Divergências

Decisão do PT sobre frente de oposição a Bolsonaro divide opiniões no PSB

Recente resolução socialista leva parte do partido a acreditar em reação a falas de Lula. Outra parte da sigla duvida dessa possibilidade

Renata Monteiro
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Publicado em 15/06/2020 às 21:05 | Atualizado em 15/06/2020 às 21:43
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Frente da qual o PSB faz parte é composta por siglas de oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro - FOTO: Foto: Divulgação

Membro de um grupo de partidos que se posiciona contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o PSB divulgou, na última semana, uma resolução na qual defende a formação de uma “amplíssima” frente em defesa da democracia no País e diz estar engajado no impeachment imediato do militar da reserva. O documento foi formulado pelos socialistas durante uma videoconferência que contou com a participação de vários quadros da legenda, entre eles o seu vice-presidente nacional, governador Paulo Câmara.

A nota socialista, porém, é interpretada de maneiras distintas no seio da agremiação. Para uma parte do partido, o texto poderia ser visto como uma reação às recentes declarações do ex-presidente Lula, que afirmou ser “impossível” a criação de uma frente partidária no Brasil sem objetivos eleitorais, fato que impediria o PT de participar da iniciativa. Petistas como o governador do Ceará Camilo Santana, porém, discordam de Lula e dizem que a sigla deveria marcar posição e fazer parte do movimento.

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“O PT tem em seu histórico uma política de hegemonia. Em todas as situações, tudo tem que gravitar em torno do PT. O partido criticou nosso pedido de impeachment, mas depois protocolou seu próprio pedido com o PCdoB e o Psol. Nesse momento nós estamos fazendo um debate contra as ameaças à democracia brasileira, essa é a cultura do PSB, que sempre apostou na construção de frentes, nunca foi do isolacionismo. Isso é o que deve unir o povo brasileiro”, pontuou o deputado federal Danilo Cabral (PSB).

Em Pernambuco, o PT e o PSB são aliados. Nas eleições de 2018, em favor de uma aliança nacional entre os dois partidos, o nome da agora deputada federal Marília Arraes ao governo do Estado foi rifado pela Executiva Nacional petista. A neta de Miguel Arraes quer, agora, concorrer à Prefeitura do Recife e já recebeu vários acenos positivos da cúpula da sigla, que divulgou, em março deste ano, uma resolução que apontava para o lançamento de candidaturas em todas as capitais do Nordeste.

Na visão de Danilo, a decisão do PT de resolver lançar candidatos em tantas cidades importantes demonstraria pouca disposição para o diálogo com seus aliados. “Pelo que estou vendo, é o diretório estadual do partido que deve decidir sobre essa questão (candidatura de Marília). De todo modo, o fato de o PT colocar candidaturas em todas as capitais cria um embaraço para a construção de novas alianças. Mas não vejo problema na candidatura dela. Essa não seria a primeira vez que o PSB iria concorrer com o PT em Pernambuco”, declarou.

O deputado federal Tadeu Alencar (PSB), por sua vez, disse que o partido não precisaria usar uma resolução interna para atingir o PT. “Esse documento propõe ideias para enfrentar o projeto de poder autoritário que está em curso. Entre os pontos da resolução, estão a política econômica, a reforma da Previdência, a reforma da liberdade econômica, o desmonte das políticas ambientais, a questão da demarcação de terras indígenas, do desmatamento, além dos ataques recorrentes à democracia. Esse foi o quadro que levou o PSB a tomar várias atitudes em relação ao governo federal, como propor a abertura de uma CPI e encaminhar um processo de impeachment à Câmara, por exemplo. Nós não faríamos da nossa relação com o PT a razão de ser de uma posição política da Executiva Nacional do partido. Nós estamos tratando de coisas que vão muito além de qualquer preocupação de ordem eleitoral ou partidária”, afirmou o parlamentar.

Divergências internas

O PSB está ao lado do PDT, PV, Rede e Cidadania na frente partidária a favor da democracia e contra ações do governo Bolsonaro. No grupo, no entanto, também não é possível falar em unanimidade. Presidente estadual do Cidadania, o deputado federal Daniel Coelho disse que a bancada federal da agremiação foi contra sua entrada no movimento.

“Ninguém deve obrigar forças políticas a fazerem parte de uma frente. É possível até votar em conjunto, ter posições que sejam iguais, mas necessariamente integrar uma frente é uma decisão que cabe a cada partido. Eu acho que se força uma barra quando se tenta criar uma frente comum com partidos que têm visões muito diferentes. Qual a pauta em comum? Esse grupo, por exemplo, foi criado com a pauta do ‘Impeachment Já’, por isso a bancada do Cidadania não quis participar, porque é contra um impeachment neste momento”, cravou Daniel, destacando que a decisão de entrada na frente foi do presidente nacional da sigla, Roberto Freire.

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