PATRIMÔNIO

Projeto quer construir "restaurante zeppelin" em prédios do Bairro do Recife. Especialistas se posicionam contra

Projeto, que teve aprovação da Secretaria de Política Urbana e Licenciamento do Recife (Sepul), recebeu parecer negativo de técnicos do Iphan e foi criticado pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos)

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Katarina Moraes

Publicado em 26/02/2024 às 15:25 | Atualizado em 26/02/2024 às 16:39
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Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) querem derrubar um projeto que pretende construir um restaurante em forma de zeppelin na cobertura de dois prédios históricos do Bairro do Recife. A palavra final, contudo, ainda será dada pelo superindentente do órgão em Pernambuco, Jacques Alberto Ribemboim.

O empreendimento conectaria o de nº 23 da Av. Rio Branco, no Marco Zero, ao de trás, o de n° 58 da Av. Marquês de Olinda.

Em parecer, os técnicos constataram que o restaurante e as alterações pretendidas — como a substituição das esquadrias — descaracterizariam os imóveis e o conjunto arquitetônico e urbanístico, que é tombado a nível nacional, por considerar que alterariam o gabarito (altura) e volumetria deles. 

O processo teve início ainda em setembro de 2023, mas teve a primeira negativa pelo Iphan ainda em outubro do último ano. Em janeiro, a Secretaria de Política Urbana e Licenciamento do Recife (Sepul), apresentou um ofício sendo favorável ao projeto, que é particular, desde que atendesse algumas orientações, como ser construído de forma "temporária".

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Iphan argumentou que construção descaracterizaria imóvel - REPRODUÇÃO

“A instalação proposta, o Zeppelin, pode ser inserida nas edificações preservadas garantidas as características que o classificarão como elemento desmontável, reversível, provisório, escultural, de intervenção artística, agregado ao patrimônio cultural material em decorrência da necessidade de torná-lo capaz de abrigar o centro cultural proposto”, defendeu a Prefeitura.

Então, a ideia foi novamente protocolada junto a esse ofício; mas o corpo técnico do Iphan, de forma unânime, foi mais uma vez contra.

ESPECIALISTAS SÃO CONTRA

Após o caso, a arquiteta e urbanista Natália Vieira, que é a coordenadora do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) em Pernambuco, organização associada à Unesco, divulgou uma carta de apoio ao corpo técnico do Iphan-PE e em defesa ao conjunto tombado do Bairro do Recife.

“Reiteramos nosso incondicional apoio à equipe técnica do Iphan-PE, que tem agido de forma coerente com a atribuição que lhe cabe no sentido de zelar pelo cumprimento das orientações para a preservação do conjunto tombado do Bairro do Recife que conforma uma paisagem singular”.

Ao JC, ela defende que este é um projeto sem caráter temporário e que a efetivação dele representaria danos ao patrimônio histórico do Recife. "Agregar valor a um edifício que não tem valor é uma coisa, pequenas extravagâncias podem ser bem vindas dependendo do local. Mas não uma intervenção dessa magnitude em um edifício de destaque, um dos principais do Bairro do Recife", disse.

Ainda, apontou que é preciso que discussões como essa tenham maior transparência e debate público na cidade. “Se não for alguém que vive de pesquisar o que está acontecendo em termos de preservação, como é o meu caso, ninguém fica sabendo. Todos os recifenses e pernambucanos deveriam estar sabendo para se colocarem”, afirmou.

A manifestação foi endossada pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-PE).

 
 
 
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