Outubro Rosa: "Debate sobre câncer de mama não acaba com o fim do tratamento", diz pernambucana homenageada
Jornalista pernambucana Kamila Nunes, de 33 anos, é uma das homenageadas da exposição "Coletivo Pink, por um Outubro além do Rosa", promovida pela Pfizer
A luta da jornalista pernambucana Kamila Nunes, de 33 anos, de desmistificar o câncer de mama e de levar informações para mais mulheres foi reconhecida pela farmacêutica Pfizer. A autora do livro “Aquilo Com C”, onde ela narra seu processo de tratamento da doença, é uma das homenageadas da iniciativa “Coletivo Pink, por um Outubro além do Rosa”, que ocupa o Parque Villa-Lobos, em São Paulo, até 22 de outubro.
Durante o evento de lançamento da exposição, a comunicadora falou ao JC sobre a necessidade de abordar o câncer também durante o tempo de remissão, quando ele já está controlado. “O processo de remissão é doloroso, porque não somos mais a mesma pessoa de antes e temos que conviver com efeitos perversos na pele, das medicações e do tratamento, a longo prazo”, disse.
“Eu venci mesmo o câncer, mas ainda estou em remissão. Faço exames e não tem nada. É uma tranquilidade ver que na mama não tem nódulo nenhum e uma luta diária ter medo de fazer exame, mas sempre fui muito de encarar”, continuou.
A jornalista começou a relatar seu dia a dia com o câncer em uma página no Instagram em 2021, chamada @kimioconka_. Depois, reuniu esses relatos no primeiro livro, lançado no ano passado. Agora, em outubro de 2023, Kamila pretende lançar seu segundo livro, intitulado “Efeito C”, onde ela conta detalhes sobre seu tratamento atual.
“Você sobrevive e a vida continua, mas tomo remédio que me dão muitos efeitos. Tomo dois comprimidos diariamente e uma injeção trimestral que deixa meus ovários com atividade suspensa. Não menstruo, é como se estivesse na menopausa”, revelou.
Ainda, conta sobre as mudanças que aconteceram em sua vida nesse período, desde a saída do seu antigo emprego, até a mudança de plano de saúde e os problemas que elas trouxeram: como a dificuldade em ter acesso a um medicamento que custa quase R$ 20 mil e a necessidade de esperar horas para ser atendida no Hospital do Câncer, que é público.
Confira outros detalhes na entrevista abaixo:
JC: O que estará no seu segundo livro?
Kamila Nunes: Muito se fala sobre o tratamento ser doloroso, tão difícil quanto a própria doença seria se não tivesse descoberto. Mas há uma continuidade também nos efeitos que você sente. Tomo dois comprimidos e uma injeção, e como os remédios são muito fortes, você vai sentindo ao longo do tempo. Esse segundo livro fala sobre a reconstrução da minha mama, que não foi tão fácil, deu errado, tive a rejeição da prótese e já fiz uma nova cirurgia.
JC: Como foi para a comunicadora virar a personagem de reportagens?
Kamila Nunes: Eu já fui várias vezes ao Hospital do Câncer fazer pauta e quando voltei para fazer o tratamento, pensei que nunca estaria lá como personagem. É uma sensação horrível. Você não quer estar lá, como pessoa jovem e repórter. Você gostaria mais de estar ali comunicando e sem esse envolvimento emocional. Tem um capítulo do livro que chorei muito ao reler, que foi do dia que eu esperei 8 horas para ser atendida e que entrei no banheiro e fiquei chorando, porque é muita gente e você vê que está todo mundo ali precisando.
JC: O Instagram foi criado para ajudar outras mulheres, mas ele também te ajudou?
Kamila Nunes: Também. A escrita para mim sempre foi um dom, algo que tinha facilidade mesmo antes de virar jornalista, então eu usava isso como um diário. Eu ia escrevendo antes daquilo sumir da minha cabeça para me lembrar. Até hoje fico relendo, como sobre o dia que eu tive que fazer um curativo sozinha e quase desmaiei em casa. Eu não lembrava disso.
JC: Como você vê tendo superado a doença e ainda ser reconhecida como alguém que está lutando para a conscientização?
Kamila Nunes: O resultado não era o objetivo, mas que bom que chegamos a esse reconhecimento, é muito gratificante. Eu venci mesmo o câncer, mas ainda estou em remissão. Faço exames e não tem nada. É uma tranquilidade ver que na mama não tem nódulo nenhum. É uma luta diária ter medo de fazer exame, mas sempre fui muito de encarar. Do mesmo jeito que encarei quando apareceu, continuo encarando os meus dias. E hoje aproveito muito mais o presente.
JC: Como essa vontade de viver mudou após o câncer?
Kamila Nunes: É dar importância ao que tem importância. Muitas vezes a gente dá importância a coisas pequenas, mas quando você tem um diagnóstico que ameaça sua vida, que é uma bomba relógio dentro de você, você passa a dar muito mais valor à segunda chance que teve. Já passei por várias coisas, mas tem que pensar em fazer valer esse futuro, que na verdade é também o que você está vivendo agora. Valorizar sua rede de apoio.
JC: Após a remissão, você pretende continuar com essa conscientização?
Kamila Nunes: A minha vida mudou. Nunca pensei, por exemplo, em fazer palestras. Hoje eu tenho história para contar. Me reinventei como profissional também. Acho que essa causa nunca vai se encerrar enquanto a gente não tiver esse acolhimento para todo mundo que precisa. É uma questão que só vem crescendo. Quando fui diagnosticada, eram esperados 66 mil casos no Brasil. Esse ano, está em 71 mil casos.