu, a PM informou qual o fundamento legal para a detenção de nossa companheira. Argumentamos várias vezes que ela era justamente uma das pessoas que estava pedindo para as pessoas saírem do estacionamento da loja e voltarem para a rua para encerrarmos o ato", diz a Anepe. 

Confira a nota da Anepe abaixo:

Nós, ativistas da Articulação Negra de Pernambuco, vimos a público, através desta nota, expressar nosso protesto pela ação descabida e desproporcional da Polícia Militar de Pernambuco no dia de hoje.

Entre as 11 e as 13 horas, realizamos uma manifestação em frente ao Carrefour de Boa Viagem, em protesto contra o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos que foi morto a pancadas numa loja dessa mesma rede na cidade de Porto Alegre.

Nosso protesto foi pacífico e ao final da manifestação, quando algumas pessoas mais exaltadas entraram no estacionamento, foi o nosso grupo que pediu calma, que pediu que as pessoas saíssem do estacionamento da loja e voltassem para a rua, para fazermos a dispersão e encerrar o ato.

Nenhum de nós provocou ou incitou violência em nenhum momento.

Quando estávamos dispersando, recolhendo nossas faixas e cartazes, a polícia tentou prender uma de nossas companheiras da Anepe. Cercamos a companheira para protege-la e a PM nos cercou.

Em nenhum momento, durante todo o tempo em que esse confronto se deu, a PM informou qual o fundamento legal para a detenção de nossa companheira.

Argumentamos várias vezes que ela era justamente uma das pessoas que estava pedindo para as pessoas saírem do estacionamento da loja e voltarem para a rua para encerrarmos o ato.

A PM mobilizou mais de 10 viaturas e 1 helicóptero, um grande número de policiais, para prender a ativista e reprimir os manifestantes que tentavam protege-la. Montou-se uma operação desproporcional, um enorme aparato, desnecessário, contra pessoas desarmadas.

Pessoas foram agredidas fisicamente, um homem idoso foi derrubado por um policial, spray de pimenta foi usado contra nós.

A quem a PM estava protegendo? Ao nosso ver, a proteção era para o patrimônio privado da rede Carrefour!

Na delegacia, é importante frisar que não foi feito TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), o que corrobora nossa afirmação de que nossa companheira não cometeu crime algum. Após algum tempo ela foi liberada.

O que justifica ter detido e levado para a delegacia uma pessoa sem sequer apresentar fundamento legal para esse ato?

Demandamos do Governo do Estado que seja também apurada a atuação da PM, o uso desse aparato desproporcional nessa situação.

Que o braço do Estado não se resuma sempre à violência contra a população negra!

Basta de racismo! Vidas Negras Importam!

A mulher acabou liberada depois sem necessidade de se fazer um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência). A PM também enviou nota esclarecendo o caso. Segundo a polícia "uma das organizadoras do movimento teria instigado, com uso de microfone e caixa de som, os manifestantes a entrarem no estacionamento do supermercado. Pessoas que participavam da manifestação chegaram a danificar portões, cancelas, câmeras, monitores e picharam as paredes do estabelecimento, só pararam com a atuação da PMPE". Confira a nota completa abaixo:

No final da manhã de hoje (21), a Polícia Militar de Pernambuco foi acionada acerca de um protesto com interdição de uma faixa da Avenida Domingos Ferreira, no bairro de Boa Viagem, no Recife. No local, em frente ao supermercado Carrefour, havia uma manifestação motivada pela morte ocorrida em uma unidade dessa rede, no Rio Grande do Sul, na última quinta-feira (19). Ao chegar, uma equipe do 18º Batalhão negociou com os advogados do movimento o desbloqueio da via pública. No diálogo, houve o compromisso de dispersão, de forma pacífica.

No entanto, por volta das 12h20, uma das organizadoras do movimento teria instigado, com uso de microfone e caixa de som, os manifestantes a entrarem no estacionamento do supermercado. Pessoas que participavam da manifestação chegaram a danificar portões, cancelas, câmeras, monitores e picharam as paredes do estabelecimento, só pararam com a atuação da PMPE. Na ocasião, a organizadora foi conduzida à Delegacia de Boa Viagem, onde foi ouvida, juntamente com o gerente do supermercado, que prestou depoimento sobre os acontecimentos. A Polícia Civil instaurou inquérito e iniciou as investigações, com a coleta de depoimentos, informações e imagens de circuitos internos de videomonitoramento.

É importante ressaltar que as Forças de Segurança em Pernambuco estão unidas à sociedade no combate ao racismo e à intolerância de qualquer natureza. E sempre resguardarão o direito à liberdade de expressão e à manifestação do pensamento, sem transigir quanto à firmeza, dentro da legalidade e da técnica, para preservar a ordem pública, o direito de ir e vir das pessoas, a proteção do patrimônio e da vida.

Comentários

Últimas notícias