CRIME

"Meu sentimento é só de revolta", diz jovem vítima de injúria racial em Maria Farinha

Confusão aconteceu na manhã do sábado, em uma marina

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Amanda Rainheri

Publicado em 01/02/2021 às 19:09 | Atualizado em 01/02/2021 às 19:12
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Após sofrer agressões físicas e ser vítima de injúria racial no último sábado (30) em uma Marina em Maria Farinha, no Grande Recife, Lucas Paiva, de 20 anos, diz querer justiça. Ainda com marcas pelo corpo, o jovem conversou com a reportagem da TV Jornal e explicou o que aconteceu naquele dia. 

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Segundo Lucas, ele havia sido convidado para um passeio de lancha por uma amiga, que sairia pela manhã e duraria a maior parte do dia. Ele teria ido junto a um grupo de amigos de ambos. "Quando cheguei lá, ela disse que tinha chamado outros amigos, que eu não conhecia e nunca tinha visto. Até aí tudo bem... eles chegaram e não falaram comigo, nem eu com eles, até o momento em que eu fui tentar passar para pegar uma cerveja. Ele (um dos agressores) me fez um questionamento e eu respondi algo que ele não queria. Aí ele perguntou porque eu tinha respondido aquilo, que aquela não era a resposta que ele queria. Eu disse que aquela pergunta não me interessava muito não, que só queria passar para pegar minha cerveja."

A vítima conta que o homem impediu sua passagem e que, após alguns minutos, ele desistiu de pegar a bebida. "Depois de 1h, ele olhou pra mim do nada e disse 'tá (sic) olhando o que, boy? Não era pra você estar aqui. Aqui não é lugar pra você. Você tem carro? Cadê seu carro? Tu é pobre, tu é preto, tu não merece estar aqui'. Aí eu falei que enquanto ele estivesse lá, não ficaria junto. Aí a irmã dele falou 'sai mesmo, pobre. Sai mesmo, preto. Não era pra você estar aqui.'"

Lucas relatou que nesse momento falou com o marinheiro e disse que iria pular da lancha, mas o profissional não permitiu. Ao invés disso, ele parou na marina mais próxima. "Eu já desci gritando para o pessoal do restaurante, dizendo que ele queria vir pra cima de mim, que queria me agredir. Quando olho pra trás, ele já estava próximo, já veio batendo em mim. Meus amigos chegaram, empurraram ele e me tiraram. Aí o pessoal da marina me ajudou e me escondeu pra ele não vir pra cima de mim. Eu passei muito tempo escondido, escutando a gritaria lá fora."

Quando a polícia chegou, todos foram para a delegacia, onde três pessoas, sendo dois homens de 23 e 25 anos e uma mulher de 23, foram detidos e liberados após pagamento de fiança. "Eu só quero que ele pague, que sinta na pele o que fez. Do nada, eu não fiz nada contra ele, nada pra ele, e vem querer me agredir, me insultar, gritar comigo." Lucas disse que ainda não sabe bem como se sentir. "A ficha não caiu. Ainda não estou muito abalado, mas sinto as dores no corpo - no pescoço, na cabeça. O meu sentimento agora é só de revolta."

Advogado de Lucas, Luis Carlos Tomé afirmou que eles irão esperar a conclusão do inquérito pela polícia e entrar com ação cível de danos morais, materiais e pelas agressões sofridas pela vítima. 

O caso

Clientes e funcionários do estabelecimento presenciaram a situação e afirmaram que diversas palavras de cunho racista e de preconceito de classe social foram destinadas ao garoto, que teve identidade protegida.

A Polícia Militar foi chamada para conter a confusão, segundo informou a MF Marina Clube. "A equipe da marina tentou resolver a situação, mas diante dos ânimos exaltados dos presentes, foi preciso chamar a Polícia".

Buscando protegê-lo, funcionários do local esconderam o garoto na cozinha do estabelecimento até a chegada da PM, quando a vítima relatou que havia sido agredida fisicamente e sido alvo de injúrias raciais por parte de três pessoas durante um passeio de lancha.

Testemunhas confirmaram a versão do garoto e o trio foi encaminhado para a Delegacia de Polícia Civil de Paulista, onde foram tomadas as medidas legais cabíveis. Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco (PC-PE) informou que foi instaurado inquérito policial para apurar o caso.

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