Após um mês, "mar de lixo" que tomou conta de praias do Grande Recife continua em investigação
Mesmo sem parecer conclusivo, integrantes da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) apontam que a linha de estudo não considera que os dejetos tenham sido jogados por obras do ancoradouro
Atualizada às 9h30 de 29/03/2022
Passado mais de um mês do prazo inicial para divulgação do relatório, ainda não há respostas oficiais sobre a chegada de um alto volume de lixo a praias do Grande Recife. Mesmo assim, integrantes da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) apontam que o estudo, atualmente em fase de conclusão, não considera que os dejetos tenham sido jogados por obras do Porto do Recife.
A relação do aparecimento do lixo além do usual — segundo dados enviados pelas prefeituras e relatos de pescadores — com o ancoradouro passou a ser investigada pela CPRH e pelo Ministério Público Federal (MPF) em meados de fevereiro, visto que o problema surgiu no mesmo período em que eram feitas obras de dragagem no Porto, finalizadas no último 1º de março.
O resultado dos estudos seria informado em 25 de fevereiro; neste dia, no entanto, a CPRH disse que ainda não havia um parecer conclusivo, e que seguiria acompanhando as obras do ancoradouro.
À época, duas hipóteses foram lançadas: a primeira era que as chuvas de janeiro tenham arrastado resíduos sólidos para dentro do mar, e a segunda que a dragagem do Porto do Recife tenha levado o material a flutuar — caso esta última seja confirmada, multas e sanções poderiam ser aplicadas ao ancoradouro.
A justificativa para o atraso é a alta demanda do órgão, que veio investigando também as manchas que surgiram na Praia de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, no último mês, e, agora, está no meio da polêmica sobre o pedido de federalização do arquipélago de Fernando de Noronha.
Segundo o diretor de Licenciamento Ambiental da CPRH, Eduardo Elvino, a linha de pensamento construída no relatório é de que "o lixo proveniente dos rios litorâneos pelo volume de chuva que caiu uma semana antes", proveniente do descarte irregular no Capibaribe e Beberibe, e que a entrega do laudo é prevista para a próxima semana.
Ao mesmo tempo, disse que a análise do Corpo de Bombeiros, que enviou mergulhadores até as obras da draga para observar se ela estaria soltando dejetos no mar, não deixou claro se viu ou não lixo no local, e se estaria vindo à superfície pela obra.
“Foram vistos resíduos sedimentares da própria dragagem, mas ainda estamos colhendo informações sobre se nesse mergulho se viu material (lixo) ou não. Não deixaram isso claro, só que estava com baixa visibilidade”, pontuou Elvino.
O MPF disse que o procedimento preparatório que ainda aguarda resposta a ofícios enviados ao CPRH e ao Porto do Recife.
"À CPRH, foi requisitado que a agência informe se houve apuração dos fatos, bem como que preste esclarecimentos sobre o licenciamento ambiental da obra em questão. No caso do Porto, foi requisitado que se posicione sobre a manifestação recebida pelo MPF, bem como que também informe sobre o licenciamento ambiental da obra", disse o Ministério.
Em matéria no último mês, o JC mostrou como os pescadores eram afetados com o acúmulo de lixo, visto que não conseguiram trabalhar no período. Os entulhos apareceram em diferentes cidades, como Recife, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes.
A presidente da Colônia Z1, de Brasília Teimosa, Sandra da Silva Lima, afirmou que a situação melhorou desde então, ainda que a poluição nas praias da Região Metropolitana do Recife (RMR) seja uma constante. “Está melhor, o pessoal não reclamou mais, a quantidade de lixo diminuiu. Isso facilita o trabalho da gente”, disse.
Porto descarta relação com o problema
Ao Porto do Recife, os Bombeiros informaram que “não foram constatados indícios de que o lixo que chega às praias pernambucanas tem sua origem no local onde mergulhamos.”
Por nota, o ancoradouro informou que uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) visitou a obra e opinou que a causa do aparecimento de lixo era um conjunto de fatores atípicos que aconteceram no verão, como chuva intensa nas cabeceiras dos rios e uma anomalia hidrológica que afetou correntes marítimas e ventos.
A reportagem do JC tentou entrar em contato com integrantes da equipe da UFPE, mas não obteve retorno.