Racismo

Grandes empresas anunciam compromisso com a igualdade racial no Brasil, após morte de homem negro no Carrefour

Algumas dessas companhias já participam da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, que também contava com o Carrefour. A varejista foi desligada do grupo após a morte de João Alberto Freitas por dois seguranças em uma de suas lojas

JC
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Publicado em 23/11/2020 às 21:23 | Atualizado em 23/11/2020 às 22:32
CLEVER FELIX/ESTADÃO CONTEÚDO
Empresas reagem ao ato de racismo no Carrefour e tentam criar agenda - FOTO: CLEVER FELIX/ESTADÃO CONTEÚDO

Onze gigantes do setor empresarial comunicaram nesta segunda-feira (23), em suas redes sociais, um compromisso pela equidade racial. A iniciativa da Nestlé, Coca-Cola, Heineken, BRF, Danone, General Mills, Kellogg’s, L’Oreal, Mars, Mondelez e Pepsico é uma reação à morte de João Alberto Farias, que foi espancado e morto por dois seguranças na última quinta-feira (19), em uma loja do Carrefour, em Porto Alegre. Algumas dessas empresas já participam da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, do qual também fazia parte o Carrefour e foi desligado. A pergunta do movimento negro no País é se o compromisso vai efetivamente contribuir para diminuir as diferenças raciais ou se será mais uma ação que gera valor e reputação às companhias. Nas redes sociais houve quem aplaudisse a iniciativa e quem esperasse por ações concretas.

>> Carrefour anuncia fundo de R$ 25 milhões para combater racismo no Brasil e melhorar reputação. Ações na Bolsa despencaram

 
 
 
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"Nós, empresas do setor de bens de consumo, nos solidarizamos com a dor de familiares e amigos de João Alberto Silveira Freitas. Juntos, somamos quase 235 mil colaboradores no Brasil. Acreditamos que devemos ser agentes de transformação e evoluir coletivamente na jornada que iniciamos individualmente, em cada uma de nossas companhias, na luta pela equidade racial. O primeiro passo é assumirmos a realidade do racismo e admitirmos que ainda ocorrem diariamente atitudes que perpetuam o preconceito, a exclusão, as desigualdades e a violência. E, por isso, precisamos fazer mais. Propomos usar o potencial das nossas empresas para acelerar mudanças efetivas em nossa sociedade. Estamos assumindo hoje o compromisso público de trabalhar de forma conjunta e propositiva com toda a nossa cadeia de valor", publicou a BRF.

RESULTADOS

Na última quarta-feira (18),  a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial - movimento de empresas e instituições contra o racismo, em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e a ONG Afrobras, divulgou o resultado do IIRE (Índice de Inclusão Racial Empresarial). O relatório mostrou que, por enquanto, o discurso ainda se sobrepõe às iniciativas. De 76 companhias signatárias, apenas 23 responderam temas como conscientização racial, engajamento em ações afirmativas, recenseamento de funcionários, recrutamento e políticas de ascensão para profissionais negros. 

O Índice revelou que negros e pardos são maioria apenas em funções como aprendizes (57%) e trainees (58%) do total. Em conselhos de administração, os pretos representam 4,9%, em quadros executivos, 4,7%, enquanto em cargos de gerência avança um pouco mais (6,3%). Das 23 empresas que responderam o questionário, apenas 12 afirmaram manter ações permanentes sobre igualdade racial. 

Reprodução
Carrefour era um dos patrocinadores da Jornada da Diversidade, mas foi desligado da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial por tempo indeterminado - Reprodução

O Carrefour era uma das empresas signatárias do grupo e foi desligada após a morte de João Alberto. Vinte quatro horas antes da morte do homem negro em uma loja da rede, o gerente de Diversidade e Inclusão do Carrefour, Kaleb Machado, participava de uma live na 8ª edição das Jornadas da Diversidade, que este ano foi virtual. Ele disse que desde 2012 a companhia mantém uma plataforma empenhada em discutir o tema. 

"Diversidade e inclusão no Carrefour é DNA, não tem como retroceder. Mantemos o Garu - Grupo de Afinidade Racial Ubuntu, como forma de criar ações afirmativas para avançar com a pauta da diversidade racial", disse. 

Mesmo afirmando manter uma política de combate ao racismo desde 2012, o Carrefour coleciona uma série de caos de violência racial em suas lojas, tanto com clientes quanto com funcionários. Teve que pagar R$ 100 mil por xingar uma funcionária de "macaca", uma cliente abriu representação criminal contra a rede depois de sofrer ameaça de agressão de um segurança: "negra desgraçada, vou quebrar sua cara". 

>> Carrefour anuncia fundo de R$ 25 milhões para combater racismo no Brasil e melhorar sua reputação. Ações da empresa na Bolsa despencaram

PERNAMBUCO 

No Estado, onde a desigualdade racial ainda chega a ser maior do que a média nacional, as ações ainda estão no plano das ideias. A Fecomércio diz não manter plano de igualdade racial para discutir com as empresas, enquanto a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) entende a importância de avançar com a pauta no setor industrial, mas não mantém um comitê nem ações concretas. 

Na avaliação das Fiepe, as principais frentes seriam a qualificação de jovens e adultos e a capacitação das empresas. “Qualquer iniciativa que venha diminuir a desigualdade – seja racial, social, de gênero ou qualquer outra – são muito bem-vindas. É verdade que ainda temos um longo caminho a ser percorrido para conquistar uma sociedade mais justa, mas só conseguiremos avançar se a caminhada for feito de mãos dadas entre sociedade, poder público e setor empresarial. Da nossa parte, faremos o possível para promover a igualdade por meio, sobretudo, da educação de jovens e adultos e da capacitação das empresas que compõem o setor produtivo, como forma de mostrar a urgente necessidade de combater essas diferenças. É fazendo a nossa parte que mudaremos o cenário atual e promoveremos ações catalisadoras de igualdade", diz a superintendente da Fiepe, Fernanda Minniti Mançano. 

 

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Carrefour era um dos patrocinadores da Jornada da Diversidade, mas foi desligado da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial por tempo indeterminado - FOTO:Reprodução

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