CÂNCER DE MAMA

Outubro Rosa: Pesquisa revela desconhecimento das mulheres sobre o câncer de mama no Recife e outras cidades

Resultado do estudo do instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), encomendado pela Pfizer, mostra que desinformação ainda circula sobre o câncer mais comum entre as mulheres

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Katarina Moraes

Publicado em 29/09/2023 às 16:05 | Atualizado em 29/09/2023 às 17:24
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Tipo mais comum entre as mulheres no Brasil, o câncer de mama tem tido um crescimento exponencial de casos no País. Contra a doença, a medicina já tem armas importantes, já que a chance de cura chega a até 95% com o diagnóstico precoce. Contudo, a desinformação ainda é um desafio, como prova uma pesquisa inédita do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), encomendada pela Pfizer.

O estudo mostrou que grande parte delas não sabe da necessidade da realização anual da mamografia a partir dos 40 anos. Para obtenção dos dados, foram entrevistadas 1.400 mulheres a partir de 20 anos, não diagnosticadas com os tumores e espalhadas pela cidade de São Paulo (SP) e pelas regiões metropolitanas do Recife (PE), de Porto Alegre (RS), de Belém (PA) e do Rio de Janeiro (RJ).

Os resultados foram apresentados durante coletiva de imprensa no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, na última quinta-feira (28). Eles apontaram que a maioria (63%) das consultadas respondeu, erroneamente, que o autoexame é a principal forma para detecção dos tumores. Mais preocupante, o índice subiu para 68% entre as entrevistadas com mais de 60 anos, público de maior risco.

“Descobrimos que o desafio que temos do diagnóstico precoce. A mamografia ainda não está clara como o principal método, o padrão ouro, para diagnóstico”, afirmou a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro. “O autoexame é importante para que a mulher se conheça, mas só detecta tumores maiores, acima de 1 cm. É importante desmistificar isso”, disse.

Ainda, 26% disse acreditar que, desde que não haja histórico da doença na família, o exame anual não é necessário para as mulheres com 40 anos ou mais. A mesma quantidade acha que só precisa fazer a mamografia quem tem mais de 55 anos ou está na menopausa - índice que subiu para 35% entre as entrevistas de Belém e do Recife.

Sociedades médicas brasileiras recomendam que a mamografia seja feita todos os anos para mulheres a partir dos 40 anos. Mulheres abaixo dessa idade devem fazê-la caso estejam com suspeita de hereditárias ou para complementar o diagnóstico, em caso de nódulos palpáveis e se o médico determinar esta necessidade.

“Quando se sabe que a paciente é de alto risco, com muitos casos de câncer na família ou portadora de uma mutação antes do desenvolvimento do câncer, temos diretrizes estabelecidas para começar ultrassom alternado com ressonância de mama aos 25 anos”, explicou a médica oncologista clínica Solange Sanches.

É o caso da cantora lírica Karen Stephanie, que não tinha histórico familiar e foi diagnosticada aos 27 anos em 2018. “Descobri o câncer através de um auto exame, sem querer. Estava tomando banho, deslizei um sabonete para baixo da axila, senti um caroço e percebi que não estava ali antes”, disse. Sobrevivente da doença, hoje ela alega: “existe vida com o câncer, apesar do câncer e depois do câncer".

Andre Velozo
Cantora lírica Karen Stephanie descobriu o câncer de mama aos 27 anos - Andre Velozo
Andre Velozo
Solange Sanches, médica oncologista clínica e coordenadora da equipe de mama do centro de referencia de tumores de mama do AC Camargo Câncer Center - Andre Velozo

MITOS E VERDADES

O estudo constatou que antigos mitos sobre a doença persistem no imaginário das mulheres. Entre eles, o uso do sutiã: 37% tem dúvidas sobre a relação do uso do bojo com o risco ao câncer de mama - o que é uma associação falsa.

A boa notícia é que tem perdido força a ideia de que a doença seja ligada às emoções ou à espiritualidade, já que somente 8% das entrevistadas atribuíram o aparecimento dos tumores malignos a esses aspectos. Em comparação, pesquisa feita no último ano pelo Ipec apontou que 14% das mulheres criam nisso. Contudo, a associação de elementos subjetivos com a doença é mais forte (15%) em mulheres com baixa escolaridade.

Em contrapartida, outros fatores importantes são ignorados. Boa parte das respostas apontou um desconhecimento sobre fatores de risco modificáveis que podem ser facilitadores para a proliferação do câncer. Por exemplo, 70% não identifica uma relação com o consumo de bebidas alcoólicas, e 58% com o excesso de peso.

Já em torno de 70% acha que a principal causa do câncer é a herança genética, o que também está errado, de acordo com Solange. "Só 10% dos casos estão ligados a um fator hereditário. São fatores preventivos manter um peso saudável, limitar a ingestão de álcool e praticar atividade física”, afirmou a coordenadora do centro de referência de tumores de mama do A.C. Camargo Cancer Center.

SAÚDE NEGLIGENCIADA

A ausência de conhecimento sobre o câncer de mama resulta em uma saúde negligenciada, segundo os dados. Isso porque somente 47% das mulheres entre 40 e 49 anos que foram entrevistadas fizeram mamografia nos últimos 18 meses. Entre as mulheres com mais de 60 anos, o percentual subiu para 54%, o que ainda preocupa.

A pandemia foi outra dificultadora para o acesso ao exame. Cerca de 13% das mulheres só retomaram os cuidados médicos em 2023, quando foi decretado o fim da emergência sanitária. Outras 21% voltaram no ano passado e 22% em 2021, após receberem a primeira dose da vacina da covid-19. O índice na RMR de mulheres eu estão até hoje sem a assistência foi o mais alto, com 9%.

Presidente e fundadora do Instituto Oncoguia, a psicóloga Luciana Rolts, também chamou atenção para a falta de igualdade na oncologia brasileira. “Tem muita gente que quer fazer, mas não tem acesso. A demora é perigosa”, colocou. ”Mesmo dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) a disponibilização do tratamento não é a mesma para toda mulher por causa de uma construção voltada para modelos de financiamento diferentes”, afirmou.

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