MEIO AMBIENTE

CPRH dá nova data para responder se Porto do Recife contribuiu para chegada de "mar de lixo" a praias do Grande Recife

Somente a reportagem do JC fez 15 cobranças ao órgão pelo relatório desde que o caso foi registrado. Inicialmente, seria divulgado ainda em fevereiro

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Katarina Moraes

Publicado em 15/06/2022 às 16:11 | Atualizado em 15/06/2022 às 16:15
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Passados quase quatro meses do prazo inicial, a Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) promete divulgar na próxima sexta-feira (17) o relatório que responderá se o Porto do Recife contribuiu ou não para a chegada de alto volume de lixo a praias do Grande Recife em fevereiro deste ano. Inicialmente, o estudo seria apresentado em 25 de fevereiro. 

Somente a reportagem do JC fez 15 cobranças ao órgão pela divulgação do relatório desde que o caso foi registrado. Em março, quando estava "em fase de conclusão", integrantes da CPRH afirmaram que não consideravam que os dejetos tenham sido jogados por obras de dragagem do ancoradouro.

A relação do aparecimento do lixo além do usual — segundo dados enviados pelas prefeituras e relatos de pescadores — com o Porto do Recife passou a ser investigada pela CPRH e pelo Ministério Público Federal (MPF) em meados de fevereiro, visto que o problema surgiu no mesmo período em que eram feitas obras de dragagem, finalizadas desde 1º de março.

O resultado dos estudos seria informado em 25 de fevereiro; neste dia, no entanto, a CPRH disse que ainda não havia um parecer conclusivo, e que seguiria acompanhando as obras do ancoradouro

À época, duas hipóteses foram lançadas: a primeira era que as chuvas de janeiro tenham arrastado resíduos sólidos para dentro do mar, e a segunda que a dragagem do Porto do Recife tenha levado o material a flutuar — caso esta última seja confirmada, multas e sanções poderiam ser aplicadas ao ancoradouro.

Guga Matos/JC Imagem
Pescadores sofreram com lixo que apareceu nas praias do Grande Recife - Guga Matos/JC Imagem
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Pescadores sofrem com lixo que apareceu nas praias do Grande Recife. - Guga Matos/JC Imagem
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Pescadores sofrem com lixo que apareceu nas praias do Grande Recife. - Guga Matos/JC Imagem
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Pescadores sofrem com lixo que apareceu nas praias do Grande Recife - Guga Matos/JC Imagem

Em março, o diretor de Licenciamento Ambiental da CPRH, Eduardo Elvino, disse que a linha de pensamento construída no relatório é de que "o lixo proveniente dos rios litorâneos pelo volume de chuva que caiu uma semana antes", proveniente do descarte irregular no Capibaribe e Beberibe, e que a entrega do laudo é prevista para a próxima semana.

Ao mesmo tempo, afirmou que a análise do Corpo de Bombeiros, que enviou mergulhadores até as obras da draga para observar se ela estaria soltando dejetos no mar, não deixou claro se viu ou não lixo no local, e se estaria vindo à superfície pela obra.

“Foram vistos resíduos sedimentares da própria dragagem, mas ainda estamos colhendo informações sobre se nesse mergulho se viu material (lixo) ou não. Não deixaram isso claro, só que estava com baixa visibilidade”, pontuou Elvino.

À época, imagens que mostravam os entulhos em alto mar rodaram as redes sociais em diferentes municípios, entre eles Recife, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes. Apenas as duas últimas, entretanto, contabilizaram uma alta no recolhimento. Recife disse não ter percebido "qualquer anormalidade durante os serviços de coleta nos últimos dias", e que "precisar o peso do lixo coletado apenas nas praias, pois os resíduos recolhidos são misturados nos caminhões de coleta ao lixo domiciliar". 

Jaboatão dos Guararapes disse ter observado “um aumento significativo na quantidade de material recolhido na faixa de areia”, coletando cerca de 4,5 toneladas, quase o dobro do volume recolhido no mesmo período em 2021, de aproximadamente 2,3 toneladas. Já Ipojuca informou que os resíduos chegaram, no início de fevereiro, em quantidade 20 vezes maior que o normal, mas que não houve novos registros desde então. Por isso, atribui a chegada às fortes chuvas. Em 1º de fevereiro, o volume chegou a 20m³.

Conhecedores dos mares, os pescadores afirmaram com veemência que o lixo reaparece quando obras de dragagem são iniciadas. Basicamente, o serviço consiste no desassoreamento e desobstrução dos berços de atracação, canais de acesso e bacias de evolução, para dar profundidade e facilitar a navegação de grandes navios no ancoradouro. Após 10 anos de pausa, nova dragagem foi feita no Porto do Recife em 22 de janeiro deste ano com investimento de R$ 28.387.413,54. 

O oceanógrafo Daniel Galvão explicou que a dragagem é um procedimento comum nos portos, e que não necessariamente é nocivo ao meio ambiente. “Não somos contra dragagem, é um procedimento normal nos portos. o que somos contra é que uma indústria milionária se sujeite a um estudo amador que não leve em consideração estar fazendo uma dragagem em um local cheio de lixo”, pontuou. Segundo ele, a correnteza, que normalmente vai do Recife para o Litoral Norte, nesta época, está em direção ao Litoral Sul.

Porto descartou relação com o problema

Ao Porto do Recife, os Bombeiros informaram que “não foram constatados indícios de que o lixo que chega às praias pernambucanas tem sua origem no local onde mergulhamos.” 

Por nota, o ancoradouro informou que uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) visitou a obra e opinou que a causa do aparecimento de lixo era um conjunto de fatores atípicos que aconteceram no verão, como chuva intensa nas cabeceiras dos rios e uma anomalia hidrológica que afetou correntes marítimas e ventos.

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