PATRIMÔNIO

Restaurante Zeppelin no Recife: superintendente do Iphan elogia análise contra projeto e promete resposta ágil

Projeto que pretende construir restaurante sobre prédios históricos do Bairro do Recife aguarda aval ou negativa do superintendente do órgão

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Katarina Moraes

Publicado em 28/02/2024 às 15:47 | Atualizado em 01/03/2024 às 15:21
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O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, Jacques Ribemboim, elogiou a análise feita pelo corpo técnico do órgão sobre o “restaurante zeppelin” no Bairro do Recife, mas afirmou que seu parecer ainda está em construção. É dele a palavra final se o projeto será aprovado ou não.

“A princípio, a análise técnica dos arquitetos foi muito bem feita”, disse, em entrevista ao JC. “Vou levar em consideração e verificar se vou acatar ou negar a decisão do nível técnico ou fazer a reforma”.

O projeto, negado com unanimidade entre os técnicos mesmo após recomendação da Prefeitura do Recife, pretende conectar a cobertura dos prédios de nº 23 da Av. Rio Branco, no Marco Zero, ao de trás, o de n° 58 da Av. Marquês de Olinda, por meio de um restaurante que remonta à viagem do dirigível à capital pernambucana em 1930.

Contudo, por estar inscrito em uma área tombada nacionalmente pela sua importância histórica e cultural, precisa passar pela aprovação do Iphan. Em parecer, contudo, técnicos do órgão constataram que a construção descaracterizaria os imóveis e o conjunto arquitetônico e urbanístico, por considerar que alterariam o gabarito (altura) e volumetria.

Ribemboim tem até 30 dias para enviar a análise - que, caso seja contrária à dos técnicos, terá de ser justificada - mas afirmou que pretende concluir até a próxima semana. Uma eventual negativa, entretanto, não significa que o zeppelin não ficará sobre os tetos. Isso porque os empreendedores podem apresentar um novo recurso, que então voltará a ser analisado pelo Iphan.

CAU-PE DEFENDE DERRUBADA

O Conselho de Arquitetos e Urbanistas em Pernambuco (CAU-PE) informou, nesta quarta-feira (28), ter encaminhado uma nota de apoio ao corpo técnico do Iphan pela análise contra o restaurante.

Através das redes sociais, o CAU-PE disse expressar apoio às manifestações já feitas por outras instituições, como o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-PE).

"Também apoio às manifestações feitas por outras instituições e entidades nessa mesma perspectiva e destaca que os profissionais do Iphan são aptos e devidamente qualificados, experientes e atuam com objetivo de analisar toda e quaisquer tipos de iniciativas que possam vir a causar algum risco ou dano ou impacto ao patrimônio histórico nacional brasileiro", afirmou.

PROJETO TEM AVAL DA PREFEITURA

O processo teve início ainda em setembro de 2023, mas teve a primeira negativa pelo Iphan ainda em outubro do último ano. Em janeiro, a Secretaria de Política Urbana e Licenciamento do Recife (Sepul), apresentou um ofício sendo favorável ao projeto, que é particular, desde que atendesse algumas orientações, como ser construído de forma "temporária".

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Iphan argumentou que construção descaracterizaria imóvel - REPRODUÇÃO

“A instalação proposta, o Zeppelin, pode ser inserida nas edificações preservadas garantidas as características que o classificarão como elemento desmontável, reversível, provisório, escultural, de intervenção artística, agregado ao patrimônio cultural material em decorrência da necessidade de torná-lo capaz de abrigar o centro cultural proposto”, defendeu a Prefeitura.

Então, a ideia foi novamente protocolada junto a esse ofício; mas o corpo técnico do Iphan, de forma unânime, foi mais uma vez contra.

ICOMOS, IAB E UFPE

Para a arquiteta e urbanista Natália Vieira, que é a coordenadora do Icomos em Pernambuco, organização associada à Unesco, este é projeto sem caráter temporário, apesar da justificativa da Prefeitura, e a efetivação dele representaria danos ao patrimônio histórico do Recife.

"Agregar valor a um edifício que não tem valor é uma coisa, pequenas extravagâncias podem ser bem vindas dependendo do local. Mas não uma intervenção dessa magnitude em um edifício de destaque, um dos principais do Bairro do Recife", disse.

Ainda, apontou que é preciso que discussões como essa tenham maior transparência e debate público na cidade. “Se não for alguém que vive de pesquisar o que está acontecendo em termos de preservação, como é o meu caso, ninguém fica sabendo. Todos os recifenses e pernambucanos deveriam estar sabendo para se colocarem”, afirmou.

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