Entrevista

No Recife, ''estamos à margem'', diz Luciano Bivar, presidente do PSL, sobre eleições municipais

Deputado federal e dirigente partidário, Bivar falou sobre sua relação com o presidente Jair Bolsonaro, sobre a formação de um novo bloco partidário a Câmara e comentou sobre a disputa na capital pernambucana

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 25/07/2020 às 14:55 | Atualizado em 27/07/2020 às 17:19
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Luciano Bivar é presidente do União Brasil - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Independência. Essa foi uma das palavras mais usadas pelo presidente nacional do PSL, o deputado federal pernambucano Luciano Bivar, durante entrevista concedida à repórter Renata Monteiro na última sexta-feira (24), sobretudo quando referia-se ao bloco firmado na semana passada pelo seu partido com o PTB e o Pros na Câmara dos Deputados. O grupo, disse Bivar, pretende conduzir suas votações em conjunto, sem colocar-se necessariamente contra ou a favor dos posicionamentos do governo federal. A relação com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com quem está rompido politicamente, também foi abordada por Bivar, que se apressou em dizer que, apesar de haver especulações a esse respeito, não estão se reaproximando. Sobre a eleição majoritária do Recife deste ano, apesar de o PSL possuir um percentual considerável do tempo de TV disponível, o parlamentar afirmou não estar envolvido com as articulações para a disputa e que não há martelo batido a respeito do candidato que a sigla apoiará.

JORNAL DO COMMERCIO – O PSL, o PTB e o Pros uniram-se em um bloco na Câmara dos Deputados. Como pretendem atuar no Parlamento? Uma candidatura à presidência da Casa pode surgir desse grupo?

LUCIANO BIVAR – O PSL está liderando esse bloco parlamentar, um bloco independente, que não está vinculado ao lançamento de um candidato à presidência da Câmara. É um bloco representativo, e há mais dois outros partidos que querem juntar-se a nós. Então, em tese, a gente pode chegar a ter cerca de 90 deputados. Esse é um número significativo, e, no futuro, quando se começar a discutir sobre a sucessão da Mesa Diretora, eu acho que esse grupo estará habilitado a participar do debate. Quanto à nossa atuação, o bloco é totalmente independente, ele não é nem pró nem contra o governo. Precisamos, efetivamente, ter esse sentimento de independência para que a gente possa não macular nossos votos, como se fosse um processo de atrelamento dogmático ao governo.

JC – O senhor disputaria a presidência da Câmara?

BIVAR – Acho que esse não é momento da gente discutir isso, mas é um sentimento do bloco ter um candidato à presidência da Câmara. O bloco com certeza vai querer ser protagonista nessa sucessão. Agora tudo isso passa pelo crivo do atual presidente da Câmara e pelo entendimento da oposição de que nós somos independentes. Eu acho que a gente tem que preservar, antes de tudo, o parlamentarismo. Isso que é fundamental. Se a gente não estiver com as instituições desse País funcionando absolutamente livres e respeitadas, a gente não chega às nossas decisões sem que elas estejam comprometidas com algum viés ideológico. O que a gente procura é que a independência do bloco não venha a comprometer as nossas votações. Queremos que o bloco represente o que seja melhor para o País. Não temos nenhum viés, nem direita nem esquerda, para a gente agir de forma dogmática. É uma nova carta, eu acho uma coisa até que tem origem histórica, no racionalismo do século 16, e hoje eu acho que a gente pode implementar na Câmara alguma coisa que possibilite que as pessoas saiam da sua obtusidade ideológica para abrir escala para novos pensamentos, para o desenvolvimento do País. Tenho muita esperança de que nesse novo bloco a gente possa alcançar isso. É uma coisa difícil de se perceber num momento como hoje, quando as coisas são tão radicalizadas entre o que se chama direita e esquerda.

JC – Recentemente comentou-se muito sobre uma possível reaproximação entre o senhor e o presidente Jair Bolsonaro. Como anda de fato a relação com o chefe do executivo?

BIVAR – Nós não somos um movimento temporário, somos um sentimento que está dentro do partido há mais de 20 anos. Um sentimento que posso dizer até que resgata os ideais do Iluminismo, do racionalismo do século 16. Eu acho que é preciso que as pessoas comecem a gerir pelas luzes da razão, para darem contribuição ao progresso intelectual, social e moral. Esse que é o grande objetivo. No momento em que o presidente ligou para mim, ele não ligou para mim. Ele ligou para o Partido Social Liberal. Ele ligou para uma parte significativa de parlamentares que ele quer do seu lado para fazer valer a viabilidade e a gestão do seu governo. Mas aproximação conosco não tem, porque nós realmente estamos em uma linha absolutamente independente, e isso faz com que uma simples ligação não signifique que houve uma reaproximação dogmática com o governo.

JC – E quanto à ala bolsonarista no PSL? Há tendência de apaziguamento com esse grupo ou o partido continuará punindo os dissidentes?

BIVAR – Uma das coisas que a gente preserva é o estado de direito, a legislação, as instituições. Cada um desses deputados está lá representando uma parcela da população, e a gente tem que obedecer os ditames da lei para que possamos puni-los. Alguns já estão com seus direitos partidários suspensos, chegam a ser 12 deputados. Não existe na ala da raiz do PSL nenhuma dissidência, somos todos irmanados para os objetivos que nós queremos. Aqueles que hoje são contra, são contra porque optaram por uma linha diferente do PSL, e, no momento oportuno, a lei por si só vai fazer com que eles se afastem do partido. Mas, no momento, não se permite essa ruptura sem o processo formal absolutamente definido para que eles saiam do partido. O PSL é um rolo compressor muito bem nutrido de suas ideias, de saber o que quer, sempre em defesa do País. Nós não estamos ali para brigar, ser contra por ser contra.

JC – Sobre as eleições deste ano, qual será a estratégia do PSL no Recife? Existe a possibilidade de apoio à candidatura do candidato do PSB, o deputado federal João Campos?

BIVAR – O PSL, como não é player nem protagonista para concorrer à prefeitura, está fora das tratativas, elas estão passando à margem da nossa conversa, porque nós não somos partícipes da concorrência. Como o partido nunca foi muito representativo aqui na cidade, nós nos voltamos muito para o campo nacional, onde a nossa representação é significativa. Eu não conheço nem candidaturas postas definitivamente aqui. Eu não sei se a "aliança popular" será desfeita ou realinhada. Não sei também se os candidatos da oposição vão se unir ou sair sozinhos. Eu não tenho nem como pedir que se acelere o processo porque não depende de nós, estamos à margem dele.

JC – Mas o PSL, com o tempo de propaganda tão significativo, não foi sequer procurado pelos partidos?

BIVAR – Há um assuntamento relativo, por causa do nosso tempo de TV, mas não há uma linha política com a qual a gente possa contribuir com determinada densidade de votos. Eu acho que no momento adequado, no dia, a gente vai chegar lá, estamos nos organizando para isso. Nossos quadros são restritos no Recife, e isso é o que deixa a gente à margem dessas discussões.

JC – Nas eleições de 2018, o PSL teve um crescimento significativo no Congresso, maior do que o de qualquer outro partido. A sigla está preocupada em manter esse desempenho em 2020?

BIVAR – Sim. Tem estados como São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul em que estamos bem representativos. No Nordeste, o PSL sofre mais porque as coisas aqui sempre foram muito fatiadas entre os governos e a oposição, dois grupos. Então é difícil um terceiro partido ter uma participação, tanto é que a gente não tem nem quadro para concorrer à Prefeitura do Recife. Mas tudo muda, alguns partidos que eram grandes hoje são minúsculos. O PSL é um partido com prazo indeterminado de validação, e a gente tem certeza que, mais cedo do que nunca, a gente vai trazer para o público as nossas ideias, porque elas são absolutamente desconhecidas. As coisas funcionam aqui muito no assistencialismo, então a parte ideológica, doutrinária, nunca foi relevante no Nordeste.

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