Apesar de aglomerações na pandemia, Grande Recife Consórcio diz ofertar frota de ônibus 10% maior que a demanda
Passageiros cobram do Governo do Estado medidas que melhorem a lotação nos coletivos da Região Metropolitana do Recife
Como é possível barrar a transmissão da covid-19, doença que tem como principal medida de prevenção o distanciamento social, quando a lotação no sistema público de transporte, principalmente nos horários de pico, é cotidiana? Desde a chegada da pandemia em Pernambuco, a maior reclamação nas ruas tem sido a mesma: ônibus lotados. Esta ficou ainda mais evidente após o Governo do Estado decretar novas restrições de horário para o funcionamento de atividades não essenciais, que começaram nessa quarta-feira (3).
Em um cenário onde a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede estadual chegou a 92% nessa quarta (3), e a 87% na rede privada, passageiros pedem que as fiscalizações nos terminais sejam intensificadas, e que a demanda de coletivos aumente para evitar a contaminação pela doença. Também são constantes nas redes sociais os flagras de coletivos e terminais de ônibus cheios de pessoas.
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A comerciante Claudia Oliveira, de 48 anos, sai todos os dias de Camaragibe, no Grande Recife, até a Benfica, no Centro da capital pernambucana, para trabalhar. Ela conta que os ônibus vêm muito lotados, principalmente nos sábados e domingos. "O problema da gente é no sábado, quando o intervalo [entre os carros] é muito longo, então vem muito lotado, e o domingo, nem se fala", explica.
Em entrevista à Rádio Jornal, o secretário de Justiça e Direitos Humanos Pedro Eurico admite que a lotação no transporte é uma "situação grave" observada ao redor do mundo. "Não é de solução simples, mas o governo está tomando providências. Colocou-se nos terminais de ônibus fiscais para disciplinar o acesso, a cobrança de máscara, e para tentar evitar que as pessoas entrem de vez nos terminais. O governo também criou a tarifa social fora do horário de pico, que é para ajudar os passageiros a usar o ônibus fora do pico. O problema é que as empresas de comércio, indústria e serviços abrem e fecham praticamente no mesmo horário, isso não é só no Recife, mas no Brasil e no mundo. Em qualquer horário de pico o transporte está muito lotado", afirma.
Já o Grande Recife Consórcio de Transporte, responsável pelo gerenciamento do transporte por ônibus na Região Metropolitana de Recife, respondeu à reportagem que, desde o início da pandemia, vem sofrendo uma "redução sistemática de demanda, que atualmente representa 63% da que existia em março de 2020". Mas que, mesmo assim, "a partir de esforços do Governo do Estado, a oferta de serviços vem sendo mantida sempre proporcionalmente maior, pelo menos 10% a mais que a demanda".
Segundo a assessoria do órgão, esse é um controle feito de forma dinâmica, no dia a dia, a partir da percepção de fiscais. Por exemplo, é comum que se coloque um carro a mais em uma linha quando percebe-se que a demanda de um dia está maior do que o normal.
Além disso, o Grande Recife afirma que, no mês de fevereiro, 150 ônibus voltaram a operar e, na última segunda-feira (1º), outros 51 veículos. "Juntos, esses dois reforços elevaram para 80% a frota em circulação. Essa ampliação se dá principalmente nas linhas de maior demanda, fazendo com que algumas operem com 100% dos veículos. Esse é o caso de 138 linhas que circulam com a frota pré-pandemia", disse, por nota.
Outra reclamação frequente dos passageiros é o desrespeito pela utilização de máscaras, acessório recomendado para evitar as gotículas de saliva entre as pessoas. "Eu não tenho carro, dependo de ônibus para trabalhar. Fico com medo porque tem algumas pessoas que se protegem, outras não. Umas usam máscaras e outras não. Não vejo fiscalização", disse.
A nutricionista Deyse Araújo, de 24 anos, que sai todos os dias do Curado II, em Jaboatão dos Guararapes, até o centro do Recife, confirma o relato. "Muito lotado, principalmente nos horários de pico. É horrível. Muita gente sem máscara, que não usa álcool, que não respeita o espaço do outro. Não tem fiscalização, o pessoal entra de todo jeito. Fico apavorada em pegar covid, fico usando muito álcool", conta.
Ao contrário do que a passageira diz, o Grande Recife afirma que fiscais também monitoram o uso de máscaras, e que trabalham diariamente para sensibilizar a população para o uso do acessório. O Consórcio diz, ainda, que o motorista pode solicitar o uso na entrada.
Segundo Pedro Eurico, a gestão coloca fiscais nos terminais de ônibus para orientar o uso das máscaras. "Estamos tentando evitar isso. O fundamental é que as pessoas usem a máscara dentro do ônibus; e nós estamos fazendo um esforço para reduzir a aglomeração dentro dos ônibus", disse Pedro Eurico.