VIOLÊNCIA

Homens invadem estúdio de rádio no Agreste de Pernambuco e ameaçam agredir radialista que criticou Bolsonaro

O episódio aconteceu no município de Santa Cruz do Capibaribe

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Vanessa Moura

Publicado em 07/04/2021 às 11:56 | Atualizado em 07/04/2021 às 23:06
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Atualizada às 23h03

Quatro homens, que não tiveram identidade revelada, invadiram um estúdio de rádio localizado no município de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, na noite desta terça-feira (6). Na ocasião, os homens, que se declaram apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ameaçaram agredir o radialista Júnior Albuquerque, depois que ele fez críticas à política sanitária do Governo Federal frente à pandemia da covid-19.

"Fazemos um programa opinativo todas as terças-feiras na Rádio Comunidade, em Santa Cruz. Há algumas semanas entrou em pauta as quase 300 mil mortes por covid-19 no Brasil (na época ainda não havíamos superado esta triste marca) e eu fiz um comentário opinativo, onde expus que no meu ponto de vista, Hitler não era o único culpado do genocídio que aconteceu na Alemanha, pois quem o apoiou e quem se calou também teve sua parcela de culpa. Assim como no Brasil, em relação à covid-19, os eleitores de Bolsonaro que concordam com a política sanitária que ele vinha fazendo, também iam ter culpa e a história ia dizer isso", explicou o radialista Júnior Albuquerque, em entrevista à reportagem do JC

De acordo com o comunicador, que trabalha no ramo há dez anos, ele recebeu muitas ameaças após o comentário. No programa de 30 de março, no entanto, ele comentou que gostaria de ter uma conversa com essas pessoas para que eles pudessem debater sobre o assunto.

"Eu disse que queria que esse pessoal fosse até a rádio pra gente debater e eles me explicarem o motivo de tanta raiva e também me mostrarem o que foi que o presidente deles fez de bom. Quando foi ontem eles invadiram o estúdio da rádio e me ameaçaram", disse.

A agressão só não aconteceu, segundo Júnior, porque seus colegas de bancada conseguiram intervir. Ao sair do estúdio, o radialista prestou queixa na Polícia Civil do município. Além disso, o radialista pretende ainda nesta semana realizar uma queixa-crime no Ministério Público de Pernambuco (MPPE). 

Por meio de nota, a Associação de Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco (Asserpe) se manifestou em apoio à liberdade de imprensa e condenou o episódio ocorrido na noite dessa terça.

"O fato de tratar-se de emissora comunitária não associada não muda a posição de nossa entidade, por tratar-se de ameaça à liberdade de imprensa, a qual defendemos de forma altiva. Também porque abre um perigoso precedente que ameaça todos os veículos, inclusive comerciais", diz um trecho. 

A associação também mostrou apoio ao radialista vítima das ameaças.

Leia a íntegra da nota da Asserpe:

A Asserpe condena o episódio de invasão de um estúdio de rádio na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, ocorrido nesta terça (6).

A Rádio Comunidade tinha programa apresentado pelo radialista Júnior Albuquerque. Segundo relatos, ele cobrava maior atuação do Governo Federal na pandemia e foi surpreendido por militantes políticos do presidente Jair Bolsonaro que invadiram os estúdios, o intimidaram e o ameaçaram.

O fato de tratar-se de emissora comunitária não associada não muda a posição de nossa entidade, por tratar-se de ameaça à liberdade de imprensa, a qual defendemos de forma altiva. Também porque abre um perigoso precedente que ameaça todos os veículos, inclusive comerciais.

A Asserpe espera resposta a altura em virtude da gravidade do incidente pelas autoridades que investigam o caso.

A Asserpe defende de forma intransigente a liberdade de imprensa conquistada pelos veículos de comunicação e condena todo ataque à esse direito fundamental.

Por fim, se solidariza com o radialista Júnior Albuquerque e à Rádio Comunidade, esperando que fatos como esses não se repitam.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope) também repudiou a agressão.

"O Sinjope recrimina de maneira inflexível qualquer ataque a liberdade de imprensa e espera que o caso seja investigado pelas autoridades policiais do Estado. A liberdade de imprensa é fundamental para manutenção da democracia. Apenas projetos de ditadores podem levantar sua voz contra uma imprensa livre e atuante", diz trecho da nota divulgada pelo sindicato.

Leia a íntegra da nota do Sinjope:

O Sinjope condena mais um ato de violência contra profissionais de comunicação cometido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Na terça-feira (6), na véspera do Dia do Jornalista, homens invadiram o estúdio da Rádio Comunidade, em Santa Cruz do Capibaribe, e ameaçaram o radialista Júnior Albuquerque.

A invasão ocorreu depois que o radialista cobrou maior atuação do Governo Federal no combate à pandemia do novo coronavírus. Uma cobrança que está sendo feita pela maioria da população brasileira. No entanto, estimulados pelas atitudes do próprio presidente, que promove ataques quase que diários contra profissionais de comunicação, seus simpatizantes tentaram intimidar o radialista.

O Sinjope recrimina de maneira inflexível qualquer ataque a liberdade de imprensa e espera que o caso seja investigado pelas autoridades policiais do Estado. A liberdade de imprensa é fundamental para manutenção da democracia. Apenas projetos de ditadores podem levantar sua voz contra uma imprensa livre e atuante.

Importante destacarmos que os ataques à imprensa no Brasil mais que dobraram em 2020, em relação ao ano anterior. Foram registrados 208 casos de violência física contra os profissionais em 2019 e 428 em 2020, o que representa um aumento de 105%, de acordo com o Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa em 2021, divulgado pela Fenaj. E o aumento é resultado direto de uma série de atitudes do presidente da República com o objetivo de descredenciar a imprensa para poder espalhar mentiras nas redes sociais e ganhar a adesão da população.

“Segundo este estudo, o presidente Bolsonaro é responsável por mais de 40% dessas agressões. Com isso, ele estimula e autoriza a prática de violência contra o exercício da profissão de comunicador. Não podemos permitir isto”, comentou o presidente do Sinjope, Severino Junior.

Por fim, o Sinjope deseja se solidarizar com o radialista Júnior Albuquerque e com a Rádio Comunidade.

 

 

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