Um ano de covid-19: mais de um terço das mortes no Recife estão concentradas em dez bairros mais populosos; confira
Levantamento feito pelo Jornal do Commercio, com base em dados do boletim epidemiológico, considera o acumulado de óbitos desde o início da pandemia
A pandemia de covid-19 completa quase um ano no Recife, que acumula hoje 2.988 vidas perdidas para a doença, sendo aproximadamente 36% desse total nos dez bairros mais populosos da cidade. Levantamento feito pelo Jornal do Commercio com base em dados do boletim epidemiológico da prefeitura, ao longo de quase um ano, mostra que, na capital pernambucana, a cada 100 mil habitantes, 180 morrem em decorrência da infecção pelo novo coronavírus. Recife conta com 94 bairros. Entre a lista dos dez bairros mais habitados da cidade, seis deles têm taxa de mortalidade maior do que a média do Recife. São eles: Ibura (250), Nova Descoberta (233), Afogados (231), Água Fria (225), Cohab (193) e Cordeiro (189). Em Boa Viagem, o mais populoso da capital, o total de mortes, desde o início da pandemia, chega a 209. Com renda média mensal dos domicílios em R$ 7.108, o bairro é — entre os dez mais habitados — o oitavo em taxa de mortalidade.
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A médica epidemiologista Ana Brito, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, explica o que representa a taxa de mortalidade. "As localidades com o maior índice de óbitos por covid-19 expressam que os seus habitantes têm maior risco de morrer pela doença, em comparação a moradores que vivem em qualquer outro lugar da cidade", diz a especialista. A reportagem do JC questionou a Prefeitura do Recife sobre medidas que vêm sendo realizada na cidade, principalmente nos bairros onde a mortalidade se mostra expressiva. No ano passado, para descentralizar o trabalho de conscientização, foram realizadas mobilizações em diversos pontos da cidade, como ações de porta em porta em comunidades vulneráveis, visitas a casas de pessoas que fazem parte dos grupos de risco da covid-19, distribuição de máscaras e informações em Estações Itinerantes de Orientações sobre a Covid-19.
A atividade não teve continuidade este ano. Em nota, a Secretaria de Política Urbana e Licenciamento informou que o trabalho terminou em dezembro de 2020 e que, desde janeiro, "promove a campanha Bora se Cuidar, que visa evitar aglomerações em ambientes como praias, parques e mercados públicos. Arte-educadores sensibilizam o público sobre os cuidados para evitar a covid-19". A nota não menciona um trabalho direcionado nos bairros onde se constata o maior risco de morrer pela doença.
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Diante do cenário de recrudescimento de novos casos e óbitos, junto à vacinação lenta em todo o Brasil, as perspectivas nos levam a prever um 2021 ainda de muito trabalho. "Vemos a vacinação num horizonte ainda distante. Teremos mais um ano comprometido pela covid-19, que tem se revelado uma tragédia arrastada, com níveis preocupantes de pessoas adoecendo, em patamares elevados", destaca o médico sanitarista Tiago Feitosa.
Para ele, este primeiro ano da pandemia mostra que são necessárias atitude e urgência para os próximos dias. "Constatamos dificuldade no diagnóstico em tempo oportuno e demora para se iniciar o tratamento dos casos graves. São fatores que repercutem numa letalidade maior entre infectados", explica Tiago.
O sanitarista ainda se diz preocupado com o potencial das novas cepas do coronavírus, em especial com a detectada no Amazonas. "Os países da Europa demonstraram inquietação grande com as variantes. São necessárias estratégias para tentar diminuir o avanço dessas novas cepas", ressalta o especialista. Na quinta-feira (11), Pernambuco confirmou nova variante da covid-19 em pacientes do Amazonas. Na ocasião, o governo estadual informou que, independentemente de qual seja a variante da infecção, as medidas de prevenção são as mesmas e devem ser intensificadas pela população.