Achados arqueológicos na Comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, revelam segredos da história de Pernambuco
Cerca de 150 mil vestígios arqueológicos, entre ossadas e objetos, e parte das ruínas do antigo Forte de São Jorge foram encontrados em escavações na região
Sob os pés dos moradores da Comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, uma nova parte da história pernambucana, enterrada há séculos, foi revelada no último final de semana. Cerca de 150 mil vestígios arqueológicos, entre ossadas e objetos, e ruínas do antigo Forte de São Jorge foram encontrados em escavações na região, unindo peças de um quebra-cabeça até então incompleto sobre os séculos 17, 18 e 19, mas que, até ser encaixado, ainda precisará passar por muitas análises nos próximos meses.
Com o seguimento das obras do Habitacional do Pilar, equipes de pesquisadores e estudantes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) foram convidadas a fazer o trabalho de escavação arqueológica e acharam resquícios de uma das mais importantes batalhas do Estado: o Forte de São Jorge, construído em 1593 no istmo de areia que liga a cidade do Recife a Olinda e utilizado como um dos baluartes na resistência dos pernambucanos contra a dominação holandesa.
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“Na grande batalha contra os holandeses, ele já estava de pé, guardando a entrada da barra do Recife. Os holandeses não conseguiram ganhar a batalha aqui e entraram por Olinda, pegando as pessoas de surpresa, e só então conseguiram tomar o forte. Depois de um tempo, ele se transformou em uma enfermaria, depois foi abandonado e ficou em ruínas, e foi doado para a construção da Igreja. Para nossa surpresa, encontramos parte da base, mas ainda não temos dimensão dele”, explicou a historiadora Ana Nascimento.
Cartografias também mostravam que, próximo àquela região, havia um antigo cemitério, mas o local exato nunca havia sido comprovado - até agora. Do Pilar, foram retirados 110 esqueletos, que ainda passam pelo processo de datação com Carbono 14 para determinar a época de que vieram e por pesquisas para saber quem costumava ser enterrado na área. Inicialmente, trabalha-se com a hipótese de que o cemitério recebia pessoas mortas entre os séculos de XVI ao XX na guerra e vítimas de doenças, como a cólera e gripe espanhola.
“O material vai ser estudado em laboratório, porque a parte de análise do material ósseo humano tem muitos detalhes que precisam ser vistos. Por exemplo, um dos esqueletos tinha um desgaste dentário muito grande nos ossos da frente. Esse é um indicativo do tipo de trabalho que fazia, talvez fosse um marinheiro, que puxasse algum material pela boca, com uma corda”, contou a historiadora e coordenadora geral da pesquisa, Suely de Luna.
Além dos materiais de origem animal e vegetal, também foram coletados outros que indicam objetos comumente utilizados em diferentes épocas, enterrados um sobre o outro, como se várias cidades fossem sendo construídas ao longo do tempo. Alguns destes eram cerâmicas, peças de jogos, tijolo holandês, garrafas de bebidas, perfume, remédio, moedas, bala de canhão e escova de dente. Botões feitos desde madrepérola até artesanato também demonstram a diversidade de classes sociais que circulavam pelo antigo porto da cidade.
Segundo Suely, para saber o ano aproximado que os objetos eram utilizados, são consultados catálogos internacionais que relacionam suas marcas às décadas em que eram fabricados. “Existem determinados tipos de louça, como a de origem portuguesa, que tem padrões de determinados períodos do século 16, 17 e 18. As garrafas de vidro temos certeza que foram do 19, porque só vieram a partir da revolução industrial”, informou.
Ana pontuou que a área é hoje “importante para entendermos a história de Pernambuco e sua formação”, e que, pela Comunidade do Pilar fazer parte desse processo, deve ser incluída nessas descobertas. “Estamos pensando em fazer um trabalho de educação patrimonial com a comunidade, mostrando tudo que estamos fazendo até agora, para que ela conheça o que se está tirando do espaço.”