CORONAVÍRUS

Bolsonaro sugere que apoiadores invadam hospitais nos estados para filmar oferta de leitos

"Seria bom você fazer, na ponta da linha, se tem um hospital de campanha aí perto de você, um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não", disse Bolsonaro

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Publicado em 11/06/2020 às 21:56 | Atualizado em 11/06/2020 às 23:46
REPRODUÇÃO DE VÍDEO
O presidente fez o pedido aos seguidores nesta quinta-feira (11), em live - FOTO: REPRODUÇÃO DE VÍDEO

Com agências

Atualizada às 23h26

No dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 40 mil mortes e 800 mil infectados por coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sugeriu aos seus seguidores que entrem em hospitais de campanha e hospitais públicos e filmem o interior para averiguar se os leitos estão livres ou ocupados. Em transmissão ao vivo em sua página no Facebook, nesta quinta-feira (11), ele afirmou que há "ganho político" em aumento do número de óbitos.

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>> "Eu mesmo mostro para ele", diz Flávio Dino após Bolsonaro sugerir que seguidores entrem em hospitais para filmar oferta de leitos

"Pode ser que eu esteja equivocado, mas na totalidade ou em grande parte ninguém perdeu a vida por falta de respirador ou leito de UTI. Pode ser que tenha acontecido um caso ou outro. Seria bom você fazer, na ponta da linha, se tem um hospital de campanha aí perto de você, um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não", disse Bolsonaro.

Bolsonaro orientou que, caso as imagens demonstrem alguma anormalidade, sejam enviadas ao governo federal para que a Polícia Federal ou Agência Brasileira de Inteligência (Abin) possam investigar. 

De acordo com o presidente, o governo está recebendo relatos de mortes por covid-19 de pessoas que já tinham problemas sérios de saúde e a família não sabia que havia contraído a doença. "Isso não é uma pessoa ou outra. São dezenas de casos por dia que chegam nesse sentido. Não sei o que acontece, o que querem ganhar com isso. Tem um ganho político, só pode ser isso, aproveitando as pessoas que falecem para ter um ganho político e culpar o governo federal", afirmou.

Em março, Bolsonaro tinha acusado governadores de usarem mortes por coronavírus para arrecadar recursos federais.


Em reação, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) manifestou-se no Twitter, dizendo que ele mesmo poderia mostrar as unidades de saúde do estado ao mandatário.

"Se Bolsonaro não fosse essa pessoa despreparada e desesperada, saberia que não precisa mandar invadir hospital. Basta verificar os boletins que os governos estaduais publicam com o número de leitos ocupados. E se ele quiser visitar os nossos hospitais, eu mesmo mostro para ele", disse Dino.

O governador também disse que o presidente "não pode mandar invadir hospital e filmar locais onde estão pacientes e profissionais trabalhando. E também não pode mandar extraoficialmente nada para Polícia Federal. Se manda, tem que ser por ofício assinado. E Abin não pode investigar"

Dados sobre o coronavírus no Brasil

Sobre o imbróglio envolvendo a divulgação dos números da pandemia no Brasil pelo Ministério da Saúde, Bolsonaro negou que o governo tenha tentado esconder dados. Na semana passada, os boletins diários deixaram de informar o acumulado de mortes e de casos confirmados de covid-19, assim como a quantidade de óbitos em investigação. Os dados completos voltaram a ser exibidos após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandar a pasta recolocar no ar.

"Começaram a nos comparar com Venezuela, Coreia do Norte, dizendo que queríamos esconder números. Ninguém quer esconder números, não tem problema nenhum. A gente lamenta as mortes. Se forem dez mortes, a gente bota as dez. Se forem mil, botamos mil", comentou Bolsonaro durante a live.

O Brasil ultrapassou, nesta quinta-feira (11), a marca de 40 mil mortes por coronavírus. O balanço divulgado pelo Ministério da Saúde do início da noite apontou 1.240 novos óbitos e 30.412 novos casos de covid-19 nas últimas 24h. Com esses acréscimos às estatísticas, o País chegou a 40.919 falecimentos em função da pandemia do novo coronavírus e 802.828 infectados. Há ainda 416.314 pessoas em observação e 345.595 recuperadas.

Hidroxicloroquina e ivermectina 

Na transmissão, o presidente também voltou a falar sobre hidroxicloroquina. Desta vez, dizendo que a ivermectina, outro medicamento cuja ação contra a covid-19 não tem comprovação científica, pode ser até melhor no combate à doença.

"De vez em quando alguém ainda fala que não pode usar a hidroxicloroquina porque não foi comprovado cientificamente. Não foi. A ivermectina, não é isso? O Marcos Pontes, o nosso ministro da Ciência e Tecnologia, tem testado com protocolo da Anvisa em alguns hospitais e tem dado resultado também. Eu acho que o resultado é até melhor que a cloroquina porque mata os vermes todos e combate a expansão do vírus", disse.

Cassação da chapa Bolsonaro-Mourão

Na live, Bolsonaro afirmou que as ações que pedem a cassação de sua chapa com Hamilton Mourão não têm "cabimento" e são tentativas de "querer decidir no tapetão". "Realmente é uma tentativa ali, por parte desses partidos, de querer decidir no tapetão. Logicamente a gente fica preocupado, mas não tem cabimento prosperar uma ação nesse sentido. Não existe, com todo respeito ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que tem a obrigação de apoiar as coisas. No meu entender deveria ser arquivado de ofício essa questão", disse o presidente.

Na última terça-feira (9), o TSE adiou a conclusão do julgamento de duas das ações que pedem a cassação da chapa Bolsonaro e Mourão nas eleições presidenciais de 2018. O ministro Alexandre de Moraes pediu vista (mais tempo para analisar o processo). O placar terminou em 3 votos a favor e 2 contra a reabertura de prazo para produção de provas no processo.

As ações tratam de ataques cibernéticos a um grupo de Facebook que teria favorecido Bolsonaro. Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL) alegam que, durante a campanha, o grupo do Facebook "Mulheres Unidas contra Bolsonaro", que reunia mais de 2,7 milhões de pessoas, sofreu ataque virtual que alterou o conteúdo da página, incluindo o nome, que mudou para "Mulheres COM Bolsonaro #17", e isso teria beneficiado a imagem de Bolsonaro, então candidato.

Em relação ao placar, Bolsonaro disse que aqueles que votaram pela continuidade do processo não necessariamente votariam pela cassação da chapa. Em seguida, no entanto, o presidente voltou atrás. "Se bem que eu vi um ministro falando que se descobrisse ligação desse hacker comigo, seria passível de cassação da chave "

Na transmissão, Filipe G. Martin, assessor internacional do presidente, afirmou que mesmo se o hacker fosse um apoiador de Bolsonaro, isso não seria responsabilidade do presidente."

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