CHUVAS

CHUVAS EM PERNAMBUCO: em Marcos Freire, lama ainda toma conta das casas e atrasa recuperação das famílias

Em Jaboatão, são 91.900 pessoas desalojadas, de acordo com a Defesa Civil do município. São mais de 13% da população.

Imagem do autor
Cadastrado por

Bruno Vinicius

Publicado em 31/05/2022 às 19:45 | Atualizado em 31/05/2022 às 22:23
Notícia
X

"Pela manhã, quando estava chovendo, não tive nem coragem de sair", diz Maria do Socorro Conceição. Ela, que tem 60 anos, ainda tem medo das chuvas. Nem olha para o céu quando ouve o barulho das águas caindo. Sua casa, que fica no Loteamento Nova Prazeres, ao lado do Conjunto Marcos Freire, em Jaboatão dos Guararapes, foi invadida pela enchente do Rio Jaboatão no fim de semana. Ela ainda não voltou, nem sabe se o teto está de pé. Só sabe que perdeu tudo com as águas. Maria do Socorro faz parte das 6.198 pessoas desabrigadas pelas chuvas, segundo contabilização da Defesa Civil do Estado (Codecipe), até a manhã desta terça-feira (31). 

Quanto aos que não perderam as casas, mas ficaram sem teto durante as chuvas, o número é a ainda maior. Em Jaboatão, são 91.900 pessoas desalojadas, de acordo com a Defesa Civil do município. São mais de 13% da população. No Loteamento Nova Prazeres, em Marcos Freire, quase toda a população perdeu tudo. As águas do Rio Jaboatão cobriram a maioria das casas, levando móveis, eletrodomésticos, roupas, motos, carros e outros bens materiais dos moradores. Na manhã desta terça, muitas ruas ainda estavam alagadas. A limpeza das casas só foi possível depois que as águas baixaram um pouco na tarde da segunda-feira (29). Alguns lugares ainda não têm energia, nem água. Os moradores retiram as sujeiras com água de poço ou com ajuda de vizinhos. 

O gari José Lopes, de 44 anos, ainda não conseguiu voltar ao lar. Esteve abrigado durante três dias na Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Marcos Freire, e estava arrumando as coisas porque conseguiu um abrigo provisório na Escola Municipal Professora Tecla Teixeira. "Nem a cheia de 2020 chegou a ponto deste ano. Eu perdi tudo, tudo. Só não a casa, porque tem que ver se afetou a casa. Se tem rachadura. Só consegui salvar essa cadelinha. Tentei voltar ontem, mas está tudo revirado. Tá tudo acabado", explica José.

José Lopes ainda sofreu uma lesão na perna, podendo ter uma piora com as águas do último sábado. "Ontem, a gente teve que ir no Tecla Teixeira para cadastrar pela prefeitura. Andando com esses ferimentos dentro d'água, porque eu trabalho como gari, mas o que importa a gente ter a vida, né?", aponta José.

Desemprego piora problema

Além dos problemas para a reestruturação da casa, o desemprego também é um problema para os atingidos. Uma delas é Lindinalva Valdomiro, de 45 anos, que sustenta a casa e três filhos com o auxílio Brasil. É uma das primeiras da vizinhança a voltar para casa. "Eu moro aqui há 18 anos. Nunca tinha passado por essa situação. Eu perdi colchão, geladeira... meu filho, estou voltando porque a gente sabe que tem que voltar, né? Morava com meus três filhos dentro de casa, vieram para cá (na igreja) no sábado de manhã", disse ela, que teve doações de roupas e alimentos. 

DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Moradores de Marcos Freire ainda sofrem para retirar entulhos após enchentes - DAY SANTOS/JC IMAGEM

No meio da entrevista, ela não segura as lágrimas. Um filme passa pela sua cabeça quando tem que retornar à casa depois de três dias. "A sensação que eu tenho é de medo. Quando eu vejo minha casa fico com medo quando a chuva vier. Não sei como vou recuperar as coisas. A pessoa já está desempregada, vive do auxílio do governo, que você já sabe quanto é. R$ 400. Precisamos comprar comida, pagar luz, comprar bojão. O que importa é que estamos com saúde", afirma Lindinalva.

Enquanto Lindinalva volta para casa, a comerciante Maria da Silva, de 49 anos, ainda não teve coragem de retirar as coisas da residência. A água, que bateu a marca de 1,90, misturou móveis, eletrodomésticos, cama, objetos e produtos do salão de beleza dentro da moradia. Está tudo revirado e cheio de lama. Carro e moto também ficaram no quintal, assim como seus três cachorros salvos da enchente que invadiu a Rua Rio Novo, no Loteamento Nova Prazeres.

"Eu morava em Prazeres, minha família morava toda lá. Fechei estabelecimento aqui e lá, teve chuvas e pandemia. Vinham avisando que ia chover, mas a gente não esperava que ia vir tanto. Quando a água chegou no sábado, eu me desesperei, porque não tinha onde ficar. Eu tinha medo que a água subisse a ponto de mexer na energia. É muito triste, eu perdi tudo. Mas eu agradeço a deus por estar com vida. Bem material, a gente recupera. Sei que deus vai me ajudar e minha família também. Todo mundo quer se reunir para vir para cá, eu não tenho forças para levantar nada. Eu tive uma crise de rins, mas estou de pé", conta.

A fé foi a única coisa que restou à comerciante. Também a solidariedade dos vizinhos, que a abrigaram quando a água quase chegou no teto da sua casa. Ela e mais 11 pessoas ficaram abrigadas em um primeiro andar na casa ao lado quando as chuvas invadiram as ruas do loteamento. "Tem gente que ainda está pior". Essa era uma das frases repetidas na Rua Rio Novo, que foi até uma das menos atingidas no bairro. Outras vias, só restaram uma casa revirada para contar história. Muros foram derrubados, animais arrastados e nas vias, que já não eram asfaltadas, só restaram a lama. Um cenário de desafios para quem já perdeu tudo com as águas.

Tags

Autor