Atualizada às 19h55
A pandemia do novo coronavírus já dura cerca de quatro meses no Brasil. Depois de "cancelar" praticamente todo o ano de 2020, a crise sanitária sem precedentes começa a mirar os grandes eventos do ano que está por vir. Nesta sexta-feira (24), a cidade de São Paulo anunciou oficialmente o adiamento do Carnaval 2021, remarcando a festa para o próximo mês de julho. No mesmo dia, a vereadora Michele Collins (PP) entrou com pedido a prefeitura do Recife, por meio de requerimento, para que o Carnaval do Recife também seja cancelado por conta da pandemia de covid-19.
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A pauta também deve ir ao plenário nos próximos dias e a parlamentar acredita que terá apoio dos seus pares. “É uma matéria muito importante. Não podemos aglomerar em um momento em que a saúde está em risco. Não podemos pagar para ver. Pernambuco já passa dos 80 mil casos confirmados”, disse. Em entrevista ao Jornal do Commercio, Collins reforçou que a expectativa é de que o pedido seja aprovado.
O Carnaval é a maior festa do calendário recifense. Os dias de Momo mexem com toda a cadeia econômica da cidade - de vendedores ambulantes e artistas até o turismo. Para cancelar o Carnaval, também é preciso pensar nas pessoas que dependem desta festa para obter renda. Segundo a vereadora, uma saída é prover um auxílio para estes profissionais. “Estamos entrando também com um pedido de auxílio às pessoas que trabalham no carnaval como artistas, empreendedores, do ramo da alimentação e turismo para ajudá-los nesta situação”, esclareceu.
A vereadora espera que os programas de auxílio para trabalhadores informais e profissionais da cultura, já lançados durante a pandemia, sejam estendidos aos profissionais que dependem do Carnaval para a geração de renda. "A gente espera que esses programas sejam reforçados para que haja um plano de assistências para essas pessoas. O Recife é uma referência no Carnaval para o Brasil e para o mundo, mas o momento é de solidariedade, de compreensão, de dar as mãos e ajudar essas pessoas a passar por esse momento", acrescentou.
O pedido de Michele Collins é para que o evento seja cancelado. Sobre um possível adiamento, ela afirmou ao JC que essa decisão deve ser tomada em acordo com os avanços da ciência. "Eu entendo que enquanto não houver uma vacina ou um tratamento específico (para a covid-19), deve ser evitado, principalmente esse (o Carnaval) que reúne milhões de pessoas. Deve ser bem analisado, bem pensado, é uma questão de saúde pública. Ver qual o melhor caminho. O ideal é que haja segurança para que as pessoas estejam reunidas a qualquer tempo", argumentou.
Ponto de vista epidemiológico
A iniciativa da vereadora Michele Collins é, a princípio, correta dentro da visão sanitária. "Epidemiologicamente pensando, na visão sanitária, a vereadora está correta", disse o cientista do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA) e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jones Albuquerque.
Em 2021, o Carnaval acontece no mês de fevereiro. De acordo com as projeções do LIKA, neste período, se ainda não houver vacina, Pernambuco poderá estar contabilizando novos casos e óbitos causados pela covid-19. "Verdade seja dita, os óbitos estão caindo, mas muito pouquinho. Assumindo que a gente vai continuar nesse ritmo, vamos chegar perto dos patamares que estávamos quando tivemos o Carnaval desse ano (com baixos números de casos e mortes), apenas em junho. Então fevereiro não é a hora para essa festa", afirmou. "A não ser que a gente tenha as promissoras vacinas e até dezembro esteja começando a vacinar, podemos até usar o Carnaval como incentivo sanitário para vacinar. Seria excelente, 'se vacine para brincar o Carnaval'. Mas no estado que estamos hoje, iria junto com a vereadora", completou.
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