PANDEMIA

Veja como é a situação de dois dos bairros onde mais se morre por covid-19 no Recife

JC esteve nos bairros de Boa Viagem e Nova Descoberta, nas Zonas Sul e Norte da cidade, e encontrou descumprimento às regras sanitárias

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Amanda Rainheri

Publicado em 17/02/2021 às 22:07 | Atualizado em 17/02/2021 às 22:33
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Com perfis de população diferentes, os bairros de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, e Nova Descoberta, na Zona Norte, figuram em uma mesma lista: a das localidades com os maiores índices de mortalidade pelo novo coronavírus na capital pernambucana. Não coincidentemente, os dois bairros registram uma série de descumprimentos às normas sanitárias para evitar a disseminação da doença. 

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Em Boa Viagem, o bairro mais populoso do Recife, mais de 200 pessoas já perderam a vida para a covid-19. A reportagem circulou pela localidade, uma das mais nobres da cidade, nessa quarta-feira (17) e flagrou diversos casos de desobediência às regras sanitárias, como o distanciamento e o uso de máscaras. Em estabelecimentos como casas lotéricas e bancos, a população fazia fila sem respeitar a distância segura para evitar o contágio. No calçadão, enquanto a maioria fazia uso da máscara para praticar exercícios, outras pessoas circulavam livremente sem o equipamento de proteção, que é de uso obrigatório. Nas areias, mais desrespeito: quase ninguém usava máscara quando a reportagem esteve no local.

A aposentada Edna Ribeiro, de 76 anos, vive em Boa Viagem e não se surpreende com os altos índices de covid-19 no local. “As pessoas não se cuidam, vivem andando por aí sem máscara. Eu procuro usar sempre, assim como álcool em gel. Também evito sair de casa e não recebo visitas, por ser grupo de risco”, comenta. A dentista Amanda Salto, 75, também vive no bairro e conta que é comum flagrar grupos de jovens pela orla que não respeitam o distanciamento. “Vejo um pessoal da casa de seus 15, 16 anos, aglomerado e sem máscara. Tudo bem que se tire para um banho de mar, mas as pessoas não colocam de volta”, aponta. Enquanto esteve no local, na manhã dessa quarta-feira, a reportagem encontrou uma equipe da Guarda Municipal fiscalizando a orla.

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Edna Ribeiro não se surpreende com a alta dos casos em Boa Viagem - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Nos finais de semana, a situação piora. Boa Viagem já ganhou os noticiários diversas vezes por ser palco de aglomerações na praia e também por desrespeito às normas sanitárias em estabelecimentos, como bares e restaurantes. Alguns chegaram a ser fechados pelas autoridades repetidamente por não cumprirem as regras estabelecidas no Plano de Convivência com a Covid-19, do Governo do Estado. “É muita festa clandestina, muita gente junto sem respeitar distanciamento. O povo só olha pra si, não pensa no outro. Meu irmão adoeceu e precisou ficar internado em abril do ano passado. Logo depois, eu também tive sintomas. E todos nós nos cuidamos, porque somos grupo de risco”, conta a dona de casa Andreia Olegário, 43. “A solução pra gente é essa vacina, mas está demorando demais”, completou.

Do outro lado da cidade, Nova Descoberta também está entre as localidades mais vulneráveis. Até o último domingo (14), a mortalidade era de 233 pessoas a cada 100 mil habitantes, número bem superior à média de 180 a cada 100 mil habitantes registrado no Recife como um todo. Durante a manhã da quarta-feira, enquanto esteve no local, a reportagem encontrou aglomerações e quase ninguém fazendo uso da máscara. Na Praça do Largo Dona Regina, um grupo de idosos jogava cartas sem o equipamento de proteção. No comércio, a mesma situação. Pessoas circulavam com a máscara no queixo em alguns estabelecimentos. “Eu tive coronavírus, assim como a maioria das pessoas na rua onde moro. Algumas chegaram a morrer pela doença. As pessoas estão vivendo normalmente, como se nada tivesse acontecendo. É aglomeração em todo lugar”, lamenta a cabelereira Larissa Nunes, 26.

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Larissa Nunes lembra os tempos difíceis em Nova Descoberta, com a falta de água - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Em Nova Descoberta, a situação é ainda mais dramática do que em Boa Viagem, porque o fornecimento de água é irregular e a população chegou a passar mais um mês sem uma gota d’água nas torneiras durante a pandemia. “A gente pegava água da chuva. Nossa sorte foi chover, porque não tinha como fazer nada dentro de casa. Ainda assim, essa água que nos ajudava era suja e minha filha de 5 anos chegou a pegar um germe na pele por isso. Com certeza a falta de água fez com que muitas pessoas adoecessem, porque não tinha como higienizar nada para evitar a doença”, aponta Larissa.

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Os Bairros de Boa Viagem e Nova Descoberta estão entre os que mais registraram mortes pelo novo coronavírus no Recife - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Os Bairros de Boa Viagem e Nova Descoberta estão entre os que mais registraram mortes pelo novo coronavírus no Recife - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Os Bairros de Boa Viagem e Nova Descoberta estão entre os que mais registraram mortes pelo novo coronavírus no Recife - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Os Bairros de Boa Viagem e Nova Descoberta estão entre os que mais registraram mortes pelo novo coronavírus no Recife - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Os Bairros de Boa Viagem e Nova Descoberta estão entre os que mais registraram mortes pelo novo coronavírus no Recife - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Levantamento

Segundo levantamento realizado pelo JC com base nos dados divulgados pela prefeitura até o último dia 14, 36% das mortes por covid-19 na capital pernambucana foram registradas nos dez bairros mais populosos da cidade. Recife tem 94 bairros. Entre a lista dos dez mais habitados, seis deles têm taxa de mortalidade maior do que a média do Recife. São eles: Ibura (250), Nova Descoberta (233), Afogados (231), Água Fria (225), Cohab (193) e Cordeiro (189). Em Boa Viagem, o mais populoso da capital, o total de mortes, desde o início da pandemia, chega a 209. Com renda média mensal dos domicílios em R$ 7.108, o bairro é — entre os dez mais habitados — o oitavo em taxa de mortalidade.

ARTES JC
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A Prefeitura informou na ocasião que realizou ano passado trabalho de conscientização em diversos pontos da cidade, como ações porta a porta em comunidades vulneráveis, visitas a casa de pessoas que integram os grupos de risco e distribuição de máscaras e informes. A atividade não teve continuidade em 2021. Desde janeiro, a gestão promove a campanha “Bora se Cuidar”, para evitar aglomerações em ambientes como praias, parques e mercados públicos. 

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